sábado, 9 de junho de 2007

LAPA DE TODAS AS CLASSES E RITMOS

Sexta-feira no Rio de Janeiro não precisa pensar muito no que fazer... Se de repente você está em casa e resolve fazer algo, é só chegar na Lapa. Programa de lazer para todos os gostos. Chegando cedo, antes das oito horas já é possível encontrar um grupo ainda tímido se preparando para agitar a região. Foi assim nesta sexta-feira: eles se concentraram embaixo dos arcos, perto da Fundição Progresso, e começaram a fazer sua apresentação empolgando em poucos minutos a multidão que começou a seguir o grupo do RIO MARACATU. Antes mesmo que atravessassem a rua em direção a sala Cecília Meireles, seguindo em direção à Rua Joaquim Silva, a quantidade de pessoas que já acompanhava o grupo prenunciava uma noite cheia de atrações no reduto da maladragem carioca.

Antes de caminharmos com o RIO MARACATU em direção à Rua Joaquim Silva, resistência cultural da Lapa, outro ponto de parada obrigatória são os depósitos de bebidas que ficam ao lado da Sala Cecília Meireles. Neste local, centenas de pessoas se aglomeram para comprarem bebidas mais baratas do que nos ambulantes, que também compram bebidas ali. Os tradicionais latões de cerveja podem ser encontrados ao preço de dois reais, enquanto a latinha de ITAIPAVA pode ser comprada por um real. Já abastecidos com bebida mais barata, seguimos então para a Joaquim Silva, onde as pessoas se esbarram em um maravilhoso mar de gente. Impossível passar por ali e não encontrar alguma personalidade. Ontem "esbarrei" com Negu Tema, MC das antigas do Hip Hop carioca.




O RIO MARACATU seguiu até os fundos do circo voador com a multidão que o acompanhava, parando em frente a Fundição Progresso, onde se encontrou com outra multidão de fãs do grupo LOS HERMANOS que já aguardava do lado de fora em uma enorme fila para entrar. Com a garganta seca, andando um pouco, é possível escolher um bar de acordo com o preço, o atendimento, ou até mesmo pelas pessoas que se reúnem e frequentam esses espaços tradicionais da boêmia carioca. Havia sido convidado há alguns dias atrás para o aniversário de um amigo em um bar perto da sinuca da Lapa, e foi lá que encontrei ontem com alguns "amigos da sabedoria".




Ontem não parei na sinuca, pois tinha outro destino, mas ali é um outro lugar que quem vai à Lapa não pode deixar de conhecer. Já que não tenho fotos da sinuca da Lapa de ontem, resolvi colocar outra foto, feita essa semana. A foto é de uma "parceira" de sinuca, que não se arrependeu da parceria.






Na portaria dos fundos do Circo Voador onde acontecia o evento EU AMO BAILE FUNK, encontrei o MC Geléia, um dos mais antigos MC'S do Funk carioca. Conheço Geléia há muitos anos, e fomos parceiros em muitas coisas, chegando inclusive a fazer parte de um grupo político junto comigo, mas essa é outra história... O show do Geléia e de outros irmãos do Funk foi muito bom. A única coisa que fiquei pensando, e que me incomoda, é que o Funk que era só da favela, já dominou o "mercado", e agora as pessoas pagam caro para ir à um baile. No caso do Circo Voador, nada popular, os ingressos mais baratos, de estudante, estavam quinze reais.






Mc Geléia, convidado do MC PÉ DE PANO no Circo Voador.




Os bailes Funk e Hip Hop sempre foram uma boa oportunidade não só de lazer, mas também de encontro e articulações político-sociais. São momentos de troca de idéias, experiências e contatos além, é óbvio, de possibilidade de encontros para aqueles que estão solteiros. E por falar em encontros e baile Hip Hop, nesta segunda-feira, véspera do dia dos namorados, o DIÁRIO ANDRÉ FERNANDES está apoiando a SESSÃO HIP HOP, festa sob o comando do MC Eltosh(foto), que estará acontecendo na FEBARJ, outro tradicional espaço da Lapa.



DIA 11 DE JUNHO DE 2007 - SEGUNDA-FEIRA - 22HS


SESSÃO HIP HOP Edição especial!
- Clássica festa do Hip Hop Carioca com:


- MC Eltosh que convida MC’s Marechal e Wellf.


- Residentes:DJ’s: Saci + Pachú + LP


-LOCAL: FEBARJ - LAPA


R$ 10,00 – Normal.
R$ 8,00 - Com flyer.


Lista amiga somente R$ 6,00 - Basta enviar e-mail para contato@andrefernandes.jor.br ou colocar seu nome na comunidade da SESSÃO HIP HOP.






quinta-feira, 7 de junho de 2007

PRIMEIRO EXILADO DA VIOLÊNCIA URBANA EM NOSSO BLOG!

Conheci o Sociólogo Caio Ferraz logo depois da Chacina que abalou o mundo em Vigário Geral. Estivemos juntos em vários momentos, culminando com o convite que me fez, quando já estava no exílio, para assumir a direção da Casa da Paz em Vigário Geral. Também fui ameaçado, como Caio, porém nossos caminhos foram diferentes. Já fazem mais de dez anos que tudo isso aconteceu e o mundo deu muitas voltas. O que não mudou foi o estado de miséria de nossas favelas, bem como o descaso do governo e das elites que dominam esse país. Acabo de receber o texto abaixo, do exílio: Caio Ferraz, primeiro exilado da violência urbana, enviou-o para o nosso blog. Aqui é só a ponta do iceberg do que está por vir em seu livro que será lançado em breve.



Quem quiser interagir poderá fazer através da comunidade do CAIO FERRAZ no orkut.






ELITE ESTERILIZADA



Infelizmente é trágico reconhecer que o seqüestro e toda forma que o sustenta — assaltos, drogas, armas, corrupção policial e falência do sistema judiciário — não é só mais uma modalidade de crime, mas sim a revanche de jovens que sabem que aqueles que nascem e crescem na periferia dos grandes centros urbanos estão fadados ao subemprego e a humilhação de não terem o que comer e onde morar.

Os seqüestros assustam os ricos porque eles estão sentindo na pele a merda que fizeram ao tornar o Brasil um país industrializado, mas que em contrapartida, também o transformou no país campeão em concentracão de renda, fome, analfabetismo, miséria e num dos mais corruptos do planeta. É com a mistura de todos esses ingredientes que temos o fermento necessário para a explosão da violência.

Somos uma nação imersa numa infertilidade histórica que dura mais de 500 anos. Nossa formação remonta um verdadeiro aborto social. Iniciamos nossa cópula com a compra de milhões de escravos que serviram como mão-de-obra forçada até 1888; do estupro e massacre dos cerca de 5 milhões de índios que aqui viviam por volta de 1500 e da mistura de portugueses degredados. Enquanto essa orgia deu os frutos necessários para a manutenção da pompa e do desperdício de uma elite que vive ainda hoje na farra com o dinheiro do povo, os menos privilegiados foram e continuam sendo considerados os únicos culpados por todas as desgraças sociais existentes.

Dizem que o problema da violência é a pobreza. Concordo: pobreza de espírito aliada a falta de solidariedade, humanidade, fraternidade e acima de tudo de sentido de nacionalidade, mas não por parte dos pobres e sim por parte dessa elite acéfala e autoritária.

Alguns anos atrás foi Fernando Ramos da Silva, o finado Pixote. Ontem foi Fernadinho Beira-Mar. Hoje é a vez de Fernando Dutra Pinto. Três jovens, três nomes em comum inseridos numa história de final trágico como em tantos outros milhares de casos de jovens rejeitados por um país que tem uma elite esterilizada. Coincidentemente foi do seio dessa elite que surgiram dois abortos intelectuais chamados Fernando: um como presidente seqüestrou nossa poupança e o outro seqüestra diariamente todas as nossas formas de energia, deixando-nos numa caverna cheia de fantasmas chamados Sérgio Naya, Celso Pitta, Maluf, ACM, Lalau, Luis Estevão, Jader Barbalho e toda essa corja de gravata.

Enquanto “os filhos dessa pátria mãe gentil” continuarem sendo gerados numa relação onde quem goza são os ricos, nós pobres seremos sempre os filhos indesejados, os quais foram feitos na hora de um pileque. Talvez seja por isso que a elite tenha tanto nojo da gente.

A elite brasileira se comporta como o pai que sempre esteve ausente e que nunca reconheceu o filho que tinha. Somente agora depois de um exame de DNA — traduzindo: Desespero, Negligência e Aflição — vê-se obrigada a compensar o tempo perdido. Mas ao invés de dar todo o suporte moral, econômico e social a seus filhos, acena com programinhas do tipo Comunidade Solidária, Viva Rio, Criança Esperança, Quota Racial. Com esses paliativos pretendem reparar a histórica divida de abandono de seus filhos. Não é pão e circo que queremos, mas sim amor, carinho, respeito e uma condição mais digna de vida. Só assim nós poderemos ser filhos de uma pátria, não de uma nação estuprada, assaltada, humilhada, rejeitada e que apanha como puta.

Ou nossa elite chega a idade fértil e faz brotar um novo Brasil, onde seus filhos terão educação de qualidade, saúde, saneamento básico, empregos com salários dignos, moradia, acesso à justiça de forma igualitária, reforma agrária, distribuição de renda com taxação das grandes fortunas... ou então a fábrica de fazer bandidos continuará em pleno vapor gerando filhos indesejados que mancharão com o sangue da vergonha nossa ufanista bandeira que ironicamente cunha a frase: “Ordem e Progresso”.

Caio Ferraz*

*Sociólogo, 38 anos, nascido e criado na favela de Vigário Geral, RJ, foi o fundador da Casa da Paz de Vigário Geral. Recebeu, entre outros, o Prêmio Severo Gomes de Direitos Humanos da Comissão Teotônio Vilela de Direitos Humanos e do Núcleo de Estudos da Violência da USP, em 1995. Encontra-se exilado nos EUA desde dezembro de 1995.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Não deu na GRANDE mídia...

Mais de mil mortes em menos de seis meses, vítimas da violência urbana, de acordo como o RIOBODYCOUNT. E como estamos no pré-PAN, a mídia não toca nesse assunto. Melhor para as autoridades colocar debaixo do tapete, e maquiar a cidade com a Força de Segurança Nacional, que inclusive, faz a segurança da Vila do PAN para evitar uma invasão dos que estão desalojados na região.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

HUMOR OU RUMOR, SEJA COMO FOR: VIVA!!!

Estamos em processo de estruturação de um novo site da ANF - AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DAS FAVELAS. Os artigos e matérias antigos serão colocados também em nosso novo site. Por enquanto, quem quiser visualizar alguns desses textos, poderá fazer no seguinte endereço:
O texto abaixo foi escrito para o dia do lançamento do primeiro site da ANF, pelo Sociólogo Caio Ferraz.
Ao longo dos anos tenho desenvolvido uma percepção muito particular sobre a vida. Viver é um jogo que se joga em duas direções: na primeira, se vive do humor; na segunda, do rumor.
Quão estranho, mas familiar, pode soar essa afirmação. Duas palavras que por uma única letra mudam totalmente de sentido. Peça licença a gramática e escreva cada palavra sem a primeira letra, o que resta: umor. Feito isso, brinque com as letras de cada palavra. Então pense em palavras iniciadas com h ou r.
Quem trilha um caminho pautado no humor se transforma em alguém mais humano, humilde, hilário, honesto, habilidoso, harmônico... Quem anda por outra direção encontra o caminho do rumor e ai vê-se frente a ruínas, rusgas, rebeliões, ressentimentos, repressões, retaliações, revoltas, raivas ...Bem, de que mesmo devo falar? Será que é do humor ou do rumor? Será este um espaço apropriado prá filosofar? Desculpe a viagem, mas falar sobre favela e as coisas que circundam seu universo é ou não falar sobre humor e rumor? Qual dos três personagens que todos temem numa favela? O traficante, o policial ou o fofoqueiro? Não sabem? Prá mim é o fofoqueiro. Explico-me melhor: o fofoqueiro é mais temido, porque de sua boca fatalmente surgirá algo que, dependendo do teor, terminará numa roda de conversa onde todos rirão de sua imaginação fértil, ou então, poderá desaguar num rumor que desestabilizará antigas relações ou mesmo culminar numa fatalidade. Posta essa observação, acho que chego aqui onde queria. Deixemos o rumor de lado e falemos da vida de forma prazerosa. Ser favelado não é um estado de pobreza, visto que pobreza não é o antônimo de riqueza, mas sim o sinônimo de fraqueza. Não nos consideremos pobres, pois se sonhamos e lutamos por nossos sonhos, somos agentes de mudança. Se vivemos e acreditamos que a vida devia ser melhor, faça como o poeta, simplesmente diga: será! Será porque nosso humor traz em sua essência a pólvora necessária para destruir esse indigesto abandono social e financeiro. Sambar, cantar, brincar, amar, sorrir é a forma que encontramos para caçoar sobre os desmazelos desta elite inconseqüente. Somos nós os favelados que mantemos os ricos menos mal-humorados, pois limpamos suas privadas, dirigimos seus carrões, lavamos e cozinhamos pra eles, tudo isso por míseros 150 reais. E se a elite branca e "macha" faz rumor sobre nosso cotidiano, ensinemos a eles que o certo não é o que eles pensam sobre nós, mas o que eles não sabem sobre o porquê de vivermos felizes apesar deles. Com humor, nós favelados construiremos o amor e paz. Com rumor a elite continuará fazendo passeatas em orlas marítimas cada vez que um de seus filhos for seqüestrado ou assassinado.

Caio Ferraz Sociólogo, Fundador da Casa da Paz de Vigário Geral. Exilado desde 1995 nos EUA. Flórida, 8 de Janeiro de 2001

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