sábado, 7 de abril de 2007

QUAL SEU CONCEITO DE TRABALHO? O QUE VALE A PENA?

Uma coisa que sempre disse em minhas palestras é que não quero ter uma vida animal ou vegetal. Um estilo de vida que simplesmente vamos nascer, crescer, reproduzir, e morrer... aquele estilo de vida comum, que todo mundo tem. Esses dias um amigo que passou para um concurso da Petrobrás e que agora tem aquele salário que pode lhe dar algumas regalias, me disse: "porque você não procura fazer algo mais estável, já pensou em um concurso? Falei para ele: fiz isso quando tinha dezoito anos, me tornei um Fuzileiro Naval, e era o melhor no que fazia, e cheguei a ficar dois anos, seis meses e quatorze dias como funcionário público militar, porém decidi que não queria ficar trinta anos ali... Não fiquei, e fui ser missionário da JOCUM naquela época, e continuo esse mesmo missionário até hoje. Não estou mais na JOCUM, e isso falaremos depois, mas o fato é que o mesmo sentimento que me moveu a sair do Corpo de Fuzileiros Navais, a INCONFORMIDADE com o que via a minha volta, foi o que me moveu a TRABALHAR na JOCUM, a TRABALHAR com a Campanha RIO DESARME-SE, a TRABALHAR na VINDE, a TRABALHAR na FÁBRICA DE ESPERANÇA, a TRABALHAR na CASA DA PAZ em Vigário Geral, a TRABALHAR para fundar a CASA DA CIDADANIA, a TRABALHAR por mais de quinze anos nas favelas do Rio, a TRABALHAR para a fundação da ANF-AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DAS FAVELAS, a TRABALHAR inclusive neste blog, e só para não pensarem que esqueci, também TRABALHANDO com diversas personalidades POLÍTICAS, do CINEMA, da IMPRENSA, e tantos outros meios, sem ganhar dinheiro, em quase todas as vezes para isso, afinal sempre abri portas. Estou citando tudo isso, pois, para escrever para você que está lendo, falei para minha filha Kauanne, que está fazendo quatro anos, que o Papai ia trabalhar, e tenho certeza que foi esse trabalho, que não me rende o dinheiro que rende para tantos outros que estão nos trabalhos formais, que me fez ficar longe por diversas vezes dos meus filhos, e que acredito que valeu a pena! Uma das coisas que aprendi com a JOCUM foi a importância do trabalho que nós missionários estávamos fazendo, e por isso tínhamos um grupo de pessoas que não poderiam fazer o que estávamos fazendo por estarem na formalidade, e que "seguravam a corda para que pudéssemos descer no fundo do posso". Tenho algumas dessas pessoas comigo até hoje, "segurando a corda", entendendo o trabalho missionário e de ativismo social que tenho feito desde sempre. Caso contrário, seria impossível fazer o sonho da ANF-AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DAS FAVELAS se tornar uma realidade. Recebí o texto abaixo de uma mais-que-amiga que tem sido uma dessas pessoas que "seguram" a corda, justamente quando cheguei aqui para escrever, e não conseguí deixar de chorar, pois sei que ela se "contagiou" com essa INCONFORMIDADE que me move há anos.

CORRENDO ATRÁS DO PALHAÇO

Ontem, ao andar pelas ruas do Rio, vivi duas cenas que me fincaram a memória com uma tristeza inconsolável. Pela manhã, enquanto me distanciava de uma companhia que saia pra comprar cigarros, dei de cara com um homem aos berros para outro que xingava, sacudia os braços e maldizia: vai trabalhar,vagabundo! Isso é coisa de preguiçoso, pedir dinheiro na rua. Vai procurar trabalho! Não tenho vergonha não, estou pedindo porque preciso, não tenho trabalho, respondia o outro enquanto não mais era ouvido por aquele que o insultara. Parei em frente a este homem desesperado e ouvi seu lamento com a atenção que julguei necessária: eu sou trabalhador, mas preciso comer e não tenho dinheiro. Moça, tenho família e estou desempregado. Com esse feriado, meu carrinho de carregador ficou parado na garagem e eu não tenho como trabalhar por quatro dias, como vou dar comida para os meus filhos até lá? Tirei da bolsa dois reais e dei a ele, que quase beijou meus pés: você um dia vai se lembrar desse homem que você ajudou a matar a fome e vai descobrir que eu não estava mentindo. É humilhante para um homem pedir dinheiro, mas eu não tenho outra opção neste momento. Pensei que poderia ter dado mais, poderia ter ido atrás dele e alimentado sua família...mas aliviei a minha consciência com essa esmola barata. É duro ver essa miséria em volta e não ser capaz de fazer nada além de um gesto banal que o faça ir embora achando que foi agraciado. É duro ver a fome assolando as pessoas à nossa volta e não ser capaz de agir com força suficiente para eliminar tanta desigualdade. Fiquei triste e desolada com a minha impotência e minha falta de coragem. À tarde, quando ia pra reunião na casa da minha amiga, uma velhinha no ponto do ônibus falava sozinha, enquanto tentava arrumar no canto do banco uma rosa vermelha, um copo d’agua, duas bolsas que carregava. Comecei a conversar com ela até ela sair da desconfiança e partir pra intimidade. Me mostrou sua identidade – Maria Torquato Neto – me pediu pra ver o número do ônibus no papel, pois ela não enxergava, me contou a sua vida em pedaços, mas não quis me dizer pra onde ia e onde morava. Chega! você está perguntando demais, dizia ela, eu não gosto de muito blá blá, blá... Eu sei pra onde eu vou. Haviam vários números no papel e um deles era do ônibus que eu ia pegar. O ônibus parou no ponto e tentei ajudá-la a subir, mas ela não deixou, entrou sozinha pela porta de trás. Pra subir com copo d’agua, flor, duas bolsas e seu corpo envergado, ela levou uns três minutos, recusando-se a ser ajudada. Sentou-se no banco de trás e ficou impaciente a resmungar. Ninguém lhe deu atenção. Num determinado momento ela começou a gritar:o motorista não sabe, ninguém sabe, Morro Santa Marta, eu quero ir pro Morro Santa Marta, Marta, eu quero ir pro Marta. O ônibus inteiro se comoveu com o choro da velhinha e algumas pessoas decidiram ajudá-la. Será que aquela criatura envergada e quase no fim da vida ainda tinha orgulho suficiente pra achar que eu ia desmerecê-la por ser uma moradora da favela? Pori sso não queria me dizer onde morava? Seria essa a sua capacidade de resistência e reação diante da vida durade discriminação que levava? Ela queria poder ir evir, mas não queria ser uma pobre coitada. Sonhei em subir com ela o morro, saber onde morava, conhecer suas histórias... Enquanto isso ela desaparecia pelas calçadas da vida e eu seguia com a minha vida comum, longe dessa realidade. Não sei ao certo o que me comove, se é a simpatia que julgo sentir por alguém tão cheia de atitude evitalidade, ou se é a vida com suas enormes desigualdades. Talvez ela seja feliz assim, com seu copinho d’agua e sua vidinha de ir e vir no meio de atropelos e massacres. Mesmo massacrada pela pobreza, ela se move e até vê beleza em uma rosa. Fiquei pensando: ela vai chegar em casa e colocar a rosa dentro do copo, enfeitando seu barraco com o que colhe de bonito no mundo: suas sobras, uma rosa. Outro dia vi uma criança no ônibus, no colo do avô, com aproximadamente quatro anos de idade. A idade em que se descobre o mundo com mãos pequenas, olhar ingênuo e palavras novas que ainda não sofreram a gastura de alguma verdade acabada. E passa o tempo fazendo perguntas dos por quês sem resposta e sem sentido pra quem já passou da idade. De repente, entrou um palhaço. O menino correu pro colo do avô e se escondeu assustado. Aos poucos o medo foi cedendo à curiosidade e ele ficou amigo inseparável do palhaço. Quando o palhaço ia descer, ele gritou desesperado:palhaço, espera, vou descer com você! A distância entre a ficção e a realidade é o que nos faz ver omundo repartido, sem possibilidade de encontros que nos surpreendam e nos façam mudar o caminho já traçado. A criança não tem essa distância tão clara, por isso ela é livre pra seguir seus sonhos, mesmo que eles sejam absurdos e inviáveis. E mesmo que tenha que ser segurada por um adulto que lhe diz: não pode!Ainda assim ela insiste em ir ao encontro do inesperado, em busca do que seu coração lhe move.Depois crescemos e aprendemos que tudo isso era bobagem. Será que tem que ser assim na verdade? O que podemos e o que não podemos de fato? Talvez ser uma criança que se recusa a crescer e ainda sonha correr atrás de algum palhaço. Ou de alguém que lhe diga que a vida não é só feita de coisas previsíveis, mas de surpresas inesperadas. E que a garantia não é o único passo a ser dado.

Eliane Martins é Psicanalista.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

SOBRE O ORKUT

Fui convidado para o Orkut por um amigo de minha estima, Mario Fialho, quando tinha acabado de mudar para Maringá, onde morei por quase três anos. Foi muito bom, pois estava me ausentando de minha cidade, e não só pude reencontrar várias pessoas que não via desde há muitos anos, bem como, manter o contato com pessoas do Rio e de outros lugares. Assim indiquei para muitos amigos o Orkut, e hoje utilizo para meu trabalho. Já ouvi muita gente falando sobre o Orkut. Algumas pessoas se acharam invadidas e saíram, outras acreditam mesmo que são famosas pela quantidade de pessoas. Aqui no blog tenho deixado sempre indicações de comunidades para que possamos agregar pessoas em torno de uma idéia ou montar grupos de interesse. Hoje estamos trazendo o texto abaixo escrito por um outro amigo de minha estima, que fala SOBRE O ORKUT. O nome desse amigo é Rafael Huguenin, ele passou em primeiro lugar para o mestrado em Filosofia no IFCS, e na PUC, e pode então escolher onde faria. Escolheu a PUC .
SOBRE O ORKUT
O site de relacionamentos Orkut ilustra de maneira paradigmática uma característica fundamental de nossa sociedade nos dias atuais, a saber, que o ser das pessoas constitui-se pelo seu aparecer social. Isto é, a essências das pessoas, aquilo que as constitui e as distingue como tais, é completamente reduzida a simples manifestações exteriores de suas personalidades. Manifestações, diga-se de passagem, cuidadosamente escolhidas, de modo que a constituição de si mesmo torna-se uma espécie de montagem. Uma espécie de montagem que, obviamente, representará muito mais o que a pessoa gostaria de ser do que o que ela é de fato.Neste sentido, a montagem de um perfil não apresenta diferenças significativas em relação à montagem de um produto comercial qualquer, como na escolha das características de um carro, por exemplo, na qual é possível selecionar o modelo, a cor, os acessórios e demais atributos superficiais, sem, contudo, alterar o fato básico de que se trata de uma simples transação comercial. Em ambos os casos, a diversidade de opções disponíveis, que no fim das contas são sempre limitadas, cria uma ilusão de liberdade confortante. O indivíduo pensa realmente ser livre ao escolher entre opções previamente dadas.O fundamental, pelo menos para o site em questão, é que sua função primordial, ainda que isso muitas vezes fique implícito, é simplesmente possibilitar e multiplicar a visualização social de um indivíduo. A realidade de um indivíduo é dada na medida em que seu aparecer social, o seu perfil cuidadosamente montado, é visualisado. Ser é ser visto. Ser é aparecer. Quanto mais observada e relacionada a pessoa, mais realidade ela possui. Mas devemos evitar condenar o site, ou as pessoas que o usam, pois o que fazem é reproduzir uma condição geral da sociedade atual. Não é isso que vemos a todo tempo? A busca pela celebridade a todo custo, pelos quinze minutos ou mais de fama a que todos tem direito, mesmo que isso implique a falta de sinceridade para consigo próprio, a falsidade para com o seu próprio ser? Não é isso que a mídia, sobretudo a mídia televisiva, nos diz a todo tempo? Fiquem famosos! Sejam reais!

terça-feira, 3 de abril de 2007

PROFISSÃO REPÓRTER







Conheci Caco Barcellos quando trabalhava na Fábrica de Esperança em Acari, como assessor de assuntos comunitários. Na época estava acontecendo a OPERAÇÃO RIO (escreverei em próxima oportunidade mais profundamente sobre esse episódio), momento em que as favelas do Rio ficaram ocupadas pelas forças armadas, e Caco queria fazer o que ninguém da imprensa tinha feito. Ele queria proporcionar um outro olhar à sociedade. Ele queria estar dentro da favela de Acari quando acontecesse a invasão do Exército. Foi o que ele fez, ficou por lá aguardando a chegada, para ver não com os olhos de quem está invadindo, mas com os de quem está sendo invadido. Por vezes vi a imprensa subir as favelas atrás da policia, dando a visão da invasão, mas dificilmente isso acontecia ao contrário, mostrando o pânico dos moradores das favelas. Caco pensou nisso! Depois estivemos juntos em tantas outras oportunidades, apresentando ele ao personagem principal de seu livro ABUSADO, bem como acompanhando a produção desse livro. Ainda antes de lançar o livro, ele foi convidado para ser correspondente internacional da TV GLOBO em Londres, tendo vindo ao Brasil para o lançamento do mesmo, e ficando mais algum tempo fora do Brasil. Em dois mil e cinco ele voltou para o Brasil, e em dois mil e seis ele levou ao ar no Fantástico o PROFISSÃO REPÓRTER. A idéia do programa é enfocar vários lados de uma mesma problemática, onde jovens repórteres que fazem parte de sua equipe mostram como se faz a reportagem. E só para não deixar dúvidas, afirmo com conhecimento que Caco fez uma seleção rigorosa dos profissionais que trabalhariam com ele. Profissão Repórter saiu do quadro do FANTÁSTICO, por uma quinta-feira do mês de Dezembro de dois mil e seis, e ocupou o lugar do LINHA DIRETA, batendo todos os recordes de audiência do horário. Por isso acredito em uma possibilidade que venha ocupar esse espaço, que seria bem melhor, porque linha direta ninguém merece! Confesso que amo notícias e informação, porém não gosto tanto assim do Fantástico, mas não perco o PROFISSÃO REPÓRTER e fica aqui minha indicação desse programa.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Jornal Matéria Prima

Logo depois que cheguei em Maringá, fui "achado" pelos alunos, naquela época, do segundo ano de jornalismo, do CESUMAR, Universidade onde estudei. Eles me pediram para que concedesse uma entrevista que seria na aula da professora Rosane Barros, da disciplina Técnica de Reportagem, Entrevista e Pesquisa Jornalística II. Pedi então para ter um encontro antes da entrevista, que seria durante a aula dessa professora. Nos encontramos em um restaurante, onde de cara uma das alunas que me entrevistaria perguntou se eu seria o personagem do livro do jornalista Caco Barcellos que ela acabara de ler. Fiquei contente, pois percebi que não era um grupo qualquer, pois a percepção daquela futura jornalista era bem aguçada. Pontuei então sobre o que gostaria, ou não gostaria de falar. Afinal, passei uma década nas favelas do Rio fazendo isso, e foi assim que surgiu a ANF. Esses alunos estão se formando agora no fim desse ano. Eles não participam mais desse jornal, que funciona on-line, e é coordenado pela professora Rosane Barros. Porém meus colegas de turma estão participando. Por isso, hoje estou aqui para dar uma força para meus colegas de turma, mesmo não estando lá, e para divulgar o jornal. Espero que meus caminhos e de meus colegas possam se cruzar muito ainda nessa profissão que abraçamos, e que tenhamos compromisso com o que estamos escrevendo. Fica aqui então minha indicação de leitura do jornal Matéria Prima. E também para participarem da comunidade do jornal no ORKUT.

domingo, 1 de abril de 2007

CHANVRE - ROUPAS DE CÂNHAMO. ROUPAS ECOLOGICAMENTE CORRETAS!


Trazemos com exclusividade uma entrevista com o idealizador da marca CHANVRE. A entrevista foi feita junto com Rogério Lahan. Após a entrevista Marcos de Lamare mudou-se para São Paulo para expandir a marca, e acaba de lançar o site da CHANVRE.



Marcos de Lamare, idealizador da CHANVRE tem 27 anos, é advogado e natural de Andradina, São Paulo. A loja existe há quatro anos, no DEVILLE (Hotel de Maringá-PR).



André Fernandes - Porque a escolha do cânhamo?

Marcos - A princípio tínhamos a intenção de abrir uma loja de roupas, mas como Maringá é um local forte como pólo de confecções, nós tivemos a idéia de trazer algum produto diferente do que já se tem no mercado, daí surgiu a idéia do cânhamo. No comércio internacional ele é conhecido, tem bastante circulação, mas no Brasil não é tão conhecido, e não se tem acesso porque até então não se tinha ninguém que trabalhasse com isso. Nós tivemos essa idéia.

AF - Você conhece o histórico do cânhamo no Brasil e no mundo?

Marcos - Sim, no mundo surgiu na Ásia, quatro mil anos antes de Cristo. Os chineses começaram utilizar o cânhamo para fazer roupas. Diz a lenda que um imperador chinês, para evitar o massacre de animais, determinou que as roupas fossem feitas de cânhamo. Acredito que a idéia do ecologicamente correto tenha surgido daí. De lá pra cá o cânhamo teve um grande crescimento. Na época das grandes navegações ele era um dos principais tecidos e material utilizado pra fibra que se conhecia na época. Teve até a questão do embargo econômico que a Inglaterra fez para o fornecimento de cânhamo para as tropas de Napoleão. Mais pra frente, quando teve o surgimento do nylon nos EUA, dizem também que houve um movimento de boicote ao cânhamo. Porque como o cânhamo tem uma durabilidade maior para os empresários do nylon e do algodão, seria interessante acabar com o ele. Nessa época foi aprovada uma lei no congresso dos EUA proibindo a plantação do cânhamo. Foi quando o cânhamo teve uma grande queda no mundo. Recentemente os cientistas descobriram uma enzima que tornou o cânhamo mais confortável, e isso fez ressurgir o cânhamo em termos de mundo...

AF - Porque trocar o algodão pelo canhâmo?

Marcos - Basicamente pela questão do cânhamo ser um produto ecologicamente correto, pois não utiliza agrotóxico nem herbicida em sua produção, em razão dele ser extraído do caule da cannabis. As pragas normalmente atacam as folhas , então o cânhamo não tem esse problema de praga. E a fibra do cânhamo é produzido bem antes que a fibra da árvore( no caso do papel). Em seis meses o cânhamo já pode ser colhido, enquanto que as árvores cinco anos. A questão do desmatamento também é importante, pois utilizando a fibra do cânhamo para papel você evita desmatar florestas. Além da questão da ecologia de evitar poluir o solo e o lençol freático, e a água que nós bebemos. Outra questão forte é que o cânhamo dura 3 vezes mais que o algodão.

AF - Então suas camisas vão durar três vezes mais que as camisas de algodão?

Marcos - É isso!

AF - Sua loja é única no Brasil? Existem outras marcas que trabalham com cânhamo?


Marcos - Não conheço, desconheço concorrentes no mercado. Realmente não conheço. Existem lojas que trabalham, que eventualmente importam um calçado de cânhamo, um boné de cânhamo, mas digo que nós somos únicos pois investimos desde o principio no cânhamo.

AF - Há algum motivo para os clientes da CHANVRE temerem a criminalização por estarem usando uma marca com a folha da cannabis?

Marcos - Na verdade tentamos evitar o uso da imagem da folha nos produtos por existir um preconceito que a folha representa o uso da maconha. No caso nós usamos a idéia do ecologicamente correto como propaganda do nosso produto, e se eventualmente a gente precisar usar a folha da cannabis, isso não representa que estejamos fazendo apologia a maconha, simplesmente como nosso produto vem da cannabis, é até uma maneira de divulgar que a cannabis sativa produz algum produto que não seja a droga, produz um tecido que não tem nada haver, ninguém vai usar nossos produtos para se entorpecer, até porque nosso produto não contem THC (princípio psicoativo da cannabis). Então se na idéia de alguma estampa, alguma logo, a gente usar a folha isso não representa que estamos fazendo apologia à maconha, isso significa que o produto é feito da cannabis, que isso é uma coisa boa tanto para o meio ambiente, como para a pessoa que utiliza, pois o produto dela vai durar bem mais.

Rogério Lahan - De que forma a marca coloca esse conceito?

Marcos - Uma medida concreta foi a substituição da camurça pelo cânhamo, pois como trabalharíamos com um produto ecologicamente correto trabalhando com camurça? E também nas estampas procuramos trazer mensagens favoráveis ao meio ambiente. Fizemos uma mensagem que os EUA se negaram a assinar o protocolo de KIOTO, e mostramos nessa estampa que um hectare de cânhamo produz a mesma quantidade de papel que cinco hectares de floresta. E os produtos são um veículo de divulgação dessas idéias.

AF - Como são feitas as roupas, e qual o processo até a chegada ao consumidor?

Marcos - O cânhamo não é produzido no Brasil, pois na nossa legislação, não permite que trabalhemos com produtos que causem dependência química. Eu acho isso, uma posição equivocada porque o cânhamo industrial não causa dependência química ou psíquica porque não é uma droga. Então legalmente, se questionássemos isso na justiça, nós poderiamos até ganhar e plantar o cânhamo. Só que eu até entendo uma dificuldade por parte do governo, porque se fosse liberado isso, a nossa polícia não teria possibilidade de fiscalizar as propriedades agrícolas para fiscalizar o que é cânhamo e o que é maconha. Então de repente poderia haver um desvio de finalidade por parte dos plantadores, assim ia ficar difícil para o governo fiscalizar. O cânhamo que é utilizado para fins industriais não possui THC, por isso eu acho que poderia ser plantado no Brasil que isso não causaria conflitos com nossa legislação de entorpecentes. Em todo caso, não se produz no Brasil então nós importamos o tecido pronto, e daqui nós tercearizamos nossa produção, nas várias etapas. Tem as empresas que cortam, que costuram, as que fazem estampa, aí nós oferecemos o produto acabado para o consumidor. Até agora aqui na CHANVRE nós trabalhamos no varejo, e a partir de 2007 pretendemos começar a venda na internet, e tentar também com o atacado, mas isso gradualmente.

AF - Qual a perspectiva para o próximo ano?

Marcos - Nós estamos nos transferindo para São Paulo. Pretendemos continuar a fazer a importação do material, só que ao invés de vender em um ponto específico aqui em Maringá no varejo, ofereceremos para quem quiser adquirir pela internet, com vendas pelo nosso site. Vamos divulgar nosso site, e tentar colocar a CHANVRE em desfiles em São Paulo para que a sociedade conheça o produto. E daí partir para a venda no atacado mesmo.

AF - Qual o seu sonho para a CHANVRE?

Marcos - O mais próximo é colocar um site no ar que eu possa atender a demanda para todo o Brasil. Depois disso quero fornecer no atacado para lojas que tenham público alvo parecido com o nosso. E mais pra frente, como objetivo final, conseguir importar o tecido, confeccionar aqui, e distribuir para fora, fazer exportação. Meu objetivo final é partir para o mercado externo.

AF - Outros países já adotaram o cânhamo de uma maneira mais expressiva?

Marcos - Hungria é um dos maiores produtores do mundo. Os EUA, apesar de não produzirem, são os maiores comerciantes do mundo. A China tem um comércio muito grande, bem como toda a Ásia.

AF - Como os leitores podem comprar os produtos da CHANVRE?

Marcos - Na internet.






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