Em agosto de 1995, ainda como membro da JOCUM e responsável pela direção do trabalho no Morro Santa Marta, iniciei paralelamente um trabalho de assessoria de assuntos comunitários da FÁBRICA DE ESPERANÇA em Acari, indo morar no local para melhor conhecer a realidade. O projeto social era ligado à VINDE, ONG presidida pelo Pr. Caio Fabio, um dos fundadores também do VIVA RIO.
Ao ser nomeado secretário especial da secretaria da AEVB – ASSOCIAÇÃO EVANGÉLICA BRASILEIRA – ligada às favelas, testemunhei o projeto de ação social desenvolvido pelos evangélicos, nestas localidades, tomar vulto social. Minha presença como interlocutor entre a realidade das comunidades e a produção de atividades intelectuais – livros, filmes, matérias jornalísticas - começou a ser uma referência constante, por me encontrar numa posição estratégica de diálogo. O fato de morar dentro das favelas e de haver me disponibilizado a desenvolver uma missão de tamanha envergadura resultou, aos poucos, na constituição de uma figura pública que passou a ser citada como “aquele que conhece a realidade das comunidades carentes do Rio” [1] .
Em novembro de 1995, a cidade do Rio de Janeiro se viu tomada por uma onda de seqüestros, que colocou a população nas ruas em sinal de protesto contra a falta de segurança, da qual a população se tornou vítima. O seqüestro do adolescente Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Filho, tomou as páginas policiais cariocas por um longo tempo, gerando uma série de discussões e mobilizações em torno da segurança da cidade e a luta pela paz. [2] [3]
Presenciei neste período o cerco policial à favela de Vigário Geral e demais favelas cariocas, cuja ação truculenta me indignou profundamente. Neste período, participei ativamente na coordenação de vários eventos, como a organização de um ato público envolvendo mais de duas mil pessoas, feito em resposta à desastrosa incursão da Polícia Civil e Militar na favela em busca do cativeiro de Eduardo Eugênio. A ação militar, como era e ainda é de costume, foi capaz de colocar em risco a vida de pessoas inocentes, moradoras da favela. O movimento, que contou com a iniciativa de integrantes da CASA DA PAZ e a presença do sociólogo Caio Ferraz, consistiu ainda na confecção de 50.000 cartazes com a foto de Eduardo Eugênio e um apelo aos moradores das favelas para auxiliarem na sua localização. Tal apelo tinha em mente a certeza de que ele não estava escondido dentro de nenhuma favela, embora a imprensa e a polícia voltassem suas atenções para essas comunidades infringindo-lhes uma série de constrangimentos. Nos cartazes, além da imagem de Eduardo, constava a inscrição “FAVELAS CONTRA A VIOLÊNCIA” e o pedido: Se você vir esse rosto, ligue para estes telefones. Os cartazes traziam impressos os telefones da CASA DA PAZ, da FÁBRICA DE ESPERANÇA e do CENTRO BRASILEIRO DE DEFESA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, incentivando a denúncia anônima e evitando o risco de represálias. Tendo em vista o clima de descontentamento com a polícia, os telefones do Disque-denúncia não foram disponibilizados nos cartazes, tornando o movimento popular o principal instrumento de ação, diálogo e possibilidade de negociação com a comunidade da favela.
A lembrança de massacres em forma de acróstico – as letras iniciais compondo a palavra CHACINA ficou exposta na favela de Vigário Geral, que promoveu no dia 2 de novembro um encontro de entidades de defesa dos direitos humanos, lideranças comunitárias e moradores. Neste período, meu nome associado à campanha RIO DESARME-SE e ao pastor Caio Fábio, seria constantemente citado pela imprensa como um dos mentores e principais atores deste projeto, cujo vulto tomou conta da cidade do Rio de Janeiro. [4] [5]
Em dezembro deste mesmo ano, unimo-nos ao programa de AÇÃO DA CIDADANIA CONTRA A MISÉRIA E PELA VIDA – a CAMPANHA DA FOME liderada pelo sociólogo Herbert de Souza – festejando o recorde de doações para o NATAL SEM FOME. Ainda como coordenador do RIO DESARME-SE, me tornei definitivamente um estrategista em ação social.
Como morador da favela, sofri os mesmos desagravos de espancamento pela polícia – em agosto de 94, quando construía a laje do ambulatório. Convivi durante anos a fio com os dilemas pessoais dos moradores e inúmeras tragédias locais, que envolviam violência, abandono e desrespeito permanente por parte das autoridades. [6]
[1] REIS, Daniel. Evangélicos citados como “o único poder paralelo ao tráfico”. Jornal Convergência. SET/OUT 1995. p. 13.
[2] FILHO, Alaor. Cartazes de Eduardo nas Favelas. Jornal do Brasil, quarta-feira, 1 de novembro de 1995, p. 19.
[3] TEIXEIRA, Fernando. Vigário Geral reza pela paz. Jornal do Brasil, quinta-feira, 2 de novembro de 1995. p. 17.
[4] PAIVA, Gabriel. Viva Rio Organiza Passeata. O Globo, quinta-feira 2 de novembro de 1995. p. 17.
[5] PHILLOT, Aníbal. Agora falta Eduardo. O Globo, quinta-feira, 2 de novembro de 1995. p. 16.
[1] REIS, Daniel. Evangélicos citados como “o único poder paralelo ao tráfico”. Jornal Convergência. SET/OUT 1995. p. 13.
[2] FILHO, Alaor. Cartazes de Eduardo nas Favelas. Jornal do Brasil, quarta-feira, 1 de novembro de 1995, p. 19.
[3] TEIXEIRA, Fernando. Vigário Geral reza pela paz. Jornal do Brasil, quinta-feira, 2 de novembro de 1995. p. 17.
[4] PAIVA, Gabriel. Viva Rio Organiza Passeata. O Globo, quinta-feira 2 de novembro de 1995. p. 17.
[5] PHILLOT, Aníbal. Agora falta Eduardo. O Globo, quinta-feira, 2 de novembro de 1995. p. 16.
[6] PAIVA, Gabriel. Viva Rio organiza passeata. O Globo, quinta-feira, 2 de novembro de 1995. p. 17
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