quarta-feira, 4 de julho de 2007

OS MORTOS JÁ NÃO DESCANSAM MAIS EM PAZ

Quando comecei meu curso de jornalismo(Maringá-PR), um rapaz da minha sala me perguntou acerca de uma entrevista que eu havia dado na Universidade um ano antes de ingressar na mesma. A entrevista foi concedida aos alunos, na época, do segundo ano. Confesso que fiquei intrigado na hora, pois a entrevista era só para os alunos, que prometeram que só utilizariam para a fins acadêmicos, sem a divulgação da mesma. Pensei: Como esse cara sabe dessa entrevista? O fato é que Willian, apesar de novo, tem o jornalismo na veia. E como diria Caco Barcellos, sem essa de que é jornalismo investigativo, pois todo jornalismo tem que ser investigativo. Hoje estou publicando um texto de Willian Yudi, da minha turma de jornalismo.

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Os mortos já não descansam mais em paz


“Uma disputa entre facções criminosas pelo controle de pontos-de-venda de drogas espalhou pânico na zona norte do Rio de Janeiro, com pelo menos 13 criminosos mortos, 11 presos e três pessoas atingidas por balas perdidas - uma delas dentro de um ônibus. Tiroteios se espalharam por várias ruas do Catumbi e ocorreram, inclusive, em um cemitério, aterrorizaram dezenas de pessoas que velavam seus parentes.” Folha de S. Paulo – 18/04/2007

Às vezes eu acho bom não enxergar o mundo. Deve ser horrível acordar todos os dias e verificar cenas de homicídios e atos terroristas nos jornais. Vivo numa sociedade que dizem ser contemporânea e moderna, porém, considero-a primitiva demais.

Estou a caminho do velório de meu amigo, que morreu ontem, vítima de uma bala perdida, enquanto voltava ao trabalho. Eu só consigo ouvir os gritos da população, que se reprime em meio a tudo isso. Minha cidade está de luto, completamente perdida em suas ações. Vou caminhando em passos lentos, o mundo hoje está escuro demais.

À minha frente sinto que quase ninguém mais anda por aí, sozinho e desprotegido. As crianças já não dão seu colorido às ruas da cidade – medo de seqüestro, proteção dos pais. Sinto cheiro de pólvora no ar, o que me faz crer que uma quadrilha está em plena fuga dos policiais após ter assaltado o banco ali da esquina. Vou andando, não há nada que eu possa fazer.

Penso em como me tornei tão invulnerável em relação a esse caos, estou indefeso e sem mecanismos para reagir. Já não enxergo mais nada. Vou seguindo minha direção, ao passo que um casal discute aos berros na calçada e um canto insuportável de buzinas me faz sentir que o trânsito é o verdadeiro inferno da modernidade.

E, quando finalmente chego ao velório, todos estão aterrorizados, pedindo a Deus por proteção. Até lá os tiroteios haviam chegado. Nem os mortos descansam mais em paz – não conseguem ter a dignidade de serem enterrados de forma justa, diferentemente daquela em que viviam nesse mundo tomado pelo caos. Minha sociedade está em óbito, perdeu seus valores sociais.

É em meio a tudo isso é que eu me considero estar a salvo, livre de presenciar tamanhas opressões e atrocidades. Nasci cego, não tenho visão para enxergar todas essas cenas bárbaras que ocorrem em minha sociedade. Mas eu sinto, sinto que ela está morta e sem coragem de enfrentar tamanha violência. E é por isso que eu digo que o mundo de hoje está de luto, vestindo o preto que se contenta em calar a humanidade.

Um comentário:

Anônimo disse...

Grande André!
Valeu por publicar!
Lembrando que, para mim, todo e qualquer jornalismo, quando bem executado, tem lá seus créditos!
O importante é que, se você já tiver o direcionamento e o gosto, procure sempre ir além!
E você tem jeito pra isso!
Desejo sucesso e parabenizo pelo sucesso que seu blog está fazendo!
Até mais e obrigado mais uma vez!

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