terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

COLÓGICAMENTE CORRETO

Ô moço oce me adescurpe, a disgraça que causei, foi por pura angonorança
Ao preparar minha roça, sem consciência de nada, eu comecei a matança
Matei cobra, capivara, guará e onça pintada, inté uriçu caxero
Na mira da cartuchera, eu tinha o dedo ligêro, caçava inté o dia intêro

Derrubei a mata virge, no corte de meu machado, fiz muita arvre tombá
Cajazeira, pinho, cedro, parmito e gabiroba, mogno e araçá
Angico branco, angico preto, Angelim e araticum, buriti e araribá
Embaúba, Garapeira, paineira e guarantã, figueira e Jatobá

Tamem derrubei arguns, que Deus do céu me perdoe, eu nem gosto de alembrá
Ipê branco, ipê roxo, também ipê amarelo, pau rosa e jacarandá
Mutambo e castanheira, moço quanta besteira, Aroeira e tapiá
Sibipiruna, tamboril, quanto mato que sumiu, sapuva e Jequitibá

Com o tempo o matu morreu, foi isso que assucedeu, e eu nem gosto de contá
Os bichu tamém sumiram, foi uma tristeza danada, dá vontade de chorá
Sumiu tatu, saracura, curuja, porco do mato, jaguatirica e gambá
Sumiu canário da terra, curió e tico-tico, azulão e o sabiá

A Perdiz e a juriti, inhambu e jabuti, ficô difíci de encontrá
A gralha e o passo preto, a andorinha imigrante, não mais se ouviu cantá
O papa capim e a patativa, parece um tempo distante, já nem se ouve falá
Eu vô pará por aqui, o seis vão me adescurpá, se não começu chorá

Certo dia, no entanto, passou por aqui um moço, dos bão pra orintá
Ele ensinô que a floresta, e o prantio da roça, consegue se acombiná
Que os bichu da criação, tamém merecem vivê, e num precisa acabá
Com isso eu aprindi, que mesmo sendo matuto, eu posso cooperá

Hoje a terra combina com uma mata reserva, e tem muitos bichu por lá
Até o riacho dos fundos que andava meio imundo, já conseguiu miorá
Porque o moço sabido, dotô formado na escola, me ajudou aprumá
Do nada nois construiu, um tar de biodigestôr, pra água do córgu alimpá

Agora que eu tô aqui, falanu préssa ardiência, e não me farta certeza
E ocê que é bem estudado, não se faça de arrogado, deve ter bem mais clareza
Se o caipira entendeu, que a criação toda é boa, e inverteu a proeza
Ocê que é bem mais sabido, educado e instruído, preserve então a natureza. Sô


Hoje se tem disponive, todo o recurso do mundo, procê podê recicrá
Tem inté uns barde de cor, pro lixu ocê podê por, sem precisá misturá
E é facin de intender, quarqué menino da escola, consegue adecorá
É mais fáci que aprendê, a tabuada de dois, e inté o BÊABA

O azul é pro paper, o verde é para o vidro, é bem fáci de alembrá
O amarelo é pro metar, o laranja é pra bateria, do rádio e do celular
O vermei é para o prástico, sacola e garrafa pet, borracha e câmara de ar
E o marron é lixo orgânico, que serve pra muita coisa e pode inté adubá

Deus quando criou o mundo, Ele num largô de quarqué jeito, e sempre ficou por perto
Ajudano a humanidade, mostrano o que era errado, ensinano o que é certo
É Ele mesmo é quem diz que homem é bem mais feliz, com a natureza por perto
Então seu moço, entendeu? Que a natureza é uma bença, e preservar é o certo?

Não deixe então se esquecer, que é possível viver, cológicamente correto.


Wellington Oliveira – Um poeta mineiro em Maringá - 08/01/2009

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