André Fernandes* As Olimpíadas e a Copa do Mundo que serão realizadas no Rio, já tinham pautado a remoção de 119 comunidades pela prefeitura, que agora com a catástrofe das chuvas que abalaram a Cidade Maravilhosa, subiu para 158. O prefeito está com carta branca para remover e “limpar” a cidade para os mega-eventos que acontecerão em 2014 e 2016, como já era de sua intenção. A remoção de pessoas que estão em áreas declaradamente de risco é importantíssima, uma vez que se tenha um plano que não seja imediatista e para “inglês ver”, já que existe uma grande preocupação, nesse período eleitoral em que vivemos, de maquiar e fazer com que a sociedade esteja do lado do poder público municipal que pretende se perpetuar em outras esferas.
Sair dos gabinetes e buscar estar lado a lado dos que estão sofrendo sem um teto, tendo perdido seus bens, reduzidos a menos que nada, deve fazer com que todos que ocupam uma função dentro das esferas de poder entendam a necessidade de manter esse enorme contingente de desabrigados informados, sabendo o que vai acontecer com suas vidas e de seus familiares. Quem já se imaginou com sua família, tendo perdido casa, morando em um colégio ou uma igreja e ainda sem informação do que vai acontecer? Como essas pessoas que já perderam tudo estão sendo tratadas? Todos que moram em uma comunidade, apesar das dificuldades, têm vínculos familiares, de amizade, sabem como fazer para ir para o trabalho e tem filhos que estudam perto de onde moravam, e agora? Vão para onde? Remover é a solução? Quem sabe revitalizar a comunidade e colocar essa população o mais perto possível?
Nesse momento crítico, entendemos que existe uma necessidade de respostas, porém dizer que serão construídas três mil casas para os desabrigados, em triagem, não parece o mais razoável. Afinal, quem conhece o Rio sabe que esse bairro não tem infra-estrutura sequer para comportar a população que lá reside, que dirá para receber tamanha quantidade de pessoas. Reforço aqui que não sou contra que se retirem as pessoas que estão em áreas em que suas vidas corram perigo, porém quando se fala em remoção, uma palavra que quase se tornou esquecida e que assusta a população da favela, não se pode ser leviano sem apresentar claramente todos os fatos, propor soluções e que essas sejam as melhores para aqueles que estão diretamente envolvidos.
Ampliar o debate para continuar ouvindo a opinião pública e principalmente os mais afetados, no caso os moradores das favelas, que foram os que mais sofreram e tiveram perdas com as chuvas, é de fundamental importância.
*Jornalista – Diretor da ANF – Agência de Notícias das Favelas
FONTE: Jornal O GLOBO - 19 de abril de 2010 - Pág. 06 -