Há muitos anos sonhei com um país mais justo e solidário. Morei mais de uma década nas favelas do Rio fazendo o que acreditava. Agora, apesar de não estar muito satisfeito com o que tenho visto na política brasileira, não pude deixar de querer ir à posse do Lula, afinal tinha bons motivos. O primeiro é que fui militante, filiado do PT, e eleitor do Lula desde sempre, apesar dos pesares. O segundo é minha presença em Brasília para visitar minha filha mais velha. Assim sendo me determinei que seria o que faria, iria de qualquer maneira, como milhares de outros cidadãos naquela posse, apesar da chuva e do desanimo da família de minha filha. Peguei uma carona com a mãe da minha filha que estava indo trabalhar e fiquei no senado, indo a pé até o gramado do congresso nacional. Esperei junto com o público que ali estava, por mais de uma hora na chuva, sabendo que o povo já aguardava há horas. Quando finalmente o Lula apareceu, comecei a fotografá-lo com a câmera de meu celular. No momento em que percebi que ele ia pegar o carro para o desfile, fui para perto do alambrado, junto ao espelho d'agua e me posicionei. O jornalismo está no meu sangue e me apaixonei na faculdade por fotografia. Apesar de não ter um equipamento, sabia que aquele momento era único e que precisava registrá-lo. Estava empolgado como nunca. Havia inclusive passado um e-mail para o presidente no dia anterior dizendo-lhe o que esperava de seu governo. De repente aquele momento, o Lula passando, menos de dez metros, todos se empurrando, máquinas fotográficas e celulares apostos e um click. A foto me orgulhou. Foi um click que entrou para história. Registrei aquele momento e outra coisa inusitada aconteceu, pois em 36 anos morando no Rio, nunca tive minha carteira furtada. Interessante é que da última vez que estive em Brasília, um amigo, ex-militante do PT, brincando, me disse: cuidado para um deputado não roubar sua carteira aí em Brasília. De fato era uma brincadeira, mas não imaginei que naquele momento a preocupação de alguém que estivesse ali seria com algo tão efêmero, como qualquer poucos reais que pudesse conseguir com minha carteira, afinal, se tivesse muito dinheiro, provavelmente não estaria ali... Fato consumado, ainda tentei inutilmente procurar entre o público que já ia embora, a carteira jogada no chão, na esperança que a pessoa que me furtou percebesse que não tinha nada de interessante para ela ali. Ainda fiquei por uns dez minutos andando e acabei percebendo que tantas outras pessoas haviam sido furtadas também. Comecei então uma peregrinação. Perguntei para vários policiais onde ficava o "achados e perdidos", bem como um local ali para registrar a queixa, pois em um evento desse porte é normal que se tenha algo parecido. Fui sendo encaminhado pelos PMs para o local onde se encontrava o comando da Polícia, perto do Palácio do Planalto. Ao chegar e relatar o fato para um capitão da PM, o mesmo me informou que deveria de fato ter um posto da Policia Civil para registro no local, mas que nada havia sido mandado para lá e que, portanto, eu deveria me dirigir à segunda DP na Asa Norte. Pareceu-me um descaso óbvio do governo local para com o evento da posse do presidente. Comecei a andar decepcionado com minha perca e com a organização do evento, pois o que aconteceu comigo não havia sido um fato isolado! Andei até a rodoviária, perto do conjunto nacional, onde fui informado haver um posto da polícia civil. O posto estava com a porta de vidro fechada e com um aviso para que "batesse no vidro". Foi o que fiz, quando vi um policial falando ao telefone, que fez um sinal para que eu entrasse já apontando para a cadeira, indicando que aguardasse sentado. Esperei pacientemente o policial terminar seu telefonema e expliquei-lhe a ocorrência. O policial fez um registro de extravio de documentos. Perguntei a ele sobre o numero da ocorrência, apontando para um numero que estava escrito no papel e ele me falou ser o numero da matrícula dele e que não tinha numero. Achei estranho, pois o que acontecia ali não era o padrão normal de conduta e o pior é que o policial, parecendo meio estressado, afirmou ser o único policial de plantão naquele dia. Ao me levantar perguntei se estava tudo certo, pois no registro dizia: COMUNICAÇÃO DE EXTRAVIO mas eu havia sido furtado! Quando saía do posto chegavam mais três pessoas. Um casal que também queria registrar um furto e um senhor alcoolizado, que imediatamente foi colocado à força para dentro do posto, em um local que desconheço, nos fundos. Fiquei estarrecido e quando o policial voltou fui logo questionado se eu queria mais alguma coisa? De ante de tamanha truculência, obviamente que não ia ficar ali para questionar nada. E assim segue o nosso país com descasos das autoridades, com cidadãos desrespeitados, com imagem de nossos governantes manchadas pela corrupção e com instituições que não funcionam. Com crime e poder caminhando lado a lado. Assim é o Brasil. Essa foi minha experiência na posse do Lula. Esse foi meu começo de ano em Brasília e espero sinceramente que dias melhores venham para todos nós que ainda sonhamos com um mundo melhor!
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