A frase de Silvio Tendler, registrada no documentário “Hiato:”, de Vladimir Seixas, retoma o foco sobre o panorama social urbano em que vivemos, e seus impasses. Camuflado por máscaras sociais que tentam esconder os fatos, o estourar das luzes que encerra o primoroso trabalho de Seixas, recolhe e denuncia imagens retalhadas e falas cortantes, com a qual teremos que lidar de alguma forma.
Mas afinal, que fato novo é este, criado pelas massas e recriado pelo cinema, que tem como pano de fundo a mídia, de prontidão em torno do registro exato, que tenha efeito de verdade incontestável? Um passeio ao shopping, não pode? Não temos esse direito? Têm, vocês têm direito, informa a polícia aos passageiros de um dos ônibus não apreendidos, graças ao poder das câmeras.
De que modo um passeio ao shopping pode ser entendido como um fato novo, dentro do contexto urbano? De que modo a banalidade pode ser transformada em um acontecimento de proporções midiáticas gigantescas? Com base nas imagens documentadas, isto se dá no instante em que se estressam as zonas de conflito e se reconfiguram as possibilidades desejantes.
Você não vai comprar, diz a vendedora a um dos visitantes. A intervenção quer naturalizar as relações de troca, cuja fragilidade é denunciada pelo descontrole das operações. Como é possível se querer outra coisa, se ver frente à economia do desejo e desrespeitar as regras invisíveis, claramente violentas? As desigualdades criadas pelo sistema são publicamente explicitadas: você não tem dinheiro, portanto não é bem vindo ao mundo do consumo! Eles não se intimidam, estão em bando.
A manifestação popular frente ao desejo é o fato novo, contra o qual as forças militares e os demais aparatos de proteção social não têm controle ou argumentos legais. Uma intrigante trama de subjetividades é recortada com presteza, intensidade e foco pelo cineasta iniciante. Pés mal calçados sob a lama e ali, do outro lado da rua, o luxo intocável das vitrines abalado pelo tumulto desconcertante.
O patrão mandava eles fecharem as portas, mas não mandavam nos olhar de cara feia, com nojo. O efeito já sabido da repulsa e da vergonha é marcado e remarcado na insistência das imagens documentadas. As atitudes repressivas com relação ao desejo ultrapassam as barreiras da moral, desvelando a obscenidade contida nos olhares enojados e enojantes.
A genialidade do movimento de “ir ao shopping” tem como base a explicitação da dicotomia entre dois fronts. A luta de classes como uma luta do desejo, se manifesta nas massas indisciplinadas, bárbaras e desejantes. A barbárie cotidiana é cuspida de volta, no prato daqueles que querem manter a política de exclusão como a única forma de ordenação social.
O jeito era esperar que eles se acalmassem e fossem embora o mais rápido possível. E assim se deu. Mas um novo fato desassossega o olhar do expectador, intimado a romper de vez com as aparências do cotidiano. O documentário de aproximadamente vinte minutos produz desassossego. Frente à lógica do desejo, a realidade explode,quer nos aviltar.
Mas afinal, que fato novo é este, criado pelas massas e recriado pelo cinema, que tem como pano de fundo a mídia, de prontidão em torno do registro exato, que tenha efeito de verdade incontestável? Um passeio ao shopping, não pode? Não temos esse direito? Têm, vocês têm direito, informa a polícia aos passageiros de um dos ônibus não apreendidos, graças ao poder das câmeras.
De que modo um passeio ao shopping pode ser entendido como um fato novo, dentro do contexto urbano? De que modo a banalidade pode ser transformada em um acontecimento de proporções midiáticas gigantescas? Com base nas imagens documentadas, isto se dá no instante em que se estressam as zonas de conflito e se reconfiguram as possibilidades desejantes.
Você não vai comprar, diz a vendedora a um dos visitantes. A intervenção quer naturalizar as relações de troca, cuja fragilidade é denunciada pelo descontrole das operações. Como é possível se querer outra coisa, se ver frente à economia do desejo e desrespeitar as regras invisíveis, claramente violentas? As desigualdades criadas pelo sistema são publicamente explicitadas: você não tem dinheiro, portanto não é bem vindo ao mundo do consumo! Eles não se intimidam, estão em bando.
A manifestação popular frente ao desejo é o fato novo, contra o qual as forças militares e os demais aparatos de proteção social não têm controle ou argumentos legais. Uma intrigante trama de subjetividades é recortada com presteza, intensidade e foco pelo cineasta iniciante. Pés mal calçados sob a lama e ali, do outro lado da rua, o luxo intocável das vitrines abalado pelo tumulto desconcertante.
O patrão mandava eles fecharem as portas, mas não mandavam nos olhar de cara feia, com nojo. O efeito já sabido da repulsa e da vergonha é marcado e remarcado na insistência das imagens documentadas. As atitudes repressivas com relação ao desejo ultrapassam as barreiras da moral, desvelando a obscenidade contida nos olhares enojados e enojantes.
A genialidade do movimento de “ir ao shopping” tem como base a explicitação da dicotomia entre dois fronts. A luta de classes como uma luta do desejo, se manifesta nas massas indisciplinadas, bárbaras e desejantes. A barbárie cotidiana é cuspida de volta, no prato daqueles que querem manter a política de exclusão como a única forma de ordenação social.
O jeito era esperar que eles se acalmassem e fossem embora o mais rápido possível. E assim se deu. Mas um novo fato desassossega o olhar do expectador, intimado a romper de vez com as aparências do cotidiano. O documentário de aproximadamente vinte minutos produz desassossego. Frente à lógica do desejo, a realidade explode,quer nos aviltar.
Eliane Martins - Psicanalista