sexta-feira, 7 de novembro de 2008

AQUI JAZ UMA ÉPOCA

*Jan Theóphilo
As eleições municipais do Rio apontaram a Guanabara para um futuro político absolutamente incerto. As urnas sepultaram um estilo de governo representado por um grupo político, o do prefeito César Maia que, curiosamente sai de cena por ter adotado nos dois últimos períodos de governo, práticas que condenou nos discursos da primeira campanha e, justiça seja feita, abominou no primeiro período. Quando assumiu a prefeitura pela primeira vez, há 16 anos, César Maia pautou o seu governo no exemplo de administração de Carlos Lacerda, pra quem governar era essencialmente administrar. Do mesmo modo como Lacerda, César Maia recriou administrações regionais, para sufocar as lideranças políticas tradicionais. Solange Amaral, Eduardo Paes, Índio da Costa, AlexandreCerruti entre outros, são frutos desse modelo. Depois deles, surgiram, no segundo pelotão, Rodrigo Bethlem, Luiz Antônio Guaraná, Wanderley Mariz e Pedro Paulo.

O primeiro governo do César Maia era quase um ministério e não conheceu o clientelismo. 12 Secretários Municipais compunham a estrutura central, que teve nomes como Wanda Engels, Maria Sílvia e Ronaldo Gazola.

A mudança de rota aconteceu em 2000, depois da derrota de César para Garotinho na disputa pelo governo do estado. Aos mais próximos, o alcaide dizia que não fora ele o derrotado, mas um modelo de gestão. Ou seja, perdera a eleição justamente por não ter feito as famosas articulações tradicionais. A partir daí César começa, então, a buscar novas composições com alma clientelista. Começam a brilhar novos nomes na constelação cesarista. Os técnicos começam a perder prestígio para operadores políticos como Eider Dantas, João Pedro, Jorge Mauro. O modelo de governo que começou com 12 secretarias termina com 26 secretarias, entregues ao comando de parentes do prefeito e a políticos sem histórico profissional com as áreas. Essa mudança de comportamento criou um vácuo. César acabou com parte das antigas lideranças regionais, trouxe para o governo os familiares e políticos e mais tarde dispensou alguns dos principais técnicos do Rio. Sobrou um baralho de figuras híbridas, que nunca haviam sido políticas, tampouco quadros técnicos de alta qualidade. E, esse grupo agarrou-se à máquina pública para garantir substância política. Desse vácuo surgiu a Câmara Municipal que Fernando Gabeira identificou durante a campanha de modo interessante: "Lá há uma parte corrupta, outra que trabalha pouquinho e outra de matadores", afirmou o deputado do PV. O resultado das eleições deste ano comprova o esvaziamento de César Maia. Em seu pior momento, quando venceu a duras penas a eleição contra seu ex-pupilo Luiz Paulo Conde, César elegeu cinco vereadores pelo PTB. Em 2004, elegeu 14 pelo PFL. Mas, este ano fez apenas oito dos 12 que prometera eleger. À exceção de Eider Dantas, nenhum dos integrantes da direção dos cesarista se elegeu vereador. Solange perdeu com seu candidato do coração, o tijucano Luiz Humberto, Índio perdeu com Marinho na Zona Sul e Rodrigo Maia perdeu com Gustavo Cintra nacidade toda por exemplo. Nem mesmo seus vereadores ditos distritais conseguiram manter-se na Câmara, casos de Leila do Flamengo, Wanderley Mariz(da Ilha) ou mesmo de seu líder no parlamento carioca, Paulo Cerri, que tem base em Vila Isabel. César claro, já havia previsto o pior e pensou que a melhor alternativa para evitar o esvaziamento seria fazer um herdeiro político. Escolheu seu filho, Rodrigo, para herdar este legado. Seu último governo praticamente se constituiu como plataforma para fazer de Rodrigo um nome de peso no cenário nacional. Quando quatro nomes surgiram como pré-candidatos democratas, César chamou para si a responsabilidade da decisão e surpreendendo a todos, bateu o martelo por Solange Amaral. A única que levaria o plano até o final. Agora, ao que tudo indica, essas lideranças criadas por César têm tudo para desaparecer. E quem vai ocupar esse lugar? Com o vazio político criado pelo modelo cesarista de gestão, surgiu o fenômeno vencedor das eleições cariocas: a vitória dos milicianos apesar da presença das Forças Armadas em seus currais eleitorais .Os matadores, como se vê se elegeram e estão identificados. Resta saber quem, entre os eleitos e reeleitos, está no grupo dos corruptos ou dos que trabalham pouquinho.
*Jornalista

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