Um acadêmico resolveu descrever em um livro suas experiências no mundo damatemática. O fato é que morava em um país, onde para exercer a atividade,obrigatoriamente teria que possuir “Diploma de Escritor”. Impossibilitado, asolução foi escrever, verter para outra língua e publicar noestrangeiro. Lançado nestas circunstâncias o livro teve enorme sucesso,sendo, então, traduzido e editado em diversos países, inclusive no seu.
Afinal, para escrever deveríamos ter diploma? O que se esconde neste exército a favor do Diploma obrigatório?
Ao contextualizarem exaltando tal fonte como única indutora da ética, da capacitação: tropeçam feio, pior, nos próprios pés. Inacreditável, a pasmaceira em plena aldeia global, onde novas conectividades e tecnologias, dinamizam os conceitos, os formatos, os meios e modelos, quebrando paradigmas. Porque impedir que alguém escreva seja ou não profissional, se este é um dos princípios basilares da liberdade de expressão?
A intenção de vender a imagem de que o jornalismo é uma profissão essencialmente técnica é absurda, irreal. Fatos sociais ou políticos sempreterão a possibilidade jornalística de expor diversidade conceptiva etextual. Entendo o jornalismo como arte, nobre arte, conceitualmente livre, mesmo quando encerra equívocos interpretativos, faz parte da liberdade quese prega e que deve ser protegida. Escrever é a expressão de um dom: e tal condição não foi, não é, nunca será restrita apenas a diplomados.
Óbvio, nada temos contra o bom ensino, o valor do diploma, as boas faculdades, os bons docentes, muito pelo contrário, somos contra o que aí está, uma máquina de sonhos iludindo jovens. Aprendem pouco da realidade do mercado, das grandes redações, da liberdade restrita, dos interesses envolvidos. Nos espantamos com tantos arautos da Ética e lembramos do Cazuza, “sua piscina está cheia de ratos, suas palavras não correspondem aos fatos...”.
A grande imprensa é permeada pelo viés político, pelo interesse privado e muito poucas vezes pelo real interesse público. A mídia pública sofre ingerência política de toda ordem. A decisão do STF muito mais do que libertar o exercício do jornalismo libertou a criatividade e a arte no escrever. Cabe a nós exercer bem este papel.
Tivemos nossa experiência com a ditadura militar, basta! Herdamos um sindicalismo dos anos 40, viciado, casuísta, basta! Lutaremos contra as imposições absurdas de uma legislação perdida no tempo, que na verdade atua“contra” os profissionais como esclareceremos gradativamente.
O mundo transforma a relação patrão e empregado, no futuro seremos parceiros, frilas, surgem novos rumos e possibilidades. A Internet, a rede, são exemplos da liberdade transformadora, os blogueiros, sem lenço, documento ou diploma, estão pautando as notícias. O engraçado é que são eles a fonte da grande mídia.
Viva a arte de escrever! Viva a terceira onda! Viva o visionário Alvin Toffler, ele previu: os rápidos engolirão os lentos, o resto é conversa fiada.
*(*)Antonio Vieira é contabilista, administrador de empresas, com especialização em matemática financeira, jornalista “sem diploma” por amor a arte de escrever. Presidente da Associação Brasileira dos Jornalistas – ABJ- Entidade que associa jornalistas com e sem diploma.*