Eduardo Serra, Filipe Pereira e Vinícius Cordeiro encerram Sabatina JB
Fonte: Jornal do Brasil - 14/09/2008
RIO - Eles chegaram aos poucos, desconfiados até, tateando em busca de desvendar no que daria aquela entrevista reunindo três candidatos à prefeitura dos partidos chamados pequenos. O primeiro foi Vinícius Cordeiro (PTdoB). Ao lado de seu assessor, chegou dez minutos antes da hora e revelou-se chateado com o que considerava cobertura parcial da mídia à sua campanha. Depois veio Eduardo Serra, do PCB. Buscando um pouco de sobriedade, ao contrário de seu estilo despojado, trajava um blazer com o símbolo do partido no peito. Meia hora depois, chegou Filipe Pereira, do PSC, pedindo desculpas pelo atraso. Na última sabatina do Jornal do Brasil com os candidatos a prefeito, entrevistados pelos jornalistas Tales Faria, André Balocco, Pedro Vieira, Rodrigo de Almeida, Marcelo Ambrósio e o diretor comercial do JB, Hélio Nobre, os três revelaram seus projetos para a cidade, falaram das dificuldades de campanha e, ao serem chamados de nanicos, baterem o pé: nem pensar.
Por que serem candidatos se, em tese, não têm chance?
Vinícius Cordeiro: Em primeiro lugar, os partidos no regime presidencialista só conseguem se viabilizar através de candidaturas majoritárias. O PT, na década de 80, lançava candidatos que faziam menos de 1% dos votos. Partindo dessa premissa, nós que não tínhamos uma tradição de lançar nomes, até por falta de quadros que tivessem uma consistência programática, minha corrente, mais ligada a dissidência trabalhista que formou o partido, decidimos lançar a minha candidatura. Foi importante para nós que, dentro do processo eleitoral do Rio de Janeiro, porque eu entendi que o centro da discussão da campanha não tem sido nem estava sendo a cidade. Nós tínhamos que tratar a cidade como protagonista da discussão. Há muita tendência nessa campanha de setorizar as discussões, como se a saúde e a educação tivessem uma interdependência de questões econômicas e sistêmicas. Mesmo tirando a desigualdade que temos diante da mídia e das pesquisas, porque as eleições têm sido, cada vez mais, uma ditadura das pesquisas, entendemos que a campanha organiza as idéias e uma corrente de opinião favorável às nossas teses, na cidade do Rio de Janeiro e evidentemente que eu tenho algumas teses distintas dos outros candidatos. Houve uma tentativa muito grande do senador Marcelo Crivella de nos tirar desse jogo. Acabou escolhendo como vice o filho de um vereador do nosso partido. O Crivella tinha sido quase uma unanimidade na corrente protestante do Rio, hoje somos três.
Eduardo Serra: Meu nome foi lançado pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB). Não foi uma iniciativa minha, mas uma decisão partidária. O nosso partido, hoje, é pequeno, mas muito grande historicamente. Fiquei bastante emocionado no enterro do Fausto Wolff, em que a família pediu que a bandeira do PCB fosse colocada junto ao caixão. Ele sempre foi um lutador das causas democráticas e um jornalista independente. O PCB tem uma grandeza histórica grande e no momento se organizou nacionalmente e quer se colocar no jogo político. Entendemos que as eleições são um momento muito importante da luta política, talvez não o único, porque privilegiamos os movimentos de massa organizados, na luta pela superação da sociedade capitalista, brigando por uma sociedade igualitária, socialista. Entendemos que esse é um momento fundamental, porque podemos mostrar nossas propostas, discutir com a sociedade o que podemos fazer. A gente sabe como a eleição começa, mas não como termina. O Brizola em 82 e um candidato do PT no Sul começaram com as intenções de voto muito baixas e foram eleitos. Mas nossa intenção é mostrar um projeto claro à sociedade, factível e coerente politicamente com viabilidade técnica de ser implementado. Vivemos numa cidade dividida e desigual no sentido geográfico, em que alguns bairros têm todos os serviços enquanto muitos não dispõem de condições dignas de moradia. Uma cidade desigual nos serviços sociais, dominados por empresas privadas como nos casos da saúde, transportes e educação. E na democracia, muito limitada, temos uma Câmara de Vereadores onde a maioria é eleita por empresas privadas ou por pequenos benfeitores locais que distribuem benefícios em troca de votos. Então apresentamos um programa para superação dessa desigualdade e começar a elaborar a construção de um caminho para a superação sistêmica dessas desigualdades e a constituição de uma sociedade justa e igualitária.
Filipe Pereira A grande verdade é que toda campanha parece não ter chance, uma vez que ela não tem dinheiro e principalmente quando não faz parte da máquina de governo. Em cima desse ponto é que acreditamos que a nova alternativa que o PSC tem pode dar certo, uma vez que demonstramos não ser continuidade desses governos que estão em nossa cidade. Seja do Estado ou da prefeitura. Então acredito que mesmo sem estrutura, a possibilidade que temos, até mesmo através da mídia escrita e televisionada, junto com nosso corpo-a-corpo, possamos passar para a população nossas propostas e alternativas, mesmo sem essa possível característica de não ter chance por falta der estrutura. Mas acreditamos que mesmo assim é possível vencer, uma vez que estamos obtendo sucesso e crescimento nas pesquisas frente a outras candidaturas que estão com muito mais bagagem que a nossa.
Qual a divergência de seus partidos com PCdoB e PTB?
Eduardo Serra: Nossa divergência com o PCdoB começa nos anos 60, quando o PCB assume a autocrítica dos desvios do período stalinista e tem uma postura no Brasil, durante o período militar de enfrentamento junto à organização da sociedade civil. O PCdoB manteve a visão stalinista, na época, e depois optou pela luta armada. Agora o PCdoB faz parte da base de sustentação do governo Lula e o PCB faz oposição pela esquerda, principalmente no aspecto econômico, do qual divergimos completamente por entender que é neoliberal, semelhante à política do governo anterior, de Fernando Henrique.
E o PPS?
Eduardo Serra: O PPS foi um grupo que saiu do PCB no início do anos noventa. A legenda ficou conosco. O PCB nunca deixou de existir e garantimos a posse da legenda na Justiça. Houve uma tentativa do grupo que foi para o PPS de vincular a sigla do partido e até o símbolo da foice e martelo no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial). Essa foi uma das maiores tentativas de estelionato político de que tenho notícia, porque a foice e o martelo não pertencem ao PCB, mas à humanidade.
Vinícius Cordeiro: O PTdoB é mais um partido trabalhista, que tentou buscar uma legenda trabalhista alternativa, o que não é novidade no Brasil. O PTdoB se tornou uma dissidência do PDT e do PTB. Sobre o PTB não há o que falar, porque perdeu totalmente a característica trabalhista. Parte do grupo da Ivete não tinha menor ligação histórica com o partido antigo. E o grupo do Roberto Jefferson não é o de mais um partido nacionalista com raízes fortes no movimento sindical. O PTB virou um partido essencialmente parlamentar e palaciano. Conseguiu a proeza de apoiar José Sarney, Collor, Fernando Henrique, Lula e assim será até o dia em que outro partido entrar no poder. Nada temos com essa correlação partidária, mas sim com o antigo MTR.
Por que o PTdoB não se junta ao PDT?
Vinícius Cordeiro: Temos muita proximidade ideológica com o PDT. Inclusive, apoiamos o Jorge Roberto (candidato do PDT a prefeito de Niterói) para governador em 2010 e o PDT no interior, em diversas cidades. O PDT no Estado do Rio é muito complicado, principalmente depois do desaparecimento do Brizola. Tem o Paulo Ramos, que não conseguiu cativar a militância local do partido, que tem uma expressão eleitoral muito maior do que mostram as pesquisas. De outro lado tem o Carlos Lupi no Ministério do Trabalho. Então acho que o PDT ainda vai passar por muitas contradições internas antes de se reencontrar novamente.
Filipe, o que é seu partido e qual a diferença dos demais?
Filipe Pereira: O PSC é um partido que até 2003 tinha uma administração que não era muito incisiva e tampouco abrangente a nível de Brasil, mas após 2003, quando entrou uma nova gestão, o partido despontou com diversas frentes e lideranças participativas, tanto que tem 11 deputados federais, um senador e hoje somos um partido que temos representação considerável, frente a outras agremiações que se consideram mais partidos do que nós, porque têm mais espaço na mídia, apesar de terem apenas três deputados federais. Então acredito que o PSC é um partido sólido e tem como diferencial a política de sempre colocar o ser humano em primeiro lugar. E políticos sérios que representam o trabalhador.
O PSC é tido como uma linha auxiliar do Garotinho...
Filipe Pereira: Não. O PSC, assim como até outros partidos que aqui estão, já foi aliado de governos que passaram pelo Estado. O PSC já se aliou ao Garotinho, mas nessa eleição tem candidatura própria para mostrar que vai a reboque de ninguém. Somos um partido consolidado com quadros próprios.
Quais as dificuldades de fazer uma campanha sem visibilidade e dinheiro?
Vinícius Cordeiro: Eu sou um dos candidatos que menos arrecadou e menos gastou, mas temos uma grande dificuldade em colocar na campanha uma boa produção de TV. Na rádio, o que conseguimos foi um jingle e produzir um programa próprio. Para deslocamento e militância, dependemos dos companheiros de partido. Mas nos falta estrutura. Você anda pela cidade e não vê placa minha, basicamente meu nome está associado com o dos candidatos a vereador, quando você encontra. Esse tipo de eleição de outdoor, sem showmício, sem brinde, foi benéfico para nós, pois em caso contrário, teríamos mais dificuldades. Estamos caminhando, nos organizamos em alguns segmentos que elegemos. Eu chamo de guerrilha eleitoral, porque não adianta tentar alcançar todos, pois não dá. Tentamos sensibilizar alguns segmentos. Inclusive tenho uma crítica a fazer à mídia. Evidente que a cobertura tende a ser mais efetiva com os candidatos que se colocam melhor nas pesquisas, mas fizemos um debate importantíssimo e não vimos a mídia dando cobertura. Em compensação, a mídia destacou candidato dando tapinha nas costas de velhinhos. A mídia tem que repensar um pouco o tratamento da informação, que tinha que ser em cima dos problemas da cidade, porque a mídia tem um papel social muito importante. Não que seja obrigada a acompanhar os candidatos, mas as grandes discussões da cidade não têm sido tratadas. Tenho dificuldade em passar a minha mensagem, que é centrar no desenvolvimento econômico do Rio. Quando falo sobre educação e saúde, não consigo passar que não vai dar para mexer nestes setores porque não há recursos para fazer posto médico ou creches. Não está havendo debate de verdade. Sou obrigado a ouvir o Molon (candidato do PT) falando que a campanha dele é pobre. Peraí: PT é pobre desde quando? A mídia tinha que mostrar as contradições, pois parece que todos os candidatos são muito iguais entre si. Não estou gostando de ficar nessa geléia.
Eduardo Serra: Também temos pouco dinheiro. Nossa campanha é muito simples, do ponto de vista material: concentramos no programa de TV, na mídia, através de entrevistas...temos algum material impresso. Ao nosso favor contam alguns fatores. Primeiro, o peso da legenda, que tem história e conteúdo. Segundo, as propostas que fazemos. Nosso objetivo é claro. Estamos no campo socialista e queremos superar o capitalismo, usando toda a experiência histórica acumulada de forma crítica. Fazemos a absorção crítica das experiências do socialismo real. Admiramos os governos da Venezuela e Bolívia, mas temos um caminho próprio, brasileiro. O próprio fato de participarmos de eleições mostra que nós não apoiamos a luta armada. Fazemos a campanha com propostas viáveis para a cidade, não estamos no campo do imaginário, mas da política concreta e objetiva. Outro elemento que contamos é a militância. Somos um partido ideológico com militância preparada. É comum que algumas pessoas peçam dinheiro para panfletar e ajudar na campanha, mas nós, não só não temos os recursos para pagar, como somos um partido ideológico. Então a militância presente faz a diferença. Entretanto, faço coro com o Vinícius. Houve um debate em que saiu uma foto minha na primeira página, mas na matéria eu não disse nada. É um tratamento desigual que pode ser compensado nos debates. É claro que a cobertura depende também do tamanho do partido, mas a divulgação da agenda, por exemplo, é importante para que o eleitor saiba, ao menos, onde se dirigir para ter contato com o candidato.
Filipe Pereira: Estrutura nos falta. A parte financeira tem sido uma dificuldade, porque sabemos que política se faz no corpo-a-corpo quando a gente precisa difundir nossa imagem na cidade. O espaço que a mídia tem nos dado tem sido positivo. Mesmo sem uma placa na rua, há lugares em que chego e as pessoas me reconhecem, sabem que sou candidato a prefeito, sabem meu nome. Por mais que nos falte essa estrutura de rua, a distribuição da nossa imagem através da mídia tem sido positiva. A falta de estrutura é um problema, mas a divulgação da imagem através da mídia tem dado um retorno positivo e esperamos nesse final de campanha que recebamos mais ajuda para colocar nosso nome na rua, para que as pessoas falem mais de nosso nome. Quanto à mídia, já aconteceu de esquecerem de mim na cobertura de um debate, por exemplo. Mas não quero fazer reclamações, porque acredito que o espaço esteja sendo bem dividido, até porque se temos no horário eleitoral gratuito, a divisão por tamanho do partido, então a imprensa também pode ter. Minha crítica não é sobre a mídia. Nós, por exemplo, não temos recebido convites para ir a alguns debates.
Vinícius Cordeiro Eu queria dizer que tenho saudade da Lei Falcão (ministro da Justiça na Ditadura). Não da época, mas da lei. Foi ela que permitiu o Brizola partir de 3% para 32%, porque era igual. O privilégio era o debate. Essa história que temos hoje de tamanho de bancada, não é assim na Europa. Estamos importando um modelo igual ao do México. Não posso dizer que essa legislação é ótima. Ela tem que ser revista. Diminuir o espaço de propaganda na TV para menos de três meses, privilegia o marketing e não o debate. Ficamos todos parecidos.
É possível passar a mensagem nesse pequeno espaço?
Vinícius Cordeiro Quem tem menos tempo aqui é o Eduardo, não é?
Eduardo Serra: Concordo com o Vinícius. Os jornalistas, inclusive, têm nos falado isso, que nossas propostas eram muito parecidas. Temos que olhar a trajetória do candidato. As propostas não são parecidas. Nós, por exemplo, falamos claramente da estatização de ônibus, do conselho popular.
Vinícius Cordeiro: Eu defendo o fim das empresas de táxi, por exemplo.
Eduardo Serra: Em cinquenta segundos, com um programa centrado nas propostas-chave, dá para passar uma visão clara do que se pretende fazer.
O senhor acha justa a legislação que dá cinco minutos para um e 50 segundos para outro?
Eduardo Serra: Acho que a legislação é injusta em vários itens, principalmente no financiamento da campanha que, ao meu ver, deveria ser público. Não dá para restringir a formação e a vida dos partidos, como querem fazer, artificializando o processo, reduzindo os partidos, infelizmente por iniciativa do PT, um partido que começou pequeno e agora se volta contra os demais de menor porte. Não se pode impedir que partidos se criem, o que é um elemento de renovação da vida democrática do país. Sobre a divisão do tempo, entendo que deva haver maior proporcionalidade, mas que se aumente o tempo mínimo.
Filipe Pereira: O que temos reparado é que, geralmente, no tempo a mais destes partidos tem, eles colocam musiquinha para tocar. Aproveitam o tempo para fazer marketing do seu jingle, marketing visual, porque proposta eles não colocam. O que fico mais abismado é que falam tanto de uma candidatura jovem, que me falta experiência, mas as minhas idéias estão sendo copiadas por outro candidato que estão na frente.
Por exemplo...
Filipe Pereira: O projeto de Segurança Cidadã. O primeiro que abraçou a segurança pública em âmbito municipal fui eu. Falam de segurança como se fossem os pioneiros nessa cidade. Outro exemplo é o Banco de Habitação, idéia nossa copiada pela Solange Amaral. A partir da venda da Cidade da Música e com o dinheiro, criaremos um banco para investir na habitação. A questão da segurança é o companheiro Fernando Gabeira que tem colocado, falando da questão da segurança, sendo que nós fomos os primeiros. Acho que a população tem o direito de saber, verdadeiramente, quem são os donos das idéias.
Quais seus principais projetos?
Filipe Pereira: Esses dois projetos são pioneiros. O Segurança Cidadã vem de forma a valorizar o ser humano em todos os sentidos. Podemos dar segurança ao município dando estrutura ao cidadão. E essa estrutura se dá com boa educação, condição de vida, transporte de qualidade, trânsito ordenado, ordenamento do solo urbano, tanto a nível habitacional como a nível de trânsito, a segurança em centros habitacionais e comerciais da nossa cidade, porque é um absurdo. Temos aqui, no Rio Comprido, uma praça onde não há um guarda municipal. Há diversas áreas da cidade sem guardas que façam rondas para garantir o patrimônio público. A GM tem um papel importantíssimo para garantir a segurança preventiva do bem público e das nossas ruas. Por isso esse projeto vem ao encontro dessa necessidade que estamos vendo na rua, que é garantir a segurança do cidadão. Quando a prefeitura fica omissa nesse processo, quem atua é o poder paralelo. Por isso sempre falo que a prefeitura não vai fazer papel repressivo e nem de policiamento ostensivo. Nós acreditamos que, quando a prefeitura cumprir seu papel e aplicar políticas públicas na cidade, o poder paralelo vai ser esvaziado. Assim, acabaremos ou diminuiremos o maior problema da cidade, a segurança pública. O Banco de Habitação, outro projeto de nossa autoria, vem ao encontro do déficit habitacional da cidade e ao constante crescimento irregular das nossas comunidades e favelas do Rio. Então, esse banco dará possibilidade para que todo morador de baixa renda tenha acesso ao financiamento da casa própria, num local onde a prefeitura, em convênio com a Cedae, Estado e Ministério das Cidades, levará infra-estrutura, não só de saneamento, mas de educação, saúde, para que o cidadão possa ter dignidade e qualidade de vida. Na saúde, é investido R$ 0,60 por cada cidadão, enquanto na Argentina esse se equivale a R$ 2,50. Ou seja, um valor irrisório. Se temos poucos recursos, temos que aplicar onde a população precisa, garantir o atendimento nas emergências, garantir que os Programas de Saúde da Família (PSF) tenham médico e, principalmente, que cada centro tenha ambulâncias.
Eduardo Serra: Primeiro quero falar de uma afirmação do Filipe, que concordo, de que os partidos que têm mais tempo de TV usam esse tempo de forma superficial e com pouco conteúdo político. Uma tendência geral dos grandes partidos é de minimizar a carga política, colocar propostas pontuais dissociadas de uma visão sistêmica. Isso significa uma despolitização da política. Sobre as principais propostas, primeiro é o ordenamento do processo de desenvolvimento, voltado para constituição da igualdade, com um plano diretor que diga claramente que serão priorizados investimentos nas áreas menos favorecidas, nos bairros onde não há infra-estrutura urbana. Segundo, a retomada do papel do Estado. Nós queremos a saúde pública estatal, queremos a educação em tempo integral no ensino fundamental, com a universalidade do acesso ao sistema público, ficando as escolas privadas complementares ao sistema. Queremos operar com o Estado para aumentar a oferta de ensino médio. Queremos o transporte público de massa, por isso estatizaremos as linhas de ônibus, pois o poder dessas empresas é muito grande e elas impedem que o transporte de massa se desenvolva no Rio. Uma proposta técnica que temos, coerente com o transporte de massa, é a do veículo leve sobre trilhos (VLT), consagrado no mundo, porque é mais barato e não tem de fazer escavação, desapropriar. É muito mais barato de construir, pode ser feito até com verba do Banco Mundial, que disponibiliza recursos para infra-estrutura de cidades. Teremos um estado presente na área da cultura e temos propostas específicas de instituição de distritos culturais, em que cada bairro terá uma oferta mínima de equipamentos públicos, permanentes e de alta qualidade. Nada contra as lonas, mas elas são temporárias e precárias. É sempre bom lembrar que há áreas do Rio em que não há teatros. No Complexo do Alemão, por exemplo, e isso tem a ver com a violência. No eixo da democracia teremos conselhos populares, um modelo que outros países vizinhos estão fazendo. No primeiro ano de governo vou combater a miséria, construindo abrigos e criando o emprego emergencial para recuperar o patrimônio da cidade. E isso vai ser financiado com recursos que estão sendo usados de maneira indevida. Vamos terminar a Cidade da Música, porque não terminar é pior ainda, mas ela vai para uso da população e não só da Orquestra Sinfônica. Com a retomada do papel do Estado vamos dinamizar a economia, que é uma visão Keynesiana associada à presença forte do Estado, no governo que não vai ser socialista, mas socializante.
Vinícius Cordeiro: Acho que a maior parte do que tem sido destacado é a visão dos sintomas e consequências, e não das causas. Não acredito na força do Estado para resolver problemas de segurança pública, nem a curto, nem a médio prazo. Parte dos problemas que o Rio está passando começou quando a cidade deixou de ser capital. A reforma tributária é uma necessidade imperativa numa futura administração. O Rio está quase perdendo a possibilidade de ser centro mundial de resseguro no país, porque a Câmara e o prefeito não priorizaram o possibilidade de se modificar a alíquota de 5% para 2% no ISS, em que todas as operações de resseguros do país seriam realizadas e arrecadadas aqui. Várias empresas de prestação de serviço, mais de R$ 550 milhões de arrecadação, estão sendo perdidas para Saquarema e Rio Bonito porque não há uma legislação que atraia investimentos. Toda a cidade do interior tem uma política de atração de investimento, de empresa, de utilização de espaços ociosos. Há um grande número de espaços ociosos no Estado. Há propostas de reforma tributária, de adoção de regimento de captação de recursos privados. Há propostas de estabelecimento de políticas permanentes, de transformar o Rio no centro do turismo. Turismo é uma atividade que tem grande potencial de empregabilidade, cada turista tem a capacidade de gerar quatro empregos. A maior vocação da cidade ainda não foi discutida direito, ainda mais que se fala em Copa do Mundo. Estamos esperando três grandes elefantes brancos na cidade: o Hotel Meridien, o Trocadeiro e o Nacional, e a cidade quase perdendo a oportunidade de sediar a Olimpíada. Na verdade já perdeu, praticamente. É importante que se diga isso porque só tem 24 mil leitos e pede-se 40 mil. Então qual é a política de investimento de incentivo da prefeitura para que se estabeleça uma rede hoteleira permanente e extensa, de melhor qualidade? Acredito que a partir daí recolocamos o Rio num círculo virtuoso de desenvolvimento, podendo fazer políticas sociais mais permanentes e duradouras. Hoje só se fala em projetos e não em programas permanentes. Em relação à gestão tenho uma proposta um tanto radical, que é a de 20% dos cargos comissionados, um redesenho das estruturas administrativas das subprefeituras, porque o Cesar Maia cedeu à politicagem, não se tem critério compreensível nessa divisão da administração direta. Também sou a favor da volta dos conselhos populares, o fortalecimento dos conselhos municipais como instrumentos planificadores de gestão. O Plano Diretor também, mas acho que ele tem que ser revisto e cumprido para que a gente possa ter possibilidade de sucesso na gestão. Em relação à segurança, a prefeitura não pode ser omissa. Há muito tempo venho preconizando, na forma do artigo 57 da Constituição Federal, o estabelecimento da Guarda Municipal armada, como em São Paulo. É legal e perfeitamente cabível. É lógico que haverá concurso público e eles serão treinados para isso, mas não entendo mais como a GM pode realizar seu papel na cidade, não estando armada. Porém, rejeito a possibilidade de existir uma polícia municipal.
Qual a diferença dela estar armada?
Vinícius Cordeiro: Quando você vai defender uma unidade de conservação ambiental como várias no Rio, como a GM vai coibir grilagem e invasão sem estar armada? O cemitério do Pechincha é sistematicamente saqueado. As escolas municipais, cemitérios, instalações públicas. Lá no Alemão, um depósito da Secretaria Municipal de Educação foi saqueado em frente das câmeras, ante a complacência da própria PM. Eu rechaço também essa cúpula, tanto a do governo Cabral como a do Garotinho. Essa polícia, para mim, deveria ser trocada como foi no Estado do Amazonas.
E os senhores também acham que a GM deve ser armada?
Filipe Pereira: Acredito que a GM deve ter armas não-letais, uma vez que seu papel é estar mais próxima do cidadão inocente do que fazendo o policiamento ostensivo. Discordando da idéia do Vinícius, quando falamos de uma invasão ou uma grilagem em terrenos que a Guarda está ali para garantir a proteção e preservação, por isso estamos propondo através do nosso programa de Segurança Cidadã, que a GM esteja interligada, numa central de comunicação do município, com a PM, para que a gente tenha uma parceria intensa e um contato direto e quando necessite realmente, aí sim a PM, que é a quem cabe o combate ao crime. Não concordo com o armamento da GM. Não hoje, na situação em que estamos.
Eduardo Serra: Na questão da segurança, defendemos a idéia de que ela depende de fatores estruturais como a qualidade de vida, a presença do Estado nas comunidades, o emprego. No enfrentamento, do ponto de vista da polícia, temos algumas propostas. A primeira é que se mude o conceito de enfrentamento ao crime organizado, porque somente predomina o confronto militar. Temos a idéia de substituir o confronto pelo enfrentamento policial, com investigação, de trabalhar com o governo do Estado para unificar a polícia. Queremos uma Polícia Civil uniformizada, com plano de carreira, com corpo investigativo à paisana. Temos a visão da polícia comunitária, em que cada bairro teria um conselho de segurança e cidadania, para com apoio da polícia e da justiça, poder então empreender ações de prevenção e solução de pequenos conflitos, de proteção à população e informação. Com isso melhorar bastante a segurança em cada local. Quanto a Guarda Municipal, nós defendemos que ela permaneça não-armada. Ela foi criada para reprimir o trabalho informal nas ruas e esse papel nós não concordamos com ele, porque queremos uma Guarda Municipal que dê segurança a população e que dê proteção ao patrimônio público. Queremos ela integrada com os outros setores da segurança.
E o que se faz com os camelôs?
Eduardo Serra: Duas coisas. Primeiro combater na origem o desemprego, aumentando a geração de empregos na cidade e também com a regularização do trabalho. Entendemos que o camelô é um trabalhador informal, deve ser regularizado e disciplinado no exercício do seu trabalho.
Mas ali a Guarda é necessária?
Eduardo Serra: Sim, mas não como ela faz hoje, porque ela vai para reprimir e ela tem que ir para ajudar a organizar e disciplinar. Tem que colocar espaços reservados para isso e regularizar o trabalho deles.
Fazendo ele pagar imposto?
Eduardo Serra: De uma forma simples: registrar os trabalhadores informais, com um pagamento mínimo, de uma taxa quase simbólica, mas que eles possam ser respeitados no exercício do seu trabalho.
Vinícius Cordeiro: No momento em que você tem grande desenvolvimento econômico e empregabilidade. Eu defendo as frentes de trabalho públicas, eu abracei como parte do meu programa de campanha o Cidade Cidadã. A proposta da frente é interessante, mas parte da camelotagem pode ser revertida para a economia formal, vou dar um exemplo, o sujeito faz shiatsu na praia de Copacabana, o que impede dele ser formalizado? A turma da Barra da Tijuca, da água de coco também. Eles não incomodam ninguém. Agora, não dá para deixar uma barraquinha vendendo cd pirata ou que vende proibidão na esquina. Tem que haver repressão, mas questiono o método ou a forma como é feita essa repressão. Um sujeito que tem sua mercadoria apreendida, não pode levar um tapa na orelha e nem ver sua mercadoria apreendida sem ter seu direito legal de mostrar a origem dessa mercadoria. Conheço algumas injustiças dessas. Não podemos criminalizar ou marginalizar o trabalhador informal, mas tem que existir repressão em alguns casos.
Filipe Pereira: Primeiro a gente tem que entender por que existe o camelô. Existe pela necessidade que o trabalhador tem, uma vez que ele se encontra desempregado, sem alternativa, sem capacitação profissional, ou alguns capacitados, mas deslocados do trabalho. Essa é uma situação de abandono que os governos têm adotado. Tem aumentado cada vez mais o desemprego, então precisamos, primeiramente conter isso. Segurar esse número de desemprego que está sendo desenfreado. Precisamos de políticas públicas sérias que possam incentivar a capacitação de toda a população da nossa cidade, seja do jovem, do adolescente, seja do adulto, seja do idoso. E com essa política esperamos reduzir o desemprego e automaticamente com os nossos camelôs, trazê-los a legalidade, trazendo novos espaços como foi feito na Uruguaiana e nós precisamos guiar novos espaços e trazê-los ao cadastramento e a regularidade, porque muitas vezes vemos na rua mercadoria sem nota fiscal, muitos camelôs. Uma vez me deparei com um senhor com as notas fiscais na mão, verídicas que tinha me falado que tinham levado a mercadoria dele e nem sequer viram a nota fiscal. Ele trabalhava dignamente, mas teve sua mercadoria tomada por esse mal uso que a Guarda tem tido, uma vez que ela não tem o poder de fiscalizar a nota de ninguém. Trazer à legalidade é a forma que nós temos para evitar que nas ruas não vejamos essa violência que tem sido feita com os trabalhadores.
Fonte: Jornal do Brasil - 14/09/2008
RIO - Eles chegaram aos poucos, desconfiados até, tateando em busca de desvendar no que daria aquela entrevista reunindo três candidatos à prefeitura dos partidos chamados pequenos. O primeiro foi Vinícius Cordeiro (PTdoB). Ao lado de seu assessor, chegou dez minutos antes da hora e revelou-se chateado com o que considerava cobertura parcial da mídia à sua campanha. Depois veio Eduardo Serra, do PCB. Buscando um pouco de sobriedade, ao contrário de seu estilo despojado, trajava um blazer com o símbolo do partido no peito. Meia hora depois, chegou Filipe Pereira, do PSC, pedindo desculpas pelo atraso. Na última sabatina do Jornal do Brasil com os candidatos a prefeito, entrevistados pelos jornalistas Tales Faria, André Balocco, Pedro Vieira, Rodrigo de Almeida, Marcelo Ambrósio e o diretor comercial do JB, Hélio Nobre, os três revelaram seus projetos para a cidade, falaram das dificuldades de campanha e, ao serem chamados de nanicos, baterem o pé: nem pensar.
Por que serem candidatos se, em tese, não têm chance?
Vinícius Cordeiro: Em primeiro lugar, os partidos no regime presidencialista só conseguem se viabilizar através de candidaturas majoritárias. O PT, na década de 80, lançava candidatos que faziam menos de 1% dos votos. Partindo dessa premissa, nós que não tínhamos uma tradição de lançar nomes, até por falta de quadros que tivessem uma consistência programática, minha corrente, mais ligada a dissidência trabalhista que formou o partido, decidimos lançar a minha candidatura. Foi importante para nós que, dentro do processo eleitoral do Rio de Janeiro, porque eu entendi que o centro da discussão da campanha não tem sido nem estava sendo a cidade. Nós tínhamos que tratar a cidade como protagonista da discussão. Há muita tendência nessa campanha de setorizar as discussões, como se a saúde e a educação tivessem uma interdependência de questões econômicas e sistêmicas. Mesmo tirando a desigualdade que temos diante da mídia e das pesquisas, porque as eleições têm sido, cada vez mais, uma ditadura das pesquisas, entendemos que a campanha organiza as idéias e uma corrente de opinião favorável às nossas teses, na cidade do Rio de Janeiro e evidentemente que eu tenho algumas teses distintas dos outros candidatos. Houve uma tentativa muito grande do senador Marcelo Crivella de nos tirar desse jogo. Acabou escolhendo como vice o filho de um vereador do nosso partido. O Crivella tinha sido quase uma unanimidade na corrente protestante do Rio, hoje somos três.
Eduardo Serra: Meu nome foi lançado pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB). Não foi uma iniciativa minha, mas uma decisão partidária. O nosso partido, hoje, é pequeno, mas muito grande historicamente. Fiquei bastante emocionado no enterro do Fausto Wolff, em que a família pediu que a bandeira do PCB fosse colocada junto ao caixão. Ele sempre foi um lutador das causas democráticas e um jornalista independente. O PCB tem uma grandeza histórica grande e no momento se organizou nacionalmente e quer se colocar no jogo político. Entendemos que as eleições são um momento muito importante da luta política, talvez não o único, porque privilegiamos os movimentos de massa organizados, na luta pela superação da sociedade capitalista, brigando por uma sociedade igualitária, socialista. Entendemos que esse é um momento fundamental, porque podemos mostrar nossas propostas, discutir com a sociedade o que podemos fazer. A gente sabe como a eleição começa, mas não como termina. O Brizola em 82 e um candidato do PT no Sul começaram com as intenções de voto muito baixas e foram eleitos. Mas nossa intenção é mostrar um projeto claro à sociedade, factível e coerente politicamente com viabilidade técnica de ser implementado. Vivemos numa cidade dividida e desigual no sentido geográfico, em que alguns bairros têm todos os serviços enquanto muitos não dispõem de condições dignas de moradia. Uma cidade desigual nos serviços sociais, dominados por empresas privadas como nos casos da saúde, transportes e educação. E na democracia, muito limitada, temos uma Câmara de Vereadores onde a maioria é eleita por empresas privadas ou por pequenos benfeitores locais que distribuem benefícios em troca de votos. Então apresentamos um programa para superação dessa desigualdade e começar a elaborar a construção de um caminho para a superação sistêmica dessas desigualdades e a constituição de uma sociedade justa e igualitária.
Filipe Pereira A grande verdade é que toda campanha parece não ter chance, uma vez que ela não tem dinheiro e principalmente quando não faz parte da máquina de governo. Em cima desse ponto é que acreditamos que a nova alternativa que o PSC tem pode dar certo, uma vez que demonstramos não ser continuidade desses governos que estão em nossa cidade. Seja do Estado ou da prefeitura. Então acredito que mesmo sem estrutura, a possibilidade que temos, até mesmo através da mídia escrita e televisionada, junto com nosso corpo-a-corpo, possamos passar para a população nossas propostas e alternativas, mesmo sem essa possível característica de não ter chance por falta der estrutura. Mas acreditamos que mesmo assim é possível vencer, uma vez que estamos obtendo sucesso e crescimento nas pesquisas frente a outras candidaturas que estão com muito mais bagagem que a nossa.
Qual a divergência de seus partidos com PCdoB e PTB?
Eduardo Serra: Nossa divergência com o PCdoB começa nos anos 60, quando o PCB assume a autocrítica dos desvios do período stalinista e tem uma postura no Brasil, durante o período militar de enfrentamento junto à organização da sociedade civil. O PCdoB manteve a visão stalinista, na época, e depois optou pela luta armada. Agora o PCdoB faz parte da base de sustentação do governo Lula e o PCB faz oposição pela esquerda, principalmente no aspecto econômico, do qual divergimos completamente por entender que é neoliberal, semelhante à política do governo anterior, de Fernando Henrique.
E o PPS?
Eduardo Serra: O PPS foi um grupo que saiu do PCB no início do anos noventa. A legenda ficou conosco. O PCB nunca deixou de existir e garantimos a posse da legenda na Justiça. Houve uma tentativa do grupo que foi para o PPS de vincular a sigla do partido e até o símbolo da foice e martelo no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial). Essa foi uma das maiores tentativas de estelionato político de que tenho notícia, porque a foice e o martelo não pertencem ao PCB, mas à humanidade.
Vinícius Cordeiro: O PTdoB é mais um partido trabalhista, que tentou buscar uma legenda trabalhista alternativa, o que não é novidade no Brasil. O PTdoB se tornou uma dissidência do PDT e do PTB. Sobre o PTB não há o que falar, porque perdeu totalmente a característica trabalhista. Parte do grupo da Ivete não tinha menor ligação histórica com o partido antigo. E o grupo do Roberto Jefferson não é o de mais um partido nacionalista com raízes fortes no movimento sindical. O PTB virou um partido essencialmente parlamentar e palaciano. Conseguiu a proeza de apoiar José Sarney, Collor, Fernando Henrique, Lula e assim será até o dia em que outro partido entrar no poder. Nada temos com essa correlação partidária, mas sim com o antigo MTR.
Por que o PTdoB não se junta ao PDT?
Vinícius Cordeiro: Temos muita proximidade ideológica com o PDT. Inclusive, apoiamos o Jorge Roberto (candidato do PDT a prefeito de Niterói) para governador em 2010 e o PDT no interior, em diversas cidades. O PDT no Estado do Rio é muito complicado, principalmente depois do desaparecimento do Brizola. Tem o Paulo Ramos, que não conseguiu cativar a militância local do partido, que tem uma expressão eleitoral muito maior do que mostram as pesquisas. De outro lado tem o Carlos Lupi no Ministério do Trabalho. Então acho que o PDT ainda vai passar por muitas contradições internas antes de se reencontrar novamente.
Filipe, o que é seu partido e qual a diferença dos demais?
Filipe Pereira: O PSC é um partido que até 2003 tinha uma administração que não era muito incisiva e tampouco abrangente a nível de Brasil, mas após 2003, quando entrou uma nova gestão, o partido despontou com diversas frentes e lideranças participativas, tanto que tem 11 deputados federais, um senador e hoje somos um partido que temos representação considerável, frente a outras agremiações que se consideram mais partidos do que nós, porque têm mais espaço na mídia, apesar de terem apenas três deputados federais. Então acredito que o PSC é um partido sólido e tem como diferencial a política de sempre colocar o ser humano em primeiro lugar. E políticos sérios que representam o trabalhador.
O PSC é tido como uma linha auxiliar do Garotinho...
Filipe Pereira: Não. O PSC, assim como até outros partidos que aqui estão, já foi aliado de governos que passaram pelo Estado. O PSC já se aliou ao Garotinho, mas nessa eleição tem candidatura própria para mostrar que vai a reboque de ninguém. Somos um partido consolidado com quadros próprios.
Quais as dificuldades de fazer uma campanha sem visibilidade e dinheiro?
Vinícius Cordeiro: Eu sou um dos candidatos que menos arrecadou e menos gastou, mas temos uma grande dificuldade em colocar na campanha uma boa produção de TV. Na rádio, o que conseguimos foi um jingle e produzir um programa próprio. Para deslocamento e militância, dependemos dos companheiros de partido. Mas nos falta estrutura. Você anda pela cidade e não vê placa minha, basicamente meu nome está associado com o dos candidatos a vereador, quando você encontra. Esse tipo de eleição de outdoor, sem showmício, sem brinde, foi benéfico para nós, pois em caso contrário, teríamos mais dificuldades. Estamos caminhando, nos organizamos em alguns segmentos que elegemos. Eu chamo de guerrilha eleitoral, porque não adianta tentar alcançar todos, pois não dá. Tentamos sensibilizar alguns segmentos. Inclusive tenho uma crítica a fazer à mídia. Evidente que a cobertura tende a ser mais efetiva com os candidatos que se colocam melhor nas pesquisas, mas fizemos um debate importantíssimo e não vimos a mídia dando cobertura. Em compensação, a mídia destacou candidato dando tapinha nas costas de velhinhos. A mídia tem que repensar um pouco o tratamento da informação, que tinha que ser em cima dos problemas da cidade, porque a mídia tem um papel social muito importante. Não que seja obrigada a acompanhar os candidatos, mas as grandes discussões da cidade não têm sido tratadas. Tenho dificuldade em passar a minha mensagem, que é centrar no desenvolvimento econômico do Rio. Quando falo sobre educação e saúde, não consigo passar que não vai dar para mexer nestes setores porque não há recursos para fazer posto médico ou creches. Não está havendo debate de verdade. Sou obrigado a ouvir o Molon (candidato do PT) falando que a campanha dele é pobre. Peraí: PT é pobre desde quando? A mídia tinha que mostrar as contradições, pois parece que todos os candidatos são muito iguais entre si. Não estou gostando de ficar nessa geléia.
Eduardo Serra: Também temos pouco dinheiro. Nossa campanha é muito simples, do ponto de vista material: concentramos no programa de TV, na mídia, através de entrevistas...temos algum material impresso. Ao nosso favor contam alguns fatores. Primeiro, o peso da legenda, que tem história e conteúdo. Segundo, as propostas que fazemos. Nosso objetivo é claro. Estamos no campo socialista e queremos superar o capitalismo, usando toda a experiência histórica acumulada de forma crítica. Fazemos a absorção crítica das experiências do socialismo real. Admiramos os governos da Venezuela e Bolívia, mas temos um caminho próprio, brasileiro. O próprio fato de participarmos de eleições mostra que nós não apoiamos a luta armada. Fazemos a campanha com propostas viáveis para a cidade, não estamos no campo do imaginário, mas da política concreta e objetiva. Outro elemento que contamos é a militância. Somos um partido ideológico com militância preparada. É comum que algumas pessoas peçam dinheiro para panfletar e ajudar na campanha, mas nós, não só não temos os recursos para pagar, como somos um partido ideológico. Então a militância presente faz a diferença. Entretanto, faço coro com o Vinícius. Houve um debate em que saiu uma foto minha na primeira página, mas na matéria eu não disse nada. É um tratamento desigual que pode ser compensado nos debates. É claro que a cobertura depende também do tamanho do partido, mas a divulgação da agenda, por exemplo, é importante para que o eleitor saiba, ao menos, onde se dirigir para ter contato com o candidato.
Filipe Pereira: Estrutura nos falta. A parte financeira tem sido uma dificuldade, porque sabemos que política se faz no corpo-a-corpo quando a gente precisa difundir nossa imagem na cidade. O espaço que a mídia tem nos dado tem sido positivo. Mesmo sem uma placa na rua, há lugares em que chego e as pessoas me reconhecem, sabem que sou candidato a prefeito, sabem meu nome. Por mais que nos falte essa estrutura de rua, a distribuição da nossa imagem através da mídia tem sido positiva. A falta de estrutura é um problema, mas a divulgação da imagem através da mídia tem dado um retorno positivo e esperamos nesse final de campanha que recebamos mais ajuda para colocar nosso nome na rua, para que as pessoas falem mais de nosso nome. Quanto à mídia, já aconteceu de esquecerem de mim na cobertura de um debate, por exemplo. Mas não quero fazer reclamações, porque acredito que o espaço esteja sendo bem dividido, até porque se temos no horário eleitoral gratuito, a divisão por tamanho do partido, então a imprensa também pode ter. Minha crítica não é sobre a mídia. Nós, por exemplo, não temos recebido convites para ir a alguns debates.
Vinícius Cordeiro Eu queria dizer que tenho saudade da Lei Falcão (ministro da Justiça na Ditadura). Não da época, mas da lei. Foi ela que permitiu o Brizola partir de 3% para 32%, porque era igual. O privilégio era o debate. Essa história que temos hoje de tamanho de bancada, não é assim na Europa. Estamos importando um modelo igual ao do México. Não posso dizer que essa legislação é ótima. Ela tem que ser revista. Diminuir o espaço de propaganda na TV para menos de três meses, privilegia o marketing e não o debate. Ficamos todos parecidos.
É possível passar a mensagem nesse pequeno espaço?
Vinícius Cordeiro Quem tem menos tempo aqui é o Eduardo, não é?
Eduardo Serra: Concordo com o Vinícius. Os jornalistas, inclusive, têm nos falado isso, que nossas propostas eram muito parecidas. Temos que olhar a trajetória do candidato. As propostas não são parecidas. Nós, por exemplo, falamos claramente da estatização de ônibus, do conselho popular.
Vinícius Cordeiro: Eu defendo o fim das empresas de táxi, por exemplo.
Eduardo Serra: Em cinquenta segundos, com um programa centrado nas propostas-chave, dá para passar uma visão clara do que se pretende fazer.
O senhor acha justa a legislação que dá cinco minutos para um e 50 segundos para outro?
Eduardo Serra: Acho que a legislação é injusta em vários itens, principalmente no financiamento da campanha que, ao meu ver, deveria ser público. Não dá para restringir a formação e a vida dos partidos, como querem fazer, artificializando o processo, reduzindo os partidos, infelizmente por iniciativa do PT, um partido que começou pequeno e agora se volta contra os demais de menor porte. Não se pode impedir que partidos se criem, o que é um elemento de renovação da vida democrática do país. Sobre a divisão do tempo, entendo que deva haver maior proporcionalidade, mas que se aumente o tempo mínimo.
Filipe Pereira: O que temos reparado é que, geralmente, no tempo a mais destes partidos tem, eles colocam musiquinha para tocar. Aproveitam o tempo para fazer marketing do seu jingle, marketing visual, porque proposta eles não colocam. O que fico mais abismado é que falam tanto de uma candidatura jovem, que me falta experiência, mas as minhas idéias estão sendo copiadas por outro candidato que estão na frente.
Por exemplo...
Filipe Pereira: O projeto de Segurança Cidadã. O primeiro que abraçou a segurança pública em âmbito municipal fui eu. Falam de segurança como se fossem os pioneiros nessa cidade. Outro exemplo é o Banco de Habitação, idéia nossa copiada pela Solange Amaral. A partir da venda da Cidade da Música e com o dinheiro, criaremos um banco para investir na habitação. A questão da segurança é o companheiro Fernando Gabeira que tem colocado, falando da questão da segurança, sendo que nós fomos os primeiros. Acho que a população tem o direito de saber, verdadeiramente, quem são os donos das idéias.
Quais seus principais projetos?
Filipe Pereira: Esses dois projetos são pioneiros. O Segurança Cidadã vem de forma a valorizar o ser humano em todos os sentidos. Podemos dar segurança ao município dando estrutura ao cidadão. E essa estrutura se dá com boa educação, condição de vida, transporte de qualidade, trânsito ordenado, ordenamento do solo urbano, tanto a nível habitacional como a nível de trânsito, a segurança em centros habitacionais e comerciais da nossa cidade, porque é um absurdo. Temos aqui, no Rio Comprido, uma praça onde não há um guarda municipal. Há diversas áreas da cidade sem guardas que façam rondas para garantir o patrimônio público. A GM tem um papel importantíssimo para garantir a segurança preventiva do bem público e das nossas ruas. Por isso esse projeto vem ao encontro dessa necessidade que estamos vendo na rua, que é garantir a segurança do cidadão. Quando a prefeitura fica omissa nesse processo, quem atua é o poder paralelo. Por isso sempre falo que a prefeitura não vai fazer papel repressivo e nem de policiamento ostensivo. Nós acreditamos que, quando a prefeitura cumprir seu papel e aplicar políticas públicas na cidade, o poder paralelo vai ser esvaziado. Assim, acabaremos ou diminuiremos o maior problema da cidade, a segurança pública. O Banco de Habitação, outro projeto de nossa autoria, vem ao encontro do déficit habitacional da cidade e ao constante crescimento irregular das nossas comunidades e favelas do Rio. Então, esse banco dará possibilidade para que todo morador de baixa renda tenha acesso ao financiamento da casa própria, num local onde a prefeitura, em convênio com a Cedae, Estado e Ministério das Cidades, levará infra-estrutura, não só de saneamento, mas de educação, saúde, para que o cidadão possa ter dignidade e qualidade de vida. Na saúde, é investido R$ 0,60 por cada cidadão, enquanto na Argentina esse se equivale a R$ 2,50. Ou seja, um valor irrisório. Se temos poucos recursos, temos que aplicar onde a população precisa, garantir o atendimento nas emergências, garantir que os Programas de Saúde da Família (PSF) tenham médico e, principalmente, que cada centro tenha ambulâncias.
Eduardo Serra: Primeiro quero falar de uma afirmação do Filipe, que concordo, de que os partidos que têm mais tempo de TV usam esse tempo de forma superficial e com pouco conteúdo político. Uma tendência geral dos grandes partidos é de minimizar a carga política, colocar propostas pontuais dissociadas de uma visão sistêmica. Isso significa uma despolitização da política. Sobre as principais propostas, primeiro é o ordenamento do processo de desenvolvimento, voltado para constituição da igualdade, com um plano diretor que diga claramente que serão priorizados investimentos nas áreas menos favorecidas, nos bairros onde não há infra-estrutura urbana. Segundo, a retomada do papel do Estado. Nós queremos a saúde pública estatal, queremos a educação em tempo integral no ensino fundamental, com a universalidade do acesso ao sistema público, ficando as escolas privadas complementares ao sistema. Queremos operar com o Estado para aumentar a oferta de ensino médio. Queremos o transporte público de massa, por isso estatizaremos as linhas de ônibus, pois o poder dessas empresas é muito grande e elas impedem que o transporte de massa se desenvolva no Rio. Uma proposta técnica que temos, coerente com o transporte de massa, é a do veículo leve sobre trilhos (VLT), consagrado no mundo, porque é mais barato e não tem de fazer escavação, desapropriar. É muito mais barato de construir, pode ser feito até com verba do Banco Mundial, que disponibiliza recursos para infra-estrutura de cidades. Teremos um estado presente na área da cultura e temos propostas específicas de instituição de distritos culturais, em que cada bairro terá uma oferta mínima de equipamentos públicos, permanentes e de alta qualidade. Nada contra as lonas, mas elas são temporárias e precárias. É sempre bom lembrar que há áreas do Rio em que não há teatros. No Complexo do Alemão, por exemplo, e isso tem a ver com a violência. No eixo da democracia teremos conselhos populares, um modelo que outros países vizinhos estão fazendo. No primeiro ano de governo vou combater a miséria, construindo abrigos e criando o emprego emergencial para recuperar o patrimônio da cidade. E isso vai ser financiado com recursos que estão sendo usados de maneira indevida. Vamos terminar a Cidade da Música, porque não terminar é pior ainda, mas ela vai para uso da população e não só da Orquestra Sinfônica. Com a retomada do papel do Estado vamos dinamizar a economia, que é uma visão Keynesiana associada à presença forte do Estado, no governo que não vai ser socialista, mas socializante.
Vinícius Cordeiro: Acho que a maior parte do que tem sido destacado é a visão dos sintomas e consequências, e não das causas. Não acredito na força do Estado para resolver problemas de segurança pública, nem a curto, nem a médio prazo. Parte dos problemas que o Rio está passando começou quando a cidade deixou de ser capital. A reforma tributária é uma necessidade imperativa numa futura administração. O Rio está quase perdendo a possibilidade de ser centro mundial de resseguro no país, porque a Câmara e o prefeito não priorizaram o possibilidade de se modificar a alíquota de 5% para 2% no ISS, em que todas as operações de resseguros do país seriam realizadas e arrecadadas aqui. Várias empresas de prestação de serviço, mais de R$ 550 milhões de arrecadação, estão sendo perdidas para Saquarema e Rio Bonito porque não há uma legislação que atraia investimentos. Toda a cidade do interior tem uma política de atração de investimento, de empresa, de utilização de espaços ociosos. Há um grande número de espaços ociosos no Estado. Há propostas de reforma tributária, de adoção de regimento de captação de recursos privados. Há propostas de estabelecimento de políticas permanentes, de transformar o Rio no centro do turismo. Turismo é uma atividade que tem grande potencial de empregabilidade, cada turista tem a capacidade de gerar quatro empregos. A maior vocação da cidade ainda não foi discutida direito, ainda mais que se fala em Copa do Mundo. Estamos esperando três grandes elefantes brancos na cidade: o Hotel Meridien, o Trocadeiro e o Nacional, e a cidade quase perdendo a oportunidade de sediar a Olimpíada. Na verdade já perdeu, praticamente. É importante que se diga isso porque só tem 24 mil leitos e pede-se 40 mil. Então qual é a política de investimento de incentivo da prefeitura para que se estabeleça uma rede hoteleira permanente e extensa, de melhor qualidade? Acredito que a partir daí recolocamos o Rio num círculo virtuoso de desenvolvimento, podendo fazer políticas sociais mais permanentes e duradouras. Hoje só se fala em projetos e não em programas permanentes. Em relação à gestão tenho uma proposta um tanto radical, que é a de 20% dos cargos comissionados, um redesenho das estruturas administrativas das subprefeituras, porque o Cesar Maia cedeu à politicagem, não se tem critério compreensível nessa divisão da administração direta. Também sou a favor da volta dos conselhos populares, o fortalecimento dos conselhos municipais como instrumentos planificadores de gestão. O Plano Diretor também, mas acho que ele tem que ser revisto e cumprido para que a gente possa ter possibilidade de sucesso na gestão. Em relação à segurança, a prefeitura não pode ser omissa. Há muito tempo venho preconizando, na forma do artigo 57 da Constituição Federal, o estabelecimento da Guarda Municipal armada, como em São Paulo. É legal e perfeitamente cabível. É lógico que haverá concurso público e eles serão treinados para isso, mas não entendo mais como a GM pode realizar seu papel na cidade, não estando armada. Porém, rejeito a possibilidade de existir uma polícia municipal.
Qual a diferença dela estar armada?
Vinícius Cordeiro: Quando você vai defender uma unidade de conservação ambiental como várias no Rio, como a GM vai coibir grilagem e invasão sem estar armada? O cemitério do Pechincha é sistematicamente saqueado. As escolas municipais, cemitérios, instalações públicas. Lá no Alemão, um depósito da Secretaria Municipal de Educação foi saqueado em frente das câmeras, ante a complacência da própria PM. Eu rechaço também essa cúpula, tanto a do governo Cabral como a do Garotinho. Essa polícia, para mim, deveria ser trocada como foi no Estado do Amazonas.
E os senhores também acham que a GM deve ser armada?
Filipe Pereira: Acredito que a GM deve ter armas não-letais, uma vez que seu papel é estar mais próxima do cidadão inocente do que fazendo o policiamento ostensivo. Discordando da idéia do Vinícius, quando falamos de uma invasão ou uma grilagem em terrenos que a Guarda está ali para garantir a proteção e preservação, por isso estamos propondo através do nosso programa de Segurança Cidadã, que a GM esteja interligada, numa central de comunicação do município, com a PM, para que a gente tenha uma parceria intensa e um contato direto e quando necessite realmente, aí sim a PM, que é a quem cabe o combate ao crime. Não concordo com o armamento da GM. Não hoje, na situação em que estamos.
Eduardo Serra: Na questão da segurança, defendemos a idéia de que ela depende de fatores estruturais como a qualidade de vida, a presença do Estado nas comunidades, o emprego. No enfrentamento, do ponto de vista da polícia, temos algumas propostas. A primeira é que se mude o conceito de enfrentamento ao crime organizado, porque somente predomina o confronto militar. Temos a idéia de substituir o confronto pelo enfrentamento policial, com investigação, de trabalhar com o governo do Estado para unificar a polícia. Queremos uma Polícia Civil uniformizada, com plano de carreira, com corpo investigativo à paisana. Temos a visão da polícia comunitária, em que cada bairro teria um conselho de segurança e cidadania, para com apoio da polícia e da justiça, poder então empreender ações de prevenção e solução de pequenos conflitos, de proteção à população e informação. Com isso melhorar bastante a segurança em cada local. Quanto a Guarda Municipal, nós defendemos que ela permaneça não-armada. Ela foi criada para reprimir o trabalho informal nas ruas e esse papel nós não concordamos com ele, porque queremos uma Guarda Municipal que dê segurança a população e que dê proteção ao patrimônio público. Queremos ela integrada com os outros setores da segurança.
E o que se faz com os camelôs?
Eduardo Serra: Duas coisas. Primeiro combater na origem o desemprego, aumentando a geração de empregos na cidade e também com a regularização do trabalho. Entendemos que o camelô é um trabalhador informal, deve ser regularizado e disciplinado no exercício do seu trabalho.
Mas ali a Guarda é necessária?
Eduardo Serra: Sim, mas não como ela faz hoje, porque ela vai para reprimir e ela tem que ir para ajudar a organizar e disciplinar. Tem que colocar espaços reservados para isso e regularizar o trabalho deles.
Fazendo ele pagar imposto?
Eduardo Serra: De uma forma simples: registrar os trabalhadores informais, com um pagamento mínimo, de uma taxa quase simbólica, mas que eles possam ser respeitados no exercício do seu trabalho.
Vinícius Cordeiro: No momento em que você tem grande desenvolvimento econômico e empregabilidade. Eu defendo as frentes de trabalho públicas, eu abracei como parte do meu programa de campanha o Cidade Cidadã. A proposta da frente é interessante, mas parte da camelotagem pode ser revertida para a economia formal, vou dar um exemplo, o sujeito faz shiatsu na praia de Copacabana, o que impede dele ser formalizado? A turma da Barra da Tijuca, da água de coco também. Eles não incomodam ninguém. Agora, não dá para deixar uma barraquinha vendendo cd pirata ou que vende proibidão na esquina. Tem que haver repressão, mas questiono o método ou a forma como é feita essa repressão. Um sujeito que tem sua mercadoria apreendida, não pode levar um tapa na orelha e nem ver sua mercadoria apreendida sem ter seu direito legal de mostrar a origem dessa mercadoria. Conheço algumas injustiças dessas. Não podemos criminalizar ou marginalizar o trabalhador informal, mas tem que existir repressão em alguns casos.
Filipe Pereira: Primeiro a gente tem que entender por que existe o camelô. Existe pela necessidade que o trabalhador tem, uma vez que ele se encontra desempregado, sem alternativa, sem capacitação profissional, ou alguns capacitados, mas deslocados do trabalho. Essa é uma situação de abandono que os governos têm adotado. Tem aumentado cada vez mais o desemprego, então precisamos, primeiramente conter isso. Segurar esse número de desemprego que está sendo desenfreado. Precisamos de políticas públicas sérias que possam incentivar a capacitação de toda a população da nossa cidade, seja do jovem, do adolescente, seja do adulto, seja do idoso. E com essa política esperamos reduzir o desemprego e automaticamente com os nossos camelôs, trazê-los a legalidade, trazendo novos espaços como foi feito na Uruguaiana e nós precisamos guiar novos espaços e trazê-los ao cadastramento e a regularidade, porque muitas vezes vemos na rua mercadoria sem nota fiscal, muitos camelôs. Uma vez me deparei com um senhor com as notas fiscais na mão, verídicas que tinha me falado que tinham levado a mercadoria dele e nem sequer viram a nota fiscal. Ele trabalhava dignamente, mas teve sua mercadoria tomada por esse mal uso que a Guarda tem tido, uma vez que ela não tem o poder de fiscalizar a nota de ninguém. Trazer à legalidade é a forma que nós temos para evitar que nas ruas não vejamos essa violência que tem sido feita com os trabalhadores.
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