No fim do ano passado, estive em Maringá por alguns dias. O objetivo era falar com o ocupadíssimo reitor da minha universidade, e depois visitar minha filha que mora no Paraná. Nos poucos dias que fiquei na cidade, fui descoberto por um esperto jornalista do jornal O DIÁRIO DO NORTE DO PARANÁ. Ele me entrevistou e antes que eu seguisse minha jornada, a matéria já estava nas bancas de jornal de Maringá. Elton Hubner havia feito jornalismo também no CESUMAR. Depois, nos encontramos já nesse ano, quando novamente estive na cidade e ele se preparava para viajar para o Canadá. Hubner acabou de me enviar um texto de Vancouver, onde ele se encontra, que vou publicar aqui com maior prazer.
Os jogos do Rio e de Vancouver
Costumam dizer que Vancouver lembra um pouco o Rio de Janeiro, com suas praias ao lado do centro da cidade, lindas paisagens da natureza exuberante, povo sossegado, muitos turistas e vida noturna agitada. Mas não é só isso que me faz, aqui em Vancouver, lembrar o Rio.
Mais de 2 mil pessoas moram nas ruas da cidade. Considerando que isto aqui é o Canadá e que, além de rico e relativamente pouco habitado, é um lugar realmente frio, o número de sem-tetos é alarmante. E não é só o de sem-tetos.
Vancouver também tem uma das maiores concentrações de viciados em drogas do Canadá. Isso não é baseado em fontes, mas uma constatação de quem, quando vai ao trabalho de manhã, costuma ver pessoas injetando heroína e fumando craque ao longo de quadras e quadras, até que as pessoas vão mudando e, com a mesma naturalidade, já carregam copos de café e jornais em vez de seringas, cigarros, "pedrinhas" e isqueiros.
Atraídos pelo clima mais ameno da última grande cidade antes da fronteira com os Estados Unidos, muitos mendigos e viciados param em Vancouver e, geralmente, se instalam na parte leste do centro da cidade, a chamada 'Downtown Eastside', bem onde eu moro. Aqui, conseguem drogas com facilidade e convivem com muitos companheiros nas ruas, onde é bem mais fácil de sobreviver do que se estivessem em lugares mais gelados como Toronto, que tem temperaturas entre os 20 e 30oC durante o inverno. Ninguém quer dormir na rua sem saber se vai acordar ou virar pedra até a manhã seguinte.
Limpeza pros jogos
Enquanto os Jogos Panamericanos chegam ao Rio de Janeiro, os habitantes de Vancouver ouvem falar cada vez mais dos próximos Jogos Olímpicos de Inverno, que serão realizados aqui em 2010. Como esconder os morros da cidade litorânea? O que fazer com as comunidades das favelas? Como assegurar a segurança dos visitantes durante os jogos? O que fazer pra fingir que o Estado é onipresente num país em que, sabemos, o povo só pode mesmo contar com a sorte e fé em Deus?
Aqui no norte, perguntas pouco diferentes começam a se espalhar como cochichos e tendem a aumentar com manchetes de jornais, passeatas e ações de grupos comunitários organizados. Resumindo, todas as perguntas têm origem numa resumida assim: Como o governo canadense está pensando em varrer as ruas do leste de Vancouver até os Jogos em 2010?
O jornal quinzenal do Centro Comunitário Carnegie, localizado no âmago da maior concentração de viciados e sem-teto de Vancouver, contou que, pouco antes das Olimpíadas de Atlanta, em 1996, algumas leis foram criadas pra afastar 'maus elementos' sem que o Estado tivesse que sujar suas mãos com ameaças e chacinas de milícias ou da polícia, por exemplo. Tornando ilegal urinar em público, esmolar agressivamente, deitar em bancos de parques e até circular em estacionamentos sem ter o próprio carro estacionado nele, por exemplo, a prefeitura de Atlanta conseguiu expulsar vários sem-tetos da cidade. Segundo o jornal de Carnegie, um advogado estima que 10 mil sem-tetos tenham sido presos naquela época. Além disso, Atlanta presenteou com passagens de ônibus de ida as pessoas que prometeram não voltar mais à cidade.
Muita gente quer que a história de Vancouver seja bem diferente daquela, e também quer que nunca seja extrema como a crise urbana do Rio. Pelo menos a violência ainda não é a principal preocupação aqui no norte. Nada de arrastões, nada de milícias, nada de bondes e toques de recolher, nada de guerra civil. Ainda assim, a luz no fim do túnel pra essas pessoas pisca a todo instante. Será que dá pra contar com ela acesa?
Elton Hubner tem 26 anos, é jornalista e ilustrador. Já esteve em mais de 30 países e vive em Vancouver, no Canadá.
Para ler mais: www.eltonhubner.blogspot.com
Um comentário:
Muito bem ilustrado o artigo. Cheguei em Vancouver ha duas semanas e a primeira coisa que me chamou atencao foi o numero de homeless people . Sao sem-teto , drogados , transexuais , travestis , prostitutas , loucos , doentes , aleijados que estao sempre ali , com seus carrinhos de super-mercado cambaleando (os que nadam ) pelas esquinas da Vancouver east side. Querendo mais informacoes a respeito ( de preferencia sem teor politico ideologico) achei esse blog. Eh importante ter a consciencia , de que apesar dessas pessoas nao terem a devida assistencia do governo , nao ha a violencia descarada por parte de grupos de exterminio ligados a policia como ocorre em paises subdesenvolvidos , Brasil.
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