19° DIA DA GREVE DE FOME DO BISPO DOM LUIZ FLÁVIO CAPPIO.
No dia 27/11, o bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, iniciou sua 2a greve de fome contra as obras de transposição do Rio São Francisco. Ele não se alimenta desde a manhã da terça-feira dia 27 de novembro.
Há 19 dias em greve de fome, o bispo da Barra, na Bahia, dom Luiz Flávio Cappio, continua recebendo visitas de solidariedade a sua determinação de ver paralisadas as obras de transposição do rio São Francisco. O bispo continua recebendo manifestações de solidariedade de toda a região, principalmente das cidades de Juazeiro e Petrolina, onde as duas dioceses têm acompanhado tudo de perto.
Outros bispos da Regional Nordeste 3 da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil(CNBB), que envolve Bahia e Sergipe, também têm mantido contato permanente com dom Cappio.
Nas cidades de Petrolina e Juazeiro, além de outras da região, as escolas de ensino fundamental e médio e as universidades também estão mobilizadas em torno do assunto. Segundo Juvenal Lemos, da diocese juazeirense, houve uma ameaça de fechamento da ponte Presidente Dutra, mas não aconteceu em razão de os próprios serviços de duplicação da ponte já provocarem problemas no trânsito.
Nas igrejas, os padres e bispos fazem homilias voltadas para o tema da greve do bispo e pedem que a população também reze em favor dele. Por outro lado, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, já colocou uma ambulância no local à disposição do bispo e foi instalado um posto médico para qualquer emergência. “Eu vejo que o estado do bispo é cada vez pior. Cada vez a gente percebe que o seu corpo está se debilitando”, disse Juvenal Lemos, da diocese de Juazeiro, que visita o dom Cappio diariamente.
O bispo exige a retirada do exército das áreas dos eixos norte e leste e o arquivamento do projeto de transposição de águas do rio São Francisco.
Cappio afirmou que "o governo iniciou as obras de forma autoritária, e agora deve assumir seu autoritarismo e suspender a transposição".
O bispo tornou-se um dos símbolos da luta contra o projeto de transposição do Rio São Francisco ao iniciar, em setembro de 2005, a primeira greve de fome às margens do rio.
Naquela época, entre as reivindicações do bispo, estavam a retomada das negociações com os movimentos sociais de defesa da Bacia do São Francisco.
O protesto chamou a atenção da imprensa internacional e, após dez dias, Lula mandou ao local o então ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, atual governador da Bahia, que negociou com o bispo o fim da greve de fome.
O bispo afirmou que até agora, o governo não fez nenhum contato. "Oficialmente, não tivemos nenhuma resposta", afirmou o bispo, destacando que está comovido com as manifestações de solidariedade.
Caravanas do interior da Bahia, de Pernambuco, de Sergipe e de Alagoas começaram a chegar nesta manhã a Sobradinho, na Bahia (554 quilômetros a noroeste de Salvador), para o ato ecumênico previsto para a manhã de domingo, em apoio ao bispo de Barra, d. Luiz Flávio Cappio, que hoje entrou no 12.º dia de jejum contra o projeto de transposição do Rio São Francisco. Espera-se que 10 mil pessoas, entre religiosos, fiéis e integrantes de movimentos sociais de todo o País compareçam ao evento.
Também compareceu a atriz Letícia Sabatella. Integrante do Movimento Humanos Direitos -organização não-governamental comandada pela também atriz Dira Paes-, Letícia chorou ao falar com o bispo.
"Ele é um exemplo para todos nós", acredita.
Durante a semana, o movimento havia mandado uma carta de apoio ao bispo, assinada por 48 integrantes.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) aderiu ao pedido da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) de apoiar a greve de fome do bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, que começou no dia 27 de novembro, como forma de protesto contra a transposição do Rio São Francisco.
De acordo com a assessoria de imprensa do MST, o movimento apóia o jejum e vai mobilizar seus integrantes a participarem, na segunda-feira (17), do Dia Nacional de Vigília e Jejum Solidário, data definida pela CNBB.
No Distrito Federal, 15 integrantes da Via Campesina estão sem comer desde ontem (13) para pedir o fim das obras de transposição do Rio São Francisco.
Em nota divulgada no último dia 12, o Conselho Episcopal de Pastoral da CNBB convida "as comunidades cristãs e as pessoas de boa vontade" a se unirem ao jejum.
"A CNBB tem afirmado, junto ao governo e à sociedade, a necessidade de dar continuidade a um amplo diálogo sobre o projeto de transposição das águas do Rio São Francisco. Tem sinalizado também a importância da revitalização do Rio e a garantia de toda população ao acesso à água de boa qualidade como um direito humano e um bem público", diz o documento.
Segundo a nota da CNBB, um governo democrático "tem a responsabilidade de interpretar as aspirações da sociedade civil, em vista do bem comum, de oferecer aos cidadãos a possibilidade efetiva de participar nas decisões, de acatar e de respeitar as determinações judiciais, em clima pacífico".
Cada vez mais abatido, mas firme no propósito de ingerir apenas soro caseiro -pelo menos três litros por dia, segundo recomendação médica-, Cappio acordou antes das 5 horas, disse se sentir bem e seguiu seu ritual de orações e de recepção aos fiéis. Frei Cappio reafirmou que seu protesto será levado "até o fim" caso o Exército não deixe os canteiros de obras e o projeto não seja arquivado.
"Não quero morrer, mas a vida do rio e do povo do rio vale meu sacrifício e meu martírio, se for preciso", afirmou Cappio.
O bispo também voltou a afirmar que, para ele, o projeto de transposição é uma "farsa de marketing", que usa a imagem da erradicação da sede no interior nordestino para "aplacar a sanha pela acumulação ilimitada de capital". "É um absurdo usar o imaginário da seca para justificar a implantação do mercado da água bruta no sertão do Nordeste, feito para abastecer grupos econômicos que precisam do uso intensivo de água", ataca. "O que não se mostra é que esta ameaça pode ser fatal para o rio -e para a população que vive dele-, como já é perceptível aqui em Sobradinho, onde o reservatório, construído há 30 anos, está com menos de 14% da capacidade."
"Estou admirado com a solidariedade do povo."
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