sábado, 22 de março de 2008

"NÃO FALE MAL DA MÍDIA, CRIE UM FATO."

A frase de Silvio Tendler, registrada no documentário “Hiato:”, de Vladimir Seixas, retoma o foco sobre o panorama social urbano em que vivemos, e seus impasses. Camuflado por máscaras sociais que tentam esconder os fatos, o estourar das luzes que encerra o primoroso trabalho de Seixas, recolhe e denuncia imagens retalhadas e falas cortantes, com a qual teremos que lidar de alguma forma.

Mas afinal, que fato novo é este, criado pelas massas e recriado pelo cinema, que tem como pano de fundo a mídia, de prontidão em torno do registro exato, que tenha efeito de verdade incontestável? Um passeio ao shopping, não pode? Não temos esse direito? Têm, vocês têm direito, informa a polícia aos passageiros de um dos ônibus não apreendidos, graças ao poder das câmeras.

De que modo um passeio ao shopping pode ser entendido como um fato novo, dentro do contexto urbano? De que modo a banalidade pode ser transformada em um acontecimento de proporções midiáticas gigantescas? Com base nas imagens documentadas, isto se dá no instante em que se estressam as zonas de conflito e se reconfiguram as possibilidades desejantes.

Você não vai comprar, diz a vendedora a um dos visitantes. A intervenção quer naturalizar as relações de troca, cuja fragilidade é denunciada pelo descontrole das operações. Como é possível se querer outra coisa, se ver frente à economia do desejo e desrespeitar as regras invisíveis, claramente violentas? As desigualdades criadas pelo sistema são publicamente explicitadas: você não tem dinheiro, portanto não é bem vindo ao mundo do consumo! Eles não se intimidam, estão em bando.

A manifestação popular frente ao desejo é o fato novo, contra o qual as forças militares e os demais aparatos de proteção social não têm controle ou argumentos legais. Uma intrigante trama de subjetividades é recortada com presteza, intensidade e foco pelo cineasta iniciante. Pés mal calçados sob a lama e ali, do outro lado da rua, o luxo intocável das vitrines abalado pelo tumulto desconcertante.

O patrão mandava eles fecharem as portas, mas não mandavam nos olhar de cara feia, com nojo. O efeito já sabido da repulsa e da vergonha é marcado e remarcado na insistência das imagens documentadas. As atitudes repressivas com relação ao desejo ultrapassam as barreiras da moral, desvelando a obscenidade contida nos olhares enojados e enojantes.

A genialidade do movimento de “ir ao shopping” tem como base a explicitação da dicotomia entre dois fronts. A luta de classes como uma luta do desejo, se manifesta nas massas indisciplinadas, bárbaras e desejantes. A barbárie cotidiana é cuspida de volta, no prato daqueles que querem manter a política de exclusão como a única forma de ordenação social.

O jeito era esperar que eles se acalmassem e fossem embora o mais rápido possível. E assim se deu. Mas um novo fato desassossega o olhar do expectador, intimado a romper de vez com as aparências do cotidiano. O documentário de aproximadamente vinte minutos produz desassossego. Frente à lógica do desejo, a realidade explode,quer nos aviltar.
Eliane Martins - Psicanalista

quarta-feira, 19 de março de 2008

Deu na GRANDE mídia...

Apesar da GRANDE mídia estar ligada ao capital e aos interesses normalmente de uma classe que não a dos pobres, quem escreve nas redações não são pessoas ricas, antes pelo contrário, são pessoas que, em sua grande maioria, conseguiu crescer e alcançar um patamar com a força de seu trabalho! Ontem mesmo estava em uma palestra do jornalista Caco Barcellos que assim como grande parte dos jornalistas, nasceu e cresceu em um bairro da periferia, o que corrobora essa tese. Existe porém um esforço, apesar dos patrões, de se fazer um jornalismo isento por parte de muitos que estão nas redações.

A partir de hoje estarei publicando semanalmente uma nova coluna: "Deu na GRANDE mídia". O objetivo é mostrar o que a grande mídia tem publicado, baseado nos contatos que venho mantendo com jornalistas sérios. Apesar dos movimentos populares ainda não terem aprendido a lidar tão bem com a mídia, é uma ferramenta importantíssima para quem quer realizar algum trabalho que necessite de repercussão.
O DIA QUE OS SEM-TETO VISITARAM O SHOPPING

O polêmico passeio que os sem-teto fizeram no Shopping Rio Sul, em 2000, virou filme nas mãos do cineasta e mestrando em Filosofia Vladimir Seixas, da Escola de Cinema Darcy Ribeiro. A proposta: mostrar como eles souberam manipular a mídia. "Os sem-teto convocaram a imprensa e disseram que seria um protesto. Mas na verdade só queriam passear, chamar atenção. E conseguiram. Todos os jornais compareceram", diz ele, que resgatou a história de 'Hiato:' com integrantes do movimento. O filme percorrerá agora salas de aula e será ponto de partida para debates entre estudantes.

FONTE: Jornal O DIA (INFORME O DIA com Jan Theophilo) em 19/03/2008

terça-feira, 18 de março de 2008

Não deu na GRANDE mídia...

ASSISTENTES SOCIAIS REVOLTADOS


Os profissionais da Secretaria de Assistência Social do Município do Rio de Janeiro, que têm como titular Marcelo Garcia, andam revoltados com o secretário. Marcelo determinou que os assistentes sociais entrem nas comunidades para realizar seu trabalho, mesmo que as mesmas estejam em conflito. O episódio que mais deixou os funcionários preocupados foi quando o secretário determinou que os profissionais entrassem no complexo do alemão, junto com a polícia, que faria uma operação na comunidade. Policia é polícia, assistente social é assistente social, não dá pra misturar as estações, dizem os profissionais.

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