O ano era 1997, e eu era secretário executivo da CASA DA PAZ em Vigário Geral, ONG criada após a chacina nesse mesmo local, onde 21 trabalhadores foram assassinados. A casa tinha sido de uma família de evangélicos que foi transformada em símbolo de luta e resistência. Caio Ferraz o sociólogo, fundador da instituição, havia sido ameaçado de morte e estava asilado nos EUA, onde se encontra até hoje. Eu havia saído da FABRICA DE ESPERANÇA, onde era assessor de assuntos comunitários, para assumir essa função de secretário executivo. Foi nesse período que tive contato com o hip hop através do pessoal do grafite, que conheci através do DJ TR, que na época trabalhava com MV BILL. Os grafiteiros fizeram vários painéis em Vigário, entre eles um desenho na sala Ziraldo de leitura, que foi inaugurada com a presença do cartunista. Após um período na Casa da Paz, também recebi, assim como Caio Ferraz, uma ameaça, que me fez deixar o trabalho em Vigário e retornar para o Santa Marta, onde desde 1994 já desenvolvia um trabalho com a JOCUM. Agora voltaria para começar uma nova fase com a CASA DA CIDADANIA, que abraçou o hip hop no SANTA MARTA. As primeiras ações com o hip hop no SANTA MARTA foram também com o grafite, e tiveram seu ponto alto em 1998 e 1999 com o VIVA ZUMBÍ. Foi durante o VIVA ZUMBÍ, que aproveitamos para lançar o MOVIMENTO FAVELANIA, sobre o qual escreverei em outra oportunidade. No Santa Marta contávamos com a aprovação da comunidade para esses eventos, e com o envolvimento direto de pessoas da comunidade que já conheciam e participavam do hip hop, como foi o caso de Marcelo Elcy, que sendo, como se diz na favela, "cria", acabou se tornando a referência do hip hop na comunidade. Nesse evento histórico, participaram várias personalidades, e foi aí que começou a história do HIP HOP DO SANTA MARTA que Marcelo Yuca imortalizou nas letras de HOMEM AMARELO do RAPPA. Durante o evento conheci Jovem Cerebral, que acabou trabalhando, assim como Marcelo Elcy, na CASA DA CIDADANIA que se tornou em um símbolo de resistência na comunidade. E foi com o nome de A RESISTÊNCIA que Elcy, Jovem Cerebral, Negu Tema e Rogério Saci inciaram um dos grupos que hoje é referência para o hip hop que veio da favela. O envolvimento era tamanho que todos os dias Rogério Saci, que morava perto do morro, subia carregando um carrinho com pick-ups para ensinar aos jovens moradores seu oficio de DJ, que exerce até hoje, sendo um dos mais conhecidos no meio. Desde então, conheci várias pessoas no movimento hip hop, e me aproximei, principalmente dos que tem atitude de transformação. O hip hop para quem conhece, sabe que causa uma indignação por parte de quem participa do movimento, pelo fato de se tornarem pessoas que não admitem viver sem a cidadania plena que os nossos governantes, desde há muito, não permitem ter, quem mora nos locais mais carentes, pois assim se torna mais fácil manipular um povo que vive alienado. Com o hip hop, nossos jovens no Santa Marta começaram a ter novos horizontes e buscar a verdadeira liberdade, que como sabemos, “não será dada voluntariamente pelos nossos opressores, mas deverá ser conquistada”. Foi isso que fizemos ali no Santa Marta, local de RESISTÊNCIA, e foi assim que tudo começou. Hoje A RESISTÊNCIA continua aí na estrada, fazendo história. Se quiserem saber mais acompanhem nosso blog, pois a parceria continua. O que nos moveu naquela época, continua nos movendo, a INCONFORMIDADE com o que sabemos que pode ser modificado.
quinta-feira, 12 de abril de 2007
domingo, 8 de abril de 2007
PARABÉNS CAROS AMIGOS!
Conheci a revista CAROS AMIGOS desde sua fundação, pois representava, para quem trabalhava com os movimentos sociais, uma luz no fim do túnel dentro do jornalismo brasileiro. Estive com Marina Amaral, editora executiva da revista, no ano 2000, logo após termos organizado(FLP-FRENTE DE LUTA POPULAR) um passeio no shopping RIO SUL. Desde então não parei mais de acompanhar a revista. Essa semana CAROS AMIGOS já está completando dez anos, e parece que foi ontem. De uns tempos para cá me tornei um leitor amigo da revista, e mais, meu gosto foi tanto, que meu coordenador do curso de jornalismo na faculdade onde estudei, chegou a dizer na frente de toda a turma que eu precisava ler outras revistas que não a CAROS AMIGOS. Que nada, a preocupação não era que eu não lia outras revistas, mas sim que a turma, de uma faculdade particular do interior do Paraná, tivesse contato com aquele jornalismo alternativo às mídias compradas pelas elites rurais daquela região. Requião que o diga! Portanto hoje que é Domingo de Páscoa, e que estou dando uma atenção para minha família, só vim aqui para dar os PARABÉNS para essa revista, que vem remando contra a maré. Continuem, pois tem muita gente que lê, e que não se aliena com as mídias do poder...
Durante toda essa semana estarão acontecendo vários eventos gratuitos em São Paulo por ocasião dos dez anos da revista, portanto estamos colocando em nosso blog a agenda da semana de comemoração, bem como indicando o site de CAROS AMIGOS.
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