quinta-feira, 5 de abril de 2007

SOBRE O ORKUT

Fui convidado para o Orkut por um amigo de minha estima, Mario Fialho, quando tinha acabado de mudar para Maringá, onde morei por quase três anos. Foi muito bom, pois estava me ausentando de minha cidade, e não só pude reencontrar várias pessoas que não via desde há muitos anos, bem como, manter o contato com pessoas do Rio e de outros lugares. Assim indiquei para muitos amigos o Orkut, e hoje utilizo para meu trabalho. Já ouvi muita gente falando sobre o Orkut. Algumas pessoas se acharam invadidas e saíram, outras acreditam mesmo que são famosas pela quantidade de pessoas. Aqui no blog tenho deixado sempre indicações de comunidades para que possamos agregar pessoas em torno de uma idéia ou montar grupos de interesse. Hoje estamos trazendo o texto abaixo escrito por um outro amigo de minha estima, que fala SOBRE O ORKUT. O nome desse amigo é Rafael Huguenin, ele passou em primeiro lugar para o mestrado em Filosofia no IFCS, e na PUC, e pode então escolher onde faria. Escolheu a PUC .
SOBRE O ORKUT
O site de relacionamentos Orkut ilustra de maneira paradigmática uma característica fundamental de nossa sociedade nos dias atuais, a saber, que o ser das pessoas constitui-se pelo seu aparecer social. Isto é, a essências das pessoas, aquilo que as constitui e as distingue como tais, é completamente reduzida a simples manifestações exteriores de suas personalidades. Manifestações, diga-se de passagem, cuidadosamente escolhidas, de modo que a constituição de si mesmo torna-se uma espécie de montagem. Uma espécie de montagem que, obviamente, representará muito mais o que a pessoa gostaria de ser do que o que ela é de fato.Neste sentido, a montagem de um perfil não apresenta diferenças significativas em relação à montagem de um produto comercial qualquer, como na escolha das características de um carro, por exemplo, na qual é possível selecionar o modelo, a cor, os acessórios e demais atributos superficiais, sem, contudo, alterar o fato básico de que se trata de uma simples transação comercial. Em ambos os casos, a diversidade de opções disponíveis, que no fim das contas são sempre limitadas, cria uma ilusão de liberdade confortante. O indivíduo pensa realmente ser livre ao escolher entre opções previamente dadas.O fundamental, pelo menos para o site em questão, é que sua função primordial, ainda que isso muitas vezes fique implícito, é simplesmente possibilitar e multiplicar a visualização social de um indivíduo. A realidade de um indivíduo é dada na medida em que seu aparecer social, o seu perfil cuidadosamente montado, é visualisado. Ser é ser visto. Ser é aparecer. Quanto mais observada e relacionada a pessoa, mais realidade ela possui. Mas devemos evitar condenar o site, ou as pessoas que o usam, pois o que fazem é reproduzir uma condição geral da sociedade atual. Não é isso que vemos a todo tempo? A busca pela celebridade a todo custo, pelos quinze minutos ou mais de fama a que todos tem direito, mesmo que isso implique a falta de sinceridade para consigo próprio, a falsidade para com o seu próprio ser? Não é isso que a mídia, sobretudo a mídia televisiva, nos diz a todo tempo? Fiquem famosos! Sejam reais!

6 comentários:

Anita Deak disse...

Concordo que o orkut é uma vitrine social. Mas se formos falar que ele é ruim pq as pessoas gostam de aparecer e serem reconhecidas, teremos que questionar até mesmos nossos paradigmas psicológicos. Segundo Freud, o ser humano se reconhece através do olhar e do contato com o outro. Sendo o orkut uma rede de relacionamentos sociais, ele é apenas mais um reflexo da própria construção psicológica do homem. Quando bebê, o homem não sabe q é um ser diferente da mãe por exemplo. Ele acha q ele e a mãe são parte da mesma unidade. Qdo cresce, ele se monta a partir do próprio contato físico consigo mesmo e com o outro. É só a partir do diferente que sabemos quem somos. As comunidades do orkut funcionam como próteses e referências q constróem o nosso ego. Questionar uma rede de relacionamentos e referências é questionar o nosso próprio modo de existir. Por isso acho o orkut uma ótima ferramenta: tanto de construção da personalidade quando de visualização da construção social. Só é uma pena q todas as pessoas não tenham acesso a uma ferramenta que pode ser tão útil em vários aspectos!

Anônimo disse...

Legal o blog André, continue com o bom trabalho!

Unknown disse...

O texto que postei, a julgar pelos comentários da nobre colega e do próprio amigo André Fernandes, foi tomado simplesmente como uma espécie de crítica sumária ao site de relacionamentos Orkut. Como a maioria das pesoas que têm acesso a este blog têm provavelmente um perfil no Orkut, como eu próprio tenho o meu, desconfio que as “críticas” foram tomadas como extensivas a quem quer que utilize esta ferramenta. Daí a pressa em defendê-la ou em defender-se. Isso pode ser notado claramente no modo como o próprio André faz a apresentação do texto, como se estivesse de alguma forma se justificando pela utilização da ferramenta, e na criativa resposta da nobre colega Aninha, que recorre até mesmo a Freud.

No entanto, afirmar que eu disse “que ele é ruim pq as pessoas gostam de aparecer e serem reconhecidas” constitui uma interpretação extremamente redutora e simplista. Em especial pela utilização do adjetivo “ruim”, que redescreve as posições esboçadas no texto como meros juízos de valor. Mas em momento algum eu disse que “ele é ruim”. E o alvo não era exatamente o Orkut, mas esse febre pela celebridade, pelos quinze minutos de fama, pelo estrelato.

A introdução de argumentos provenientes de Freud, concernentes a nossos “paradigmas psicológicos”, segundo os quais “o ser humano se reconhece através do olhar e do contato com o outro”, me obrigariam, se meu interesse fosse meramente polêmico, a questionar até mesmo estes pressupostos, como têm sido questionados. Seria uma espécie de argumento de autoridade? De qualquer forma, se eu tiver que contra-argumentar agora nos mesmos termos, eu me veria na difícil tarefa de contra-argumentar contra o Freud e contra a nobre colega, tarefa que está além de minhas capacidades e interesses. Mas acho no mínimo problemática a utilização freudiana de “entidades mentais” (que não oferecem crítérios seguros de identidade) mantendo de alguma forma uma relação causal com atos e eventos. Mas isso é outra conversa. De qualquer forma, uma coisa é constituir-se como tal através do outro. Outra coisa, completamente diferente, é multiplicar sistematicamente o seu aparecer social por meio de tecnologias midiáticas, sujeitas a interesses comerciais os mais questionáveis.

O curioso é que escrevi um outro texto, há cerca de um ano e meio atrás, utilizando os mesmos argumentos, sobre o programa Big Brother. Foi divulgado em um pequeno jornal que circula pelo campus do Gragoatá, na UFF. As mesmas pessoas que se apresaram em criticar este texto sobre o Orkut gostaram muito do outro, sobre o Big Brother...

Unknown disse...

Esqueci de terminar meu texto com uma referência a Baudelaire, para quem o "direito de se contradizer" devia figurar na Declaração dos Direitos Humanos... rsrsrs

Eliane Martins disse...

Raphael,

Achei seu texto muito bom e muito atual. O Orkut realmente induz a esse tipo de comportamento, não se limitando a tal. Confesso que tenho contra este instrumento fortes resistências, especialmente no que diz respeito à exposição desnecessária em troca de uma visibilidade suspeita. Quanto às suas demais utilidades, cabe a cada um avaliar.

prof. Rusinelson disse...

O problema com esses "sites" de relacionamento é que as pessoas pensam apenas em se mostrarem para as outras tentando interpretarem "papeis" que não condizem com sua própria realidade e condição de existência. São sempre as melhores fotos tiradas nos lugares mais "descolados", os perfis procuram ser o mais "moderninhos" e na hora de descrever a si mesmos, as pessoas procuram cercar-se dos melhores auto-elogios. O que resta no final e um desfile de vitrines sem conteúdo. O que as pessoas esquecem é que a internet pode ser um instrumento poderoso de reflexão e crítica dessa sociedade de consumo predatório que as mídias tentam (e conseguem) impor às pessoas. Temos um poder de contestar e mudar, mas a maioria se conforma em apenas reproduzir o que já vem pronto e mastigado.
Aos interessados em trocas de idéias acerca dessas e outras bodegas, visitem meu blog: rusinelson.blogspot.com

Compartilhe!