sábado, 19 de maio de 2007

QUANDO APRENDEREMOS O VALOR DA SIMPLICIDADE?

Há algum tempo atrás, quando morava em Maringá conheci pela internet Ana Rita Martins, que estava terminando sua faculdade de jornalismo na PUC-RIO. Ela havia lido o ABUSADO e me "achou". Coisa de jornalista interessado em ir além. Depois ela foi para São Paulo, fazer o curso da Abril. Agora ela trabalha na SOU + EU, revista semanal lançada ano passado pela editora Abril. Logo depois que voltei a morar no Rio, finalmente a conheci pessoalmente. Venho mantendo contato com ela e acompanhando sua carreira promissora. Por isso é um prazer publicar aqui o texto que ela acaba de me enviar.

QUANDO APRENDEREMOS O VALOR DA SIMPLICIDADE?


Há duas semanas estive em Anavilhanas, o maior arquipélago mundial no meio da selva amazônica. Foi bom ir até o norte, terra tão desprezada às vezes pelas mentes vazias do sudeste. Ao contrário do que pensam, o norte do Brasil não tem só pobreza e atraso. Na casa dos ribeirinhos, no meio do nada, sem energia elétrica, existem lições que são muito úteis para nós, povo da cidade.
Existe a visão errônea de que até os ribeirinhos passam necessidades. Não é verdade. A pobreza no norte está muito mais concentrada nas cidades do que na cultura do povo ribeirinho que secularmente pesca para comer e sabe utilizar a natureza de forma não predatória. Fiquei pensando no meu celular, computador, nas minhas roupas, nas minhas contas e em tudo que preciso organizar para viver. Tenho a impressão de que não viveria sem nada disso e quando vejo um povo que vive bem pescando e colhendo, me pergunto se precisamos realmente de tudo o que temos.
Quanto mais acumulamos, mais queremos. Não basta ter um tênis bom, tem que ser Nike. Se o vizinho compra algo melhor, lá vamos nós copiarmos por puro status. Grande besteira. Todo mundo vai morrer e o que vai ficar no mundo são as lembranças que deixaremos com quem conviveu conosco.
A questão do consumo e como nos construímos através dele é talvez um dos maiores males do sistema de acumulação de capital. Eu não sou socialista nem anti-capitalista, mas do jeito que as coisas estão os valores simples da vida vão se subverter cada vez mais e só vai nos sobrar uma sociedade com homens cada vez mais pobres materialmente e de espíritos.
Não é à toa que existe tanta violência e guerra. A ganância têm sido a única moeda entre os governos. Enquanto eu e você temos computadores e celulares novos e somos considerados alguém pelo que acumulamos, existem pessoas na esquina que não são nada porque vivem num mundo onde são o que têm e vice-versa. Parece um mundo díspar dos ribeirinhos do norte. A vida deles funciona de outra forma, eles são simples, mas dignos. Nada lhes falta. Nem parece que vivem no Brasil.


sexta-feira, 18 de maio de 2007

UM POUCO DE HISTÓRIA

As pessoas são imediatistas, principalmente em nossa sociedade capitalista. Não tenho a pretensão como tantos que estão aí no "mercado" do terceiro setor de ganhar dinheiro. Tenho uma idéia que estou perseguindo há dez anos e que nunca esteve tão perto de se concretizar; por isso alguns dias a mais ou a menos não farão diferença. Estou falando da ANF-Agência de Notícias das Favelas. Algumas pessoas podem falar: quem vive de passado é museu. Porém ninguém vai a lugar algum se não souber quem é, de onde veio, onde está, e para onde quer ir. Por isso trouxe hoje a primeira matéria onde citei a idéia da ANF.
A MISÉRIA ENCAIXOTADA HÁ UMA DÉCADA
Moradores do Dona Marta, em plena Zona Sul, vivem em containeres improvisados desde 1988
Encaixotada, vivendo num container de zinco, onde a temperatura chega a 50 graus no verão, a servente Maria do Socorro Ferreira Soares, de 30 anos, cria os quatro filhos em seis metros quadrados. Há quase dez anos, ela cuida de suas eventuais queimaduras nas chapas quentes que fazem a vez de paredes e das pneumonias típicas de lugares insalubres. Ao todo, sete famílias vivem em condições subumanas no Morro Dona Marta, dentro de containeres, aguardando as casas populares prometidas pelo município aos moradores retirados de áreas de risco após os deslizamentos de terra provocados pelas chuvas em 1988. O aniversário de uma década de esquecimento será comemorado, este ano, em grande estilo: a Casa da Cidadania, que acaba de ser criada para dar assistência jurídica aos moradores da favela, vai mover uma ação na Justiça exigindo uma solução para o problema.
Idéia é criar outras instituições semelhantes na cidade

A falta de conhecimento da população pobre sobre seus direitos de cidadão inspirou a formação da Casa da Cidadania. A idéia é que, dentro em breve, cerca de dez instituições semelhantes passem a funcionar em morros do Rio. A empreitada não começa no Dona Marta por acaso. Durante três anos, entre 1993 e 96, André Fernandes, assessor do pastor Caio Fábio na Fábrica da Esperança, trocou uma vida confortável de classe média por um barraco no morro. E não deixou que a estada se limitasse a ser uma experiência politicamente correta. No morro, André tornou-se, fundamentalmente, um morador. Graças a seu conhecimento do lugar, sabe-se hoje que o Dona Marta pode ter uma população de até 12 mil habitantes. Número bem diferente das estatísticas oficiais que contam pouco mais de 4 mil.

Muitas dessas pessoas parecem conformadas com a própria sorte. Maria Beata Vítor, de 48 anos, é outra moradora dos containeres. Sob o teto de zinco, arrumou seu único cômodo, com cortina, espelhos e vaso de flor. Ela nunca procurou a Prefeitura para cobrar a casa de verdade que lhe fora prometida. Talvez pelo mesmo motivo que leva a servente Maria do Socorro a nunca reclamar da situação em que vive, apesar da miséria:

- Pior é que a gente ainda tem que dar graças a Deus por ter esse cantinho aqui. Já pensou se tivéssemos que morar embaixo de um viaduto, como tanta gente que sofre nesta cidade?Após o deslizamento ocorrido em 1988, Maria do Socorro foi incluída na lista das pessoas que moravam em áreas de risco no Dona Marta. Com o marido, ela foi orientada a deixar o barraco de sala e quarto e se instalar, provisoriamente, num container montado pela Prefeitura. O improviso não deveria durar mais de seis meses, mas está prestes a completar dez anos. No container, ventilado por duas janelas e alguns buracos de bala, Maria do Socorro acabou tendo os filhos. O mais velho tem 9 anos de idade.

- A maioria dos moradores aqui desconhece completamente os seus direitos. Isto se reflete na qualidade de vida que eles levam. Outro dia, em plena Zona Sul da cidade, fomos procurados pela mãe de uma criança totalmente desidratada com 1 ano e 3 meses que parecia um bebê de colo - conta André.

Além de assistência jurídica, a Casa da Cidadania também deverá promover atividades educativas e desenvolver uma agenda voltada para a prática de esportes. Outro projeto que será iniciado com a ajuda dos moradores será a criação de uma agência de notícias no Dona Marta que concentraria informações sobre todas as favelas do Rio.
Fonte: ROCHA, Carla. A miséria encaixotada há uma década. O Globo, 04/05/1997.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

QUE CAMISA VOCÊ VESTE?

Esses dias vi uma pessoa conversando com uma amiga que vestia uma camisa escrito HIP HOP. Interessei-me em perguntar se ele curtia Hip Hop, pois além de gostar, conheço bastante pessoas do meio. Ele me falou que não curtia...aí pensei: porque esse cara veste uma camisa de um tema que não tem nada haver com ele? Esses dias ganhei uma camisa de uma amiga minha, agradeci, e fiquei pensando... jamais vou usar essa camisa... nem sei o que está escrito! Fiquei pensando nas camisas que visto, pois não gosto de vestir camisas que não tenha relação com o que faço ou penso. Lembro-me sempre da expressão "vestir a camisa", e é o que faço! Tenho maior orgulho de vestir camisas que expressem o que faço, ou em que estou envolvido. Entre as camisas que gosto de vestir estão: ANF-Agência de Notícias das Favelas, FLP-Frente de Luta Popular, a camisa que ganhei na Casa Bolivariana em apoio à reeleição de Hugo Chaves. Visto ainda, é claro, a camisa do Flamengo, da Revista Caros Amigos, e não poderia esquecer da camisa da CHANVRE-ROUPAS DE CÂNHAMO. Seria bom que você que está lendo pensasse que camisa você veste.

terça-feira, 15 de maio de 2007

JOCUM? O QUE É ISSO?

"Atenção, atenção, André da JOCUM compareça à associação com a máxima urgência para atender um telefonema!", ressoavam os alto-falantes na comunidade do Santa Marta. O presidente ou a secretária da associação chamavam no telefone comunitário qualquer morador. Quando eu ouvia, saía correndo, já que a JOCUM ficava no outro lado do morro. Então comecei a ouvir os moradores me perguntarem: "JOCUM? O que é isso?" Começava de maneira bem simples a explicação: "JOCUM significa JOVENS COM UMA MISSÃO. É uma organização Cristã, internacional e interdenominacional, ou seja, atua com várias denominações evangélicas. Tem atuação em todo o mundo com milhares de pessoas que seguem a visão de um jovem chamado Loren Cunningham, através da qual contemplou milhares de ondas de jovens entrando pelos continentes e difundindo a Palavra de Deus. A JOCUM nasceu então em 1960 nos EUA, e no Brasil em 1975 através de Jimmy Stier, que veio dos EUA para iniciar a missão no país. A organização se divide em três áreas de atuação: treinamento, evangelismo e misericórdia, sendo essa última a que estamos realizando aqui no Santa Marta." E assim iniciava minha conversa e quem sabe o estreitamento dos laços alí.
Cheguei na JOCUM ao sair do Corpo de Fuzileiros Navais e fiquei por mais ou menos três anos. Ao sair da JOCUM para trabalhar com o Pr. Caio Fábio na VINDE tínhamos vários missionários trabalhando lá no Santa Marta, e um trabalho de grande vulto. Hoje a JOCUM está em várias comunidades.
Parabéns aos irmãos missionários que estão hoje nas favelas e que não correm da boa batalha. Espero que a JOCUM possa acompanhar a sociedade contemporânea, e não se perder com tantos dogmas e formas. Meu último contato com a JOCUM foi em Maringá, quando estive com a Braulia, presidente nacional da Missão. Nessa época havia acabado de sair da organização em Maringá.

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