Recebi um telefonema do Caco Barcellos, que leu um trecho do livro ABUSADO antes do lançamento: "Ao chegar ao morro em fevereiro de 1992, o missionário evangélico Kevin Vargas acreditava que a falta de religiosidade empurrava os jovens da favela para o tráfico. Criado numa família de classe média, aos 21 anos, acabara de prestar o serviço militar na Academia dos Fuzileiros Navais. Influenciado pelo avô, militar aposentado, pretendia seguir carreira de pára-quedista e atuar nos grupos especializados em missões de selva. Por três anos levou a sério os treinamentos de guerra, chegou a se especializar em tiro de alta precisão e sonhava em um dia usar seus conhecimentos bélicos para guerrear em defesa do país ou de uma causa. A vida monótona da caserna o decepcionou. Influenciado pelos amigos da JOCUM, a entidade evangélica Jovens Com Uma Missão, Kevin descobriu que a carreira militar o isolava da realidade representava distanciamento das questões sociais do Brasil." (Trecho do livro ABUSADO, Caco Barcellos, Ed. RECORD, pág. 212). Ele leu um pouco mais do que isso e me perguntou o que eu achava. Como o que ele estava retratando era um personagem, não quis fazer alterações, como por exemplo, o fato de meu avô, apesar de parecer, não ter sido militar, e sim ferroviário da RFFSA. Depois ele me disse que queria fazer um agradecimento, e me perguntou como queria que me colocasse. Pensei no que sempre fiz, ou seja, meu trabalho missionário, mas também fui mais longe do que o trabalho meramente religioso. Falei para o Caco que nos EUA, por exemplo, pessoas que fazem o que faço são chamados de "social workers", e que o termo mais correto seria ATIVISTA SOCIAL. Por isso, Caco colocou esse termo para me designar. Hoje percebo que o Brasil precisa de muitos ATIVISTAS SOCIAIS. Que muito mais pessoas precisam se envolver. Porém tenho visto a dificuldade que essas pessoas têm de se envolverem, apesar da grande vontade, pois normalmente quem trabalha no chamado terceiro setor, tem que trabalhar em uma instituição, onde o dinheiro que é doado fica na "burrocracia", reduzindo assim o salário dos ATIVISTAS. Tive a oportunidade de aprender com a JOCUM, que não paga seus missionários, a entender que se você quer ajudar um trabalho sério, é muito melhor quando pode se envolver diretamente com quem está fazendo. Assim tenho até hoje pessoas que me mantêm financeiramente para fazer esse trabalho de ATIVISMO SOCIAL, e bom seria se todos os ativistas sociais tivessem essa oportunidade. Resolvi escrever esse texto justamente para abrir uma porta, e uma nova idéia para que as pessoas que têm o capital necessário para realizar mudanças, e que não podem fazer por estarem envolvidas em trabalhos que não permitem sua ausência, que procurem ATIVISTAS SOCIAIS sérios. ATIVISTAS que trabalham como os verdadeiros missionários, mesmo não religiosos, e que estejam acreditando e trabalhando para um mundo melhor. Para reunir esses que estão na luta, criei uma comunidade no ORKUT, que já conta com quase cem ATIVISTAS SOCIAIS.
Um comentário:
André,
Terminei a leitura do Abusado esses dias. Na realidade o comprei em um dos lançamentos promovidos pelo Caco, há anos, mas acabou ficando na biblioteca. Dias atrás me prometi não comprar nenhum outro livro, até terminar de ler tudo que já adquiri. Foi aí que o Abusado voltou a minha vida.
Além da história em si, o que mais me impressionou foi o relato da sua ação, como missionário. A igreja saindo das quatro paredes, vivendo como gente, e sendo relatada dessa forma. Me emocionei com os trechos escritos sobre sua missão e pensei no árduo trabalho que ali não foi registrado. Compartilhei com meus amigos de ministério sobre a forma tão interessante que o trabalho missionário é relatado em um livro secular: nada de glamour, mas a realidade de um obreiro do campo.
Caro Ativista Social, longe de querer ser óbvia ou piegas, só queria dizer que fiquei muito feliz ao ler um pequeno trecho da sua história, e mais feliz ainda ao poder escrever isso a você.
Grande abraço.
Iana
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