sábado, 23 de junho de 2007

2000 – REPERCUSSÕES DO MOVIMENTO

O ano de 2000 foi marcado pela prisão de Marcinho VP. Sustentei meu objetivo missionário de manter-me disponibilizado para ouvi-lo a despeito das denúncias, indo visitá-lo na prisão. Por conta de uma entrevista dada por ele aos jornais, quando da visita de Michel Jackson ao Brasil em 1996, e equívocos de redação relatados por Caco Barcelos em seu livro, Marcinho se tornou do dia para a noite um dos traficantes mais perigosos da cidade. Numa entrevista dada à Revista TRIP[1], ele esclarece este episódio, bem como fala do seu desejo de estudar e se tornar um agente da politização da gente excluída do Brasil. Infelizmente não houve tempo nem condições para que ele mudasse de vida, mas isto não me impediu de estar presente e testemunhar seu esforço por esta mudança.
Neste mesmo ano, um passeio no Shopping Rio Sul, que reuniu grupos de favelados, sem-teto, MST e estudantes, marcou a primeira ação da FLP - FRENTE DE LUTA POPULAR, chamando atenção para o sete anos da Chacina de Vigário Geral e o protesto contra a violência policial[2], que aconteceria no dia 29 do mesmo mês. Estas forças se juntaram organizadas pela FLP, um outro importante movimento do qual participamos desde o início e que até hoje se mantém de forma atuante.
O crescimento do movimento HIP HOP, que acontecia paralelo aos movimentos sociais, despertou em Ricardo Nauenberg o interesse pela filmagem do documentário MANO A MANO [3], com algumas cenas gravadas no Morro Santa Marta. O filme, que teve seu lançamento no Espaço Unibanco, presta uma homenagem ao nosso trabalho, com uma frase por mim frequentemente usada, que diz: "Poucos fazendo muito e muitos fazendo tão pouco ou nada."
Uma declaração de Marcinho VP à imprensa, na época, associou o movimento FAVELANIA ao seu nome, sugerindo ser esta uma organização armada e revolucionária da qual ele fazia parte. [4] Tal declaração foi por mim esclarecida, tendo sido publicada na revista “ISTO É” uma entrevista na qual deixo clara a minha discordância acerca da mesma. [5] O poder que o morro representava para a sociedade e a possibilidade de organização política bélica desta comunidade assustou os órgãos de segurança pública, tornando o movimento FAVELANIA alvo de críticas severas. Declarações de participantes recém chegados ao movimento, tais como o de Rumba, agravaram mais ainda o cenário da época, com matérias na imprensa que cruzavam posturas e declarações.
Neste mesmo ano, sustentei a força do movimento, segundo os moldes pacíficos a que nos propúnhamos, participando do 4º Congresso Nacional do MST, em Brasília, em que representava o movimento FAVELANIA.

[1] LEÃO, Renata. Marcinho VP. Ano 15, novembro de 2001, No. 95. Editora Record. 1994.
[2] FILHO, Francisco Alves. O morro quer descer. Revista Isto É, 28 de março de 2000.
[3] NAUENBERG, Ricardo. Mano a mano. Indústria Imaginária, 2000.
[4] CORREA, Leo. Partido da favela. Jornal O Dia, 3 de julho de 2000.
[5] FILHO, Francisco Alves. O morro quer descer. Revista Isto É, 28 de março de 2000.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

1998 – 1999 - Movimento FAVELANIA

Tornei-me, a partir de 1997, um dos principais interlocutores da favela com o asfalto. A manifestação da população excluída do morro resultava em novas formas de organização, que culminou neste ano no início do movimento FAVELANIA, do qual fui idealizador.
O movimento FAVELANIA pretendia dar voz às comunidades carentes se colocando como canal de ajuda e veículo de expressão da violência sofrida, para acionamento jurídico e veiculação na mídia. Visávamos difundir de todas as maneiras possíveis, a conscientização à população favelada quanto aos seus direitos básicos enquanto cidadão, bem como enfatizando uma ideologia de combate a todo e qualquer tipo de abuso aos Direitos Humanos. A razão da existência deste movimento deveu-se ao resgate dos princípios de liberdade e anseios por igualdade e solidariedade entre os seres humanos, que move as revoluções populares e se demagogiza em tratados e códigos que não encontram práxis social.
Convivi de perto com os reflexos deste movimento na vida intelectual brasileira. Em 1998, o jornalista Caco Barcelos, com quem já vinha mantendo contato desde a FÁBRICA DE ESPERANÇA, mostrou-se interessado em documentar a realidade da favela. Tal iniciativa resultou na produção do livro sobre a história de Marcinho VP[1], cujo processo acompanhei de perto, sendo citado no livro como um dos personagens vivos desta contundente e trágica história.

Nesta mesma época, João Moreira Salles e Kátia Lund começavam a filmar as primeiras cenas de “Notícias de uma guerra particular” [2], eleito um dos melhores documentários brasileiros, por seu amplo e contundente retrato da violência do Rio de Janeiro. Participei da produção do filme, percorrendo com eles becos e vielas do Morro Santa Marta, auxiliando para que fosse transportado para a tela o dia a dia dessa dura realidade.




[1] BARCELOS, Caco. Abusado – o dono do Morro Dona Marta. Editora Record. Rio de Janeiro, 2003.
[2] SALES, João Moreira e LUND, Kátia. Notícias de uma guerra particular. Documentário, Brasil, 1999.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

1997 – AINDA É SÓ O COMEÇO!


Foto: Aldridge Neto



Neste ano fui convidado para me tornar o secretário-executivo da CASA DA PAZ de Vigário Geral. Em abril de 1997 a incursão da polícia ao Morro Santa Marta foi notícia de jornais[1], com destaque para as portas derrubadas, moradores assustados e submetidos a constrangimentos ilegais. Ainda desta vez me manifestei ao ser agredido durante a operação da polícia, comparecendo ao 2ª BPM para conversar sobre o DPO na favela. Nesta ocasião, alertei as autoridades acerca do papel da polícia no morro, tendo sido recebido pelo comandante como um cidadão pertencente àquela comunidade.


Outro caso que ganhou espaço inclusive no noticiário internacional – REUTERS e BBC de Londres, entre outros - e no relatório da ONU, foi o do surfista Wagner Marco da Silva, também do Morro Dona Marta, baleado pela PM na cabeça e no estômago em 1997. Na época intervimos, fazendo com que o caso tomasse o vulto necessário, e criando os meios para que a família pudesse ser assistida juridicamente pelo Dr. Nilo Batista, que assumiu a defesa do caso, dando a ele a devida dimensão.[2]

Em agosto do mesmo ano, como secretário executivo da CASA DA PAZ, organizei uma caminhada de 15 quilômetros, saindo de Vigário Geral indo até a Candelária, onde seguíamos carregando 21 caixões de madeira em alusão aos 21 trabalhadores assassinados na chacina. Tal ato visava manter vivo na memória da população o episódio, bem como o desagravo em torno da impunidade face ao crime hediondo e o descaso do Estado no que diz respeito à indenização dos familiares das vítimas. O nome dos 21 trabalhadores assassinados foi estampado nos 21 caixões depositados em frente ao Palácio Guanabara.
[3] [4] [5] [6]

No dia 30 de dezembro o réu da chacina de Vigário Geral, foge do presídio de Água Santa. Sua fuga coincidiu com uma ameaça de morte que recebi via telefone, feita por uma voz de homem não identificada. Deu-me 48 horas para sair de Vigário Geral, caso contrário “o cerol vai comer”, dizia ele. Registrei queixa na mesma tarde e recebi apoio do deputado Carlos Minc, com um pedido de garantia de vida ao secretário Nilton Cerqueira. [7] [8] [9] [10] Como resultado de ameaças e pressões, vi-me obrigado a abandonar o projeto e me afastar do local.

Foto: Aldridge Neto


O trabalho da CASA DA CIDADANIA que desenvolvíamos nesta época, se sustentava baseado na possibilidade não de uma cidadania dada por aqueles que “sobem”, mas conquistada por aqueles que estão nas comunidades. Vários projetos surgiram como fruto deste primeiro movimento, tendo sido realizados com sucesso. Entre eles podemos destacar o CURSO DE FORMAÇÃO DE LIDERANÇAS, em parceria com a UERJ, o projeto OLHARES DO MORRO, que depois se tornou uma ONG. Porém o que para mim adquiriu destaque particular, me fazendo sonhar desde 1997, foi a ANF-AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DAS FAVELAS.[11]


[1] GONÇALVES, Elaine. Quatro anos de impunidade. Jornal O Dia, sábado, 30 de agosto de 1997. p. 2
[2]http://www.dpf.gov.br/DCS/editados/clipping/setembro/CS_14_de_Setembro.rtf
[3] FOLLETO, Márcia. Moradores de vigário Geral levam 21 caixões pelo Rio para lembrar chacina. O globo, sábado, 30 de agosto de 1997. p.22.
[4] GAGLIANONE, Elaine. Quatro anos de impunidade. Jornal O Dia, sábado, 30 de agosto de 1997. p.2
[5] Moradores de Vigário Geral protestam em frente ao Palácio Guanabara. Tribuna da Imprensa, sábado e domingo, 30 e 31 de agosto de 1997.
[6] VARSANO, Fábio. A marcha incompleta. Jornal Cidade, sábado, 30 de agosto de 1997. p. 21
[7] NUNES, Angelina e BOECHAT, Elba. Réu da chacina de Vigário Geral foge do presídio de água Santa pela porta. O Globo, terça-feira, 30 de dezembro de 1997. p. 18.
[8] A botina da arbitrariedade. Jornal do Brasil, terça-feira, 30 de dezembro de 1997. p. 16.
[9] MELO, Adriana, ARARIPE, Ana Paula, PORTUGAL, Fernanda. Matador de Vigário Geral está na rua. Jornal O Dia, terça-feira, 30 de dezembro de 1997. p. 12.
[10] Foge mais um ex-PM da chacina. Jornal O Dia, terça-feira, 30 de dezembro de 1997. p. 12.
[11]ROCHA, Carla. A miséria encaixotada há uma década. O Globo, 04/05/1997.

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A MISÉRIA ENCAIXOTADA HÁ UMA DÉCADA


Moradores do Dona Marta, em plena Zona Sul, vivem em containeres improvisados desde 1988

Encaixotada, vivendo num container de zinco, onde a temperatura chega a 50 graus no verão, a servente Maria do Socorro Ferreira Soares, de 30 anos, cria os quatro filhos em seis metros quadrados. Há quase dez anos, ela cuida de suas eventuais queimaduras nas chapas quentes que fazem a vez de paredes e das pneumonias típicas de lugares insalubres. Ao todo, sete famílias vivem em condições subumanas no Morro Dona Marta, dentro de containeres, aguardando as casas populares prometidas pelo município aos moradores retirados de áreas de risco após os deslizamentos de terra provocados pelas chuvas em 1988. O aniversário de uma década de esquecimento será comemorado, este ano, em grande estilo: a Casa da Cidadania, que acaba de ser criada para dar assistência jurídica aos moradores da favela, vai mover uma ação na Justiça exigindo uma solução para o problema.

Idéia é criar outras instituições semelhantes na cidade


A falta de conhecimento da população pobre sobre seus direitos de cidadão inspirou a formação da Casa da Cidadania. A idéia é que, dentro em breve, cerca de dez instituições semelhantes passem a funcionar em morros do Rio. A empreitada não começa no Dona Marta por acaso. Durante três anos, entre 1993 e 96, André Fernandes, assessor do pastor Caio Fábio na Fábrica da Esperança, trocou uma vida confortável de classe média por um barraco no morro. E não deixou que a estada se limitasse a ser uma experiência politicamente correta. No morro, André tornou-se, fundamentalmente, um morador. Graças a seu conhecimento do lugar, sabe-se hoje que o Dona Marta pode ter uma população de até 12 mil habitantes. Número bem diferente das estatísticas oficiais que contam pouco mais de 4 mil.


Foto: Aldridge Neto

Muitas dessas pessoas parecem conformadas com a própria sorte. Maria Beata Vítor, de 48 anos, é outra moradora dos containeres. Sob o teto de zinco, arrumou seu único cômodo, com cortina, espelhos e vaso de flor. Ela nunca procurou a Prefeitura para cobrar a casa de verdade que lhe fora prometida. Talvez pelo mesmo motivo que leva a servente Maria do Socorro a nunca reclamar da situação em que vive, apesar da miséria:


Foto: Aldridge Neto

- Pior é que a gente ainda tem que dar graças a Deus por ter esse cantinho aqui. Já pensou se tivéssemos que morar embaixo de um viaduto, como tanta gente que sofre nesta cidade?Após o deslizamento ocorrido em 1988, Maria do Socorro foi incluída na lista das pessoas que moravam em áreas de risco no Dona Marta. Com o marido, ela foi orientada a deixar o barraco de sala e quarto e se instalar, provisoriamente, num container montado pela Prefeitura. O improviso não deveria durar mais de seis meses, mas está prestes a completar dez anos. No container, ventilado por duas janelas e alguns buracos de bala, Maria do Socorro acabou tendo os filhos. O mais velho tem 9 anos de idade.


- A maioria dos moradores aqui desconhece completamente os seus direitos. Isto se reflete na qualidade de vida que eles levam. Outro dia, em plena Zona Sul da cidade, fomos procurados pela mãe de uma criança totalmente desidratada com 1 ano e 3 meses que parecia um bebê de colo - conta André.


Além de assistência jurídica, a Casa da Cidadania também deverá promover atividades educativas e desenvolver uma agenda voltada para a prática de esportes. Outro projeto que será iniciado com a ajuda dos moradores será a criação de uma agência de notícias no Dona Marta que concentraria informações sobre todas as favelas do Rio.


Fonte: ROCHA, Carla. A miséria encaixotada há uma década. O Globo, 04/05/1997.



quarta-feira, 20 de junho de 2007

1996 – A RADIOGRAFIA DA FAVELA

Foto: Aldridge Neto


No ano seguinte, enquanto trabalhava como Assessor de Assuntos Comunitários da FÁBRICA DE ESPERANÇA - sediada na favela de Acari - iniciei um projeto de levantamento com dados estatísticos e parte da história das 50 favelas com maior repercussão na grande mídia do Estado do Rio de Janeiro. Uma “radiografia” com informações sobre população, habitação e infra-estrutura, ilustrado com fotografias, pretendia ainda fornecer informações e telefones de contato de associações de moradores e organizações não-governamentais (ONGs) atuantes nas favelas. A proposta de fazer com que as pessoas pudessem ter maior acesso às favelas, destruindo a idéia de territórios impenetráveis, embora não tenha tido continuidade, deu origem à ANF - AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DAS FAVELAS, projeto atualmente em andamento, para o qual busco apoio e patrocínio.

Não deu na GRANDE mídia...


PARTIDO VERDE DIVIDIDO

Filiados e militantes do PV - Partido Verde, outrora sério, agora precisam acatar as decisões de uma cúpula que decide e fala em nome de todos os militantes e filiados. A denúncia está sendo feita através de uma petição on line ( Manifesto pela democracia no Partido Verde brasileiro)que está correndo pela internet. A lista segue assinada pelo Deputado Estadual André do PV e seu pai Paulo Moraes.

Quem quiser ler o manifesto na integra basta clicar aqui!

terça-feira, 19 de junho de 2007

1995 – O COMEÇO DA CARREIRA DE ATIVISTA SOCIAL

Em agosto de 1995, ainda como membro da JOCUM e responsável pela direção do trabalho no Morro Santa Marta, iniciei paralelamente um trabalho de assessoria de assuntos comunitários da FÁBRICA DE ESPERANÇA em Acari, indo morar no local para melhor conhecer a realidade. O projeto social era ligado à VINDE, ONG presidida pelo Pr. Caio Fabio, um dos fundadores também do VIVA RIO.


Ao ser nomeado secretário especial da secretaria da AEVB – ASSOCIAÇÃO EVANGÉLICA BRASILEIRA – ligada às favelas, testemunhei o projeto de ação social desenvolvido pelos evangélicos, nestas localidades, tomar vulto social. Minha presença como interlocutor entre a realidade das comunidades e a produção de atividades intelectuais – livros, filmes, matérias jornalísticas - começou a ser uma referência constante, por me encontrar numa posição estratégica de diálogo. O fato de morar dentro das favelas e de haver me disponibilizado a desenvolver uma missão de tamanha envergadura resultou, aos poucos, na constituição de uma figura pública que passou a ser citada como “aquele que conhece a realidade das comunidades carentes do Rio” [1] .


Em novembro de 1995, a cidade do Rio de Janeiro se viu tomada por uma onda de seqüestros, que colocou a população nas ruas em sinal de protesto contra a falta de segurança, da qual a população se tornou vítima. O seqüestro do adolescente Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Filho, tomou as páginas policiais cariocas por um longo tempo, gerando uma série de discussões e mobilizações em torno da segurança da cidade e a luta pela paz. [2] [3]


Presenciei neste período o cerco policial à favela de Vigário Geral e demais favelas cariocas, cuja ação truculenta me indignou profundamente. Neste período, participei ativamente na coordenação de vários eventos, como a organização de um ato público envolvendo mais de duas mil pessoas, feito em resposta à desastrosa incursão da Polícia Civil e Militar na favela em busca do cativeiro de Eduardo Eugênio. A ação militar, como era e ainda é de costume, foi capaz de colocar em risco a vida de pessoas inocentes, moradoras da favela. O movimento, que contou com a iniciativa de integrantes da CASA DA PAZ e a presença do sociólogo Caio Ferraz, consistiu ainda na confecção de 50.000 cartazes com a foto de Eduardo Eugênio e um apelo aos moradores das favelas para auxiliarem na sua localização. Tal apelo tinha em mente a certeza de que ele não estava escondido dentro de nenhuma favela, embora a imprensa e a polícia voltassem suas atenções para essas comunidades infringindo-lhes uma série de constrangimentos. Nos cartazes, além da imagem de Eduardo, constava a inscrição “FAVELAS CONTRA A VIOLÊNCIA” e o pedido: Se você vir esse rosto, ligue para estes telefones. Os cartazes traziam impressos os telefones da CASA DA PAZ, da FÁBRICA DE ESPERANÇA e do CENTRO BRASILEIRO DE DEFESA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, incentivando a denúncia anônima e evitando o risco de represálias. Tendo em vista o clima de descontentamento com a polícia, os telefones do Disque-denúncia não foram disponibilizados nos cartazes, tornando o movimento popular o principal instrumento de ação, diálogo e possibilidade de negociação com a comunidade da favela.


A lembrança de massacres em forma de acróstico – as letras iniciais compondo a palavra CHACINA ficou exposta na favela de Vigário Geral, que promoveu no dia 2 de novembro um encontro de entidades de defesa dos direitos humanos, lideranças comunitárias e moradores. Neste período, meu nome associado à campanha RIO DESARME-SE e ao pastor Caio Fábio, seria constantemente citado pela imprensa como um dos mentores e principais atores deste projeto, cujo vulto tomou conta da cidade do Rio de Janeiro. [4] [5]


Em dezembro deste mesmo ano, unimo-nos ao programa de AÇÃO DA CIDADANIA CONTRA A MISÉRIA E PELA VIDA – a CAMPANHA DA FOME liderada pelo sociólogo Herbert de Souza – festejando o recorde de doações para o NATAL SEM FOME. Ainda como coordenador do RIO DESARME-SE, me tornei definitivamente um estrategista em ação social.


Como morador da favela, sofri os mesmos desagravos de espancamento pela polícia – em agosto de 94, quando construía a laje do ambulatório. Convivi durante anos a fio com os dilemas pessoais dos moradores e inúmeras tragédias locais, que envolviam violência, abandono e desrespeito permanente por parte das autoridades. [6]


[1] REIS, Daniel. Evangélicos citados como “o único poder paralelo ao tráfico”. Jornal Convergência. SET/OUT 1995. p. 13.
[2] FILHO, Alaor. Cartazes de Eduardo nas Favelas. Jornal do Brasil, quarta-feira, 1 de novembro de 1995, p. 19.
[3] TEIXEIRA, Fernando. Vigário Geral reza pela paz. Jornal do Brasil, quinta-feira, 2 de novembro de 1995. p. 17.
[4] PAIVA, Gabriel. Viva Rio Organiza Passeata. O Globo, quinta-feira 2 de novembro de 1995. p. 17.
[5] PHILLOT, Aníbal. Agora falta Eduardo. O Globo, quinta-feira, 2 de novembro de 1995. p. 16.

[6] PAIVA, Gabriel. Viva Rio organiza passeata. O Globo, quinta-feira, 2 de novembro de 1995. p. 17

segunda-feira, 18 de junho de 2007

1994 – Campanha RIO DESARME-SE!


Foto tirada pelo fotógrafo Aldridge Neto que trabalhou comigo nas favelas do Rio. Essa aqui foi tirada em Vigário Geral.

Em setembro de 1994, participei do I Congresso de Missões Urbanas, organizado pela JOCUM de Lima/Peru. Em seguida, um Congresso da VINDE me levou a conhecer pessoalmente o Pastor Caio Fábio, cuja força e vigor me marcaram profundamente. Como repercussão das ações sociais de espírito cristão que começaram a ser desenvolvidas desde então, vi pela primeira vez meu nome estampado nos jornais, associado ao trabalho no Morro Santa Marta, cuja visibilidade começou a se fazer notar pela imprensa. Com apenas 23 anos eu já começava a perceber a dimensão do trabalho a que me dispunha e que já se estendem por mais de quinze anos. [1]


Ao ser reconhecido nas matérias jornalísticas, com destaque para o trabalho desenvolvido no Morro Santa Marta, fui convidado pelo Pastor Caio Fábio para coordenar a campanha RIO DESARME-SE, minha primeira grande experiência de trabalho social, de forte repercussão midiática. A primeira ação do RIO DESARME-SE representou a presença da sociedade civil em diferentes favelas, com visitas que ofereciam a troca de armas de brinquedo por outros brinquedos fora do referencial de violência culturalmente arraigado. Durante a campanha, quatro mil armas de brinquedo foram recolhidas em visitas a pelo menos 40 favelas cariocas, além da campanha de distribuição de adesivos com os dizeres RIO DESARME-SE. [2]


[1] UCHOA, Marco. Religião une mundos de crime e trabalho. O Estado de São Paulo, quarta-feira, 2 de novembro de 1994. p. C4.
[2] FREITAS, Itamar. Movimento pela vida volta à rua (...). O Povo, quinta-feira, 1 de novembro de 1995,
p. 19.

domingo, 17 de junho de 2007

1993 – A ENTRADA NO MORRO SANTA MARTA

No ano de 1993 iniciei um trabalho no Morro Santa Marta, em continuidade a Escola de Missões Urbanas da JOCUM. Para tal missão, me preparei com um curso específico oferecido pela JOCUM. Em seguida, fixei residência no morro, onde uma série de iniciativas foram tomadas. Fundamos a sede da Organização com a compra de uma casa e a instalação de um ambulatório. O ambulatório oferecia atendimento médico, feito por voluntários, nas especialidades de Pediatria e Clínica Médica. Contamos ainda com a colaboração de enfermeiros voluntários em diferentes períodos de funcionamento, bem como um serviço de primeiros socorros. Em face da demanda de socorristas, aperfeiçoei-me com dois cursos da Cruz Vermelha - Agente de Saúde Comunitário e Formação de Socorrista - passando a atuar como socorrista em diferentes momentos, muitas vezes em caráter de emergência, o que era comum na rotina dos moradores. O trabalho no Morro Santa Marta incluía ainda bazares semestrais, peças teatrais, além de outras atividades na área de educação e lazer. A partir de então, passei a viajar pelo mundo divulgando esse nossa base da JOCUM no Santa Marta, além de participar de outros projetos de cidadania na cidade.
Após a chacina de Vigário Geral, ocorrida neste ano, conheci personagens que marcaram para sempre a minha vida, me acompanhando até hoje na luta pela mudança social. Entre eles destaco as figuras de Caio Fabio e Caio Ferraz, com os quais passei a trabalhar.

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