sábado, 22 de novembro de 2008

NO OLHO DO FURACÃO

O que houve? O que aconteceu? Perguntava Roseli, minha esposa, ao me olhar com o celular ainda no ouvido e pálido. O Marcio morreu! O Marcio morreu! Não parava de repetir em voz baixa sem saber o que pensar ou falar. Ao telefone, acabara de falar com Élcio Braga, do jornal O DIA, que sempre me ligava com informações de primeira mão. Como foi? O que houve? Continuava perguntando Roseli, sem que pudesse conseguir parar de repetir a frase: O Marcio morreu! De repente os telefones, tanto de casa como o celular, começaram a tocar. Jornais e TVs de todo o país ligando por saberem de minha relação com o Marcio e com o Santa Marta, apesar de meu distanciamento já há mais de um ano.

Não sabia o que dizer! Não tinha o que dizer e nem tampouco poderia me manifestar, afinal, Marcio tinha sido morto dentro de Bangu III, presídio onde o visitei por inúmeras vezes. A situação era bem delicada. Cada minuto parecia não ter fim, e os telefones não paravam de tocar. Resolvi desligá-los e só deixar o número de celular de minha esposa ligado, e passá-lo só para o pessoal da imprensa em quem mais confiava. Falei com Carla Rocha, e logo após com Jan Theophilo, ambos de O GLOBO. Jan passou no apartamento onde morava, perto do Morro da Mangueira, para falar comigo pessoalmente. Marina Amaral da revista CAROS AMIGOS, me ligou e disse: "Alguém tem que defender o Caco!" Não acreditava que o Marcio tivesse morrido por conta do livro como estavam tentando dizer, porém, por não saber o que estava acontecendo, disse: não posso dar declarações no momento Marina, e sei que o Caco vai entender, pois estou aqui no olho do furacão.

Confesso que aquela noite parecia interminável! Havíamos acabado de receber meses antes um dos maiores presentes de nossas vidas, nossa filha Kauanne, que nascera no mês de maio. Todas as favelas, e até mesmo o pessoal do sistema penitenciário sabiam onde morávamos! Não sabíamos o que tinha acontecido de fato com o Marcio, e quais os motivos que levaram a executá-lo em Bangu, por isso temíamos por nossa vida naquele momento. Confiava acima de tudo em Deus, como sempre fiz, principalmente nos momentos de perigo, não poucos, que vivi durante mais de uma década nas favelas do Rio.

3 comentários:

Anônimo disse...

Não sei o que vc deseja quando reacende essa chama....Agora Inês é morta, literalmente..........

Anônimo disse...

Não sei o que desejas, realmente, ao acender essa chama...Agora Inês é morta, literalmente....

Anônimo disse...

A Inês não é morta. Muito ao contrário. Está mais viva do que muitos supõem. Relatos como o seu, André, nos trazem de volta um momento em que todo mundo sabia exatamente o que acontecia. O confronto era claro. E agora? Quando bagunçou, vc sentiu, soube, entendeu. E agora? Alguém sabe o que está acontecendo?

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