quarta-feira, 2 de maio de 2007

OUTRO DIA DO TRABALHADOR


Ontem, o que aconteceu de mais interessante, e que quase ninguém ficou sabendo, foi a manifestação na vila dos jogos Pan-Americanos. Como um ativista social, fui para lá através da FLP-Frente de Luta Popular, uma das diversas organizações que estavam presentes. Porém dessa feita, não fui para atuar como ativista, fui para ser um observador, para poder relatar aqui com o máximo de isenção o que aconteceu. Sei que é uma tarefa um tanto quanto difícil, pois sou parte de tudo aquilo que estava acontecendo, já que estão falando de remoção, que é uma palavra que já deveria ter sido erradicada do dicionário de quem vive na favela. Ao chegarmos à vila do Pan, fiquei sabendo que a Força Nacional de Segurança estava naquele local "tomando conta". Tomando conta de que? Para quem? Contra quem? Depois fui tomar conhecimento da situação que acontecia ali, e fiquei sabendo que a vila do PAN está sendo construída com recursos do FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador. Então me veio a pergunta: mas não são recursos para o amparo ao trabalhador? Como assim, sendo utilizado para construção de prédios que estão sendo vendidos, onde dificilmente pessoas pobres que estavam morando ali anteriormente, e que foram removidas, terão acesso? Não vi ninguém da imprensa no local durante todo o evento, que no final contava com mais de mil manifestantes. Se eu estivesse trabalhando na grande midía e tivesse liberdade de expressão, coisa difícil de acontecer, a chamada para minha matéria seria: RECURSOS DO FAT SÃO UTILIZADOS PARA EMPREENDIMENTO IMOBILIARIO. E o pior foi ver a tal Força Nacional guardando um local onde os apartamentos estão sendo vendidos, como se guardassem o patrimônio dos ricos que têm medo de uma possível invasão dos pobres que moram ao redor. Aliás, invasão é uma palavra que é muito utilizada pela grande mídia, mas o que tenho visto acontecer são ocupações, e não invasões. Prédio público que não cumpre com sua função social, e que está abandonado há anos deve mesmo ser ocupado. Ou o povo vai ficar sem ter onde morar, e os governos vão deixar esses prédios abandonados sem uma função social? Após esse evento, que foi pacífico e muito bem organizado, fui para a Lapa, onde aconteceria um ato-show encabeçado pelos partidos de esquerda. Fiquei lá até quase o fim. Reencontrei e conversei com muitas pessoas, entre elas, parlamentares, ativistas e militantes, dancei, e ouví vários discursos. O que percebi na Lapa foi uma disputa de microfone, e bandeiras partidárias. As pessoas que estavam lá eram as mesmas de sempre, e poucas que estavam lá para o show, estiveram pela manhã na manifestação mais importante que aconteceu no dia de ontem. Talvez porque ainda não tenham sido afetadas pela falta de moradia, ou pela possibilidade de uma remoção. Será que teremos que esperar sentirmos na pele para partir para as manifestações? Até quando nossa sociedade ficará insensível para tantas coisas que acontecem ao nosso redor, e ainda permitindo sermos manipulados pela mídia?



Fotos: Talys Mota





2 comentários:

Eliane Martins disse...

A mídia não se restringe mais a páginas de jornais, mas se estende por blogs onde a liberdade de expressão nos faz ficar atentos ao que verdadeiramente acontece. Parabéns pela reportagem!

Unknown disse...

Um evento com aproximadamente 1000 manifestantes? E qual era mesmo o motivo de tal manifestação? Ah, sim...Houve uma remoção de favelas no local em que foi construída a vila. E quem se importa com isso diante de um evento muito maior que são os jogos pan-americanos? A grande mídia, como disse o André, realmente não se importa mesmo. Como cobrir um fato negativo (e muito sério) como esse se é a mídia quem está mais ganhando com o Pan? Não podemos esquecer dos patrocínios... E o povo, como sempre, paga muito caro. E não me refiro apenas aos moradores daquela região que perderam suas casas e sabe lá Deus onde vão morar. Me refiro também aos trabalhadores (que belo presente para um 1º de maio, heim Lula?), que nem têm conhecimento da transferência desse fundo para essa construção e muito menos sabem em quê isso poderá prejudicá-los. E o que é pior, na minha opinião: o direito à informação ser negado ou o que eu gosto de chamar "enquadrado" pela imprensa, ou seja, sob "um único olhar" de quem transmite a notícia de acordo com seus interesses. Taí um exemplo. Todos os dias lemos, ouvimos e assistimos informações sobre o Pan. E por que logo essa não foi coberta?
Alessandra Santiago

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